Pensamento reflexivo e coração aberto

| 14 Mar 2023

“Amemo-nos uns aos outros.” Foto Sharon Mccutcheon / Unsplash

 

Estive, há dias, num seminário cujas palestras refletiam sobre a questão da orientação sexual e identidade de género.

Uma senhora, na fila atrás da minha, levantou a mão para questionar o palestrante acerca da natalidade e procriação – cujo discurso se baseava em estudos factuais sobre as questões propostas.

A senhora mostrava-se incomodada e assustada com a ideia da extinção da espécie, caso a heterossexualidade se dissipasse sociedade abaixo, até ao aniquilamento, imagine-se!

O discurso da mulher estava explicitamente colado ao dos políticos populistas – aqueles que inventam factos orelhudos para alimentar ódios e discriminações, em abono de um lugar de poder.

Disso, nenhum dos presentes na sala duvidou, já todos ouvimos aquilo em algum lugar.

“Se Deus nos fez homem e mulher é para nos unirmos e procriarmos, se a homossexualidade fosse biologicamente natural, Deus tinha feito com que dessa união saíssem filhos.” – Sim, pasmemo-nos. Foram exatamente essas palavras. Questões que já todos pensávamos terem sido ultrapassadas e entendidas, continuam a pairar nas mentes preconceituosas dos tradicionalistas – e atenção que digo tradicionalistas e não conservadores. Esta senhora continua a achar que o sexo é exclusivo para a procriação, e vice-versa – refute-se a ciência mais uma vez. Talvez ela até concorde com a prática da mutilação genital feminina, vá-se lá saber, não há grande distância entre um discurso e outro.

Como resposta, o palestrante falou-lhe publicamente da filosofia da ética e da moral.

O filósofo Steven Gouveia – jovem português já com 12 livros editados e publicados no nosso país – especialista em ética, apresenta-nos, num dos seus livros e fazendo referência a estudos de outros filósofos, a teoria anti-natalista.

Esses estudos mostram-nos que as três principais causas pelas quais as pessoas querem ter filhos, estão bem distantes da ética e da moral humanas.

Motivo 1 – Medo da solidão e da falta de cuidado no final da vida.
Motivo 2 – Perpetuar a linhagem.
Motivo 3 – Para segurar um casamento.

Estes mesmos estudos – consciência nítida, parece-me – revelam-nos que estas causas residem na imoralidade, pois provêm do egoísmo, do orgulho e da vaidade.

– Talvez Deus não esteja nada satisfeito com isto, hein, minha senhora?

Segundo filósofos que se têm debruçado sobre os limites desta questão – apontados no livro de Steven Gouveia – procriar passaria a ter um cariz ético e moral no dia em que a última criança abandonada ou institucionalizada fosse entregue para adoção; ainda assim, os contra-argumentos abraçam violentamente os dogmas máximos das comunidades religiosas.

É a tal questão da primeira pedra, e sempre será.

Amemo-nos uns aos outros.

Não posso deixar de dar uma palavra de congratulação ao nosso Steven Gouveia pelo fantástico trabalho de investigação que tem feito no campo da filosofia da ética. A vida pode até nem ser útil, mas outras duas coisas sempre o serão: o pensamento reflexivo e o coração aberto.

Ana Sofia Brito começou a trabalhar aos 16 anos em teatro e espetáculos de rua; Depois de dois anos na Universidade de Coimbra estudou teatro, teatro físico e circo em Barcelona, Lisboa e Rio de Janeiro, onde actualmente estuda Letras.

Apoie o 7MARGENS e desconte o seu donativo no IRS ou no IRC

Breves

 

Em Lisboa

Servas de N. Sra. de Fátima dinamizam “Conversas JMJ”

O Luiza Andaluz Centro de Conhecimento, ligado á congregação das Servas de Nossa Senhora de Fátima, acolhe na próxima quinta-feira, 30 de março, a primeira de três sessões do ciclo de “Conversas JMJ”. Esta primeira conversa, que decorrerá na Casa de São Mamede, em Lisboa, pelas 21h30, tem como título “Maria – mulheres de hoje” e será dedicada ao papel da mulher na sociedade atual.

Entre o argueiro e a trave

Entre o argueiro e a trave novidade

E o Papa Francisco tem sido muito claro ao dizer-nos que as situações graves não podem ser tratadas de ânimo leve. “Nunca serão suficientes as nossas palavras de arrependimento e consolação para as vítimas de abusos sexuais por parte dos membros da Igreja. (Opinião de Guilherme d’Oliveira Martins).

ONU pede veto da lei contra homossexuais no Uganda, Igreja em silêncio

Prevista pena de morte

ONU pede veto da lei contra homossexuais no Uganda, Igreja em silêncio

Uma nova legislação aprovada pelo Parlamento ugandês esta semana prevê penas de até 20 anos de prisão para quem apoie “atividades homossexuais” e pena de morte caso haja abusos de crianças ou pessoas vulneráveis associados à homossexualidade. O alto-comissário para os Direitos Humanos da ONU, Volker Turk, já pediu ao presidente do país africano que não promulgue esta “nova lei draconiana”, mas os bispos do país, católicos e anglicanos, permanecem em silêncio.

Corpo Nacional de Escutas suspende alegado abusador de menores

Após reunião com Comissão Independente

Corpo Nacional de Escutas suspende alegado abusador de menores

O Corpo Nacional de Escutas (CNE) suspendeu preventivamente um elemento suspeito da prática de abusos sexuais de menores, depois de ter recebido da Comissão Independente (CI) para o Estudo dos Abusos Sexuais contra Crianças na Igreja Católica a informação de sete situações de alegados abusos que não eram do conhecimento da organização. Em comunicado divulgado esta sexta-feira, 24 de março, o CNE adianta que “está atualmente a decorrer o processo interno de averiguação, para decisão em sede de processo disciplinar e outras medidas consideradas pertinentes”.

Agenda

Fale connosco

Autores

 

Pin It on Pinterest

Share This