Perdidos no monte errado

| 6 Jan 2021

Alguns cristãos querem viver ainda no Sinai… estão perdidos no monte errado. Seguem os preceitos e a cultura do Antigo Testamento, mas a lei e os profetas passaram.

“A metáfora do Monte está muito presente nas narrativas sagradas dos povos antigos.” Foto: Abraham – Monte Sinai / Wikimedia Commons

 

A metáfora do Monte está muito presente nas narrativas sagradas dos povos antigos. Os gregos e os romanos tinham o Monte Olimpo, na Tessália, como morada dos deuses. Deus manifestara-se a Moisés no Monte Horeb. Mais tarde deu-lhe as tábuas da lei no Monte Sinai. O templo de Jerusalém estava edificado no monte do Templo. Os samaritanos cultuavam no Monte Gerizim. O Monte das Oliveiras está ligado ao ministério de Jesus. Satanás tentou Jesus do topo de um monte muito alto (segundo o evangelista Mateus). E o Monte Sião representa Jerusalém e todo o Antigo Israel.

Pelo facto de os montes serem lugares elevados, mais perto do céu, sugeriam maior proximidade com Deus. Ainda hoje há quem vá orar para um monte, com esta mesma inspiração; todavia sabemos que Deus está em todo o lugar, nos montes e nos vales. Se não fosse assim as geografias planas, as terras baixas, as ilhas sem elevações ou os mares não inspiravam a oração e a aproximação a Deus.

No Monte Sinai Deus revela-se a Moisés e transmite-lhe a sua Lei para o povo hebreu. Não foram apenas as tábuas de pedra ou os Dez Mandamentos, mas toda a lei moral, cerimonial e civil que haveria de servir de fio-de-prumo aos hebreus nos anos do deserto.

Mas há um monte mais importante para a fé cristã, o Monte da Transfiguração. O texto de Lucas 9:28-36 conta-nos o episódio em que Jesus levou consigo ao monte, Pedro, Tiago e João, com a intenção de passarem um tempo em oração e comunhão com Deus.

A certa altura Jesus transfigurou-se: “E, estando ele orando, transfigurou-se a aparência do seu rosto, e a sua roupa ficou branca e mui resplandecente” (v29). A verdade é que, sempre que oramos, o nosso olhar muda (transfigura-se). A primeira função da oração não é mudar Deus ou as circunstâncias, mas sim mudar-nos a nós mesmos, transfigurar a nossa forma de olhar.

Depois, ficamos a saber que Jesus falava com Moisés e Elias: “E eis que estavam falando com ele dois homens, que eram Moisés e Elias. Os quais apareceram com glória, e falavam da sua morte, a qual havia de cumprir-se em Jerusalém” (v30,31). É interessante observar qual era o tema dessa conversa que se situava acima do tempo e do espaço. Falavam do sacrifício de Cristo predito pelos profetas, que haveria de acontecer dentro de algum tempo, isto é, falavam da centralidade da história da Salvação, ou seja, da sua morte e ressurreição.

Pedro queria ficar ali com Jesus, Moisés e Elias: “E aconteceu que, quando aqueles se apartaram dele, disse Pedro a Jesus: Mestre, bom é que nós estejamos aqui, e façamos três tendas: uma para ti, uma para Moisés, e uma para Elias, não sabendo o que dizia” (v33). Muitas vezes queremos ficar parados no tempo, mas o tempo não pára.

O Pai testemunhou do Filho de dentro da nuvem: “E, dizendo ele isto, veio uma nuvem que os cobriu com a sua sombra; e, entrando eles na nuvem, temeram. E saiu da nuvem uma voz que dizia: Este é o meu amado Filho; a ele ouvi” (v34,35). Há muitas vozes no mundo, mas a voz que importa ouvir é a de Cristo.

A certa altura Moisés e Elias desapareceram e ficou apenas Jesus: “E, tendo soado aquela voz, Jesus foi achado só” (v36). Alguns ainda preferem estar no Sinai com Moisés em vez de estar com Jesus. Estão no monte errado. Alguns cristãos querem viver ainda no Sinai… estão perdidos no monte errado. Seguem os preceitos e a cultura do Antigo Testamento (shofar, kipá, Arca da aliança, menorá, túnicas sacerdotais, fixação obsessiva com Israel, etc.).

A lei e os profetas passaram. A conversa de Jesus com Moisés e Elias no monte foi sobre o sacrifício de Cristo que se haveria de cumprir em Jerusalém: o verdadeiro foco da história da Salvação.

Agora importa aceitar Jesus, viver em Jesus, viver para Jesus, viver por Jesus, viver para fazer a obra de Jesus, ser uma testemunha de Jesus (“ser-me-eis testemunhas”), não de Moisés nem de Elias.

 

José Brissos-Lino é director do mestrado em Ciência das Religiões na Universidade Lusófona e coordenador do Instituto de Cristianismo Contemporâneo.

 

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