Quanto mais lenta mais intensa é a memória. Se a velocidade aumenta, cresce o esquecimento. Os quotidianos são cada vez mais acelerados, daí “a necessidade de reduzir a velocidade da vida diária, refazendo-a”.
Este poderia ser o fundo e o horizonte de um conjunto de três peças audiovisuais, centradas em outros tantos lugares religiosos – as capelas Árvore da Vida e Imaculada, de Braga, e a igreja (reconstruída) de Cedofeita (Porto) – que o artista-investigador Frederico Dinis vai apresentar, de 22 a 30 deste mês de julho, numa escadaria do Seminário Conciliar de Braga, que, por sinal, desembocam no “átrio” da capela Árvore da Vida.
Os trabalhos resultaram de um projeto de pós-doutoramento intitulado “Performativity of the memory of religious places through non-verbal means” [performatividade da memória de espaços religiosos através de meios não verbais”] que o artista desenvolveu no quadro do CITER – Centro de Investigação em Teologia e Estudos da Religião, da Universidade Católica Portuguesa, com acompanhamento dos professores João Duque e Joaquim Félix.
Em todos eles perpassa essa aproximação aos – e vivência dos espaços, numa toada lenta – daí o titulo geral do evento, centrado no neologismo Relentalizar.
As três peças, observa Frederico Dinis, “são representativas de uma abordagem de investigação-criação mais vasta em torno das relações entre a lentidão e os lugares religiosos, explorando os conceitos de ‘abrigo’, ‘humildade’ e ‘fragilidade’, através de permanências, deslocações e ausências em lugares simbólicos, centros de rituais reconfiguradores”.
O projeto desenvolveu-se ao longo de um ano, tendo o “trabalho de campo” resultado de demoradas e densas permanências nos três lugares, cada qual com a sua especificidade, de que resultaram vestígios que o artista traduziu em imagens, sons, palavras-chave. Assim à capela Árvore da Vida associação a ideia de abrigo, deixando-nos “a morosidade da espera e do eco”; à Igreja de Cedofeita a ideia de fragilidade e “a demora na procura e no encontro”; quanto à capela da Imaculada, a ideia foi a humildade e “o vagar que agrega e contém”.
Estas “peças metafóricas de existência concentrada” redundaram num “conjunto de paisagens sonoras e visuais que enfatizam o particular e a identidade de lugares religiosos, procurando gerar interpretações diversas e emoções ambíguas”.
Ao contactar com estas “paisagens sonoras e visuais”, os interessados poderão também fazer a experiência de “relentalizar”, sentar-se, circular e visitar a capela Árvore da Vida. Poderão fazê-lo de 22 a 30 de julho, das 10 às 12 e das 16 às 18.
A data coincide com a semana pré-Jornadas Mundiais da Juventude, em que se prevê que alguns milhares de jovens de diferentes partes do mundo estarão pela Arquidiocese de Braga, mas é aberta a todos os interessados.
Os passos do trabalho desenvolvido por Frederico Dinis, no âmbito do seu pós-doutoramento, tal como outros elementos do seu recheado currículo encontram-se documentados no seu blog.