
Nas áreas maioritariamente cristãs da Birmânia registam-se desde Março confrontos entre grupos armados, militares e a Força de Defesa do Povo. Foto: Direitos reservados.
Os cristãos e as minorias étnicas na Birmânia enfrentam uma opressão crescente desde que a Junta militar derrubou o Governo civil em 1 de Fevereiro e tomou conta do poder. Um relatório da ICC (International Christian Concern), organização não-governamental de monitorização das perseguições religiosas, revela detalhes da perseguição aos cristãos em áreas onde a opressão tem sido a regra, em mais de cinco décadas de governo militar.
O relatório Caught in the Crossfire (Apanhado em fogo cruzado) refere que, nas áreas maioritariamente cristãs de Kachin, Kayah, Chin e Wa, e devido a ataques aéreos e indiscriminados dos militares, milhares de pessoas fugiram das suas casas e refugiaram-se nas igrejas e na selva. Nas mesmas regiões, registam-se desde Março confrontos entre grupos armados, militares e a Força de Defesa do Povo. Em consequência de ambas as situações, o relatório fala em mais de 230 mil deslocados.
Nos últimos meses, na sequência de protestos das populações contra o poder militar, várias igrejas foram invadidas e desocupadas. Grupos de militares cercaram os recintos de igrejas. Há padres e pastores presos e vários civis desarmados, incluindo cristãos, foram mortos, diz o relatório, citado pela UCA News.
“Myanmar enfrenta não só uma crise política mas também uma crise humanitária e económica”, comentou Benedict Rogers, líder da equipa da Solidariedade Cristã Mundial, organização com base no Reino Unido. O mesmo responsável exortou a comunidade internacional a impor um embargo global de armas e sanções específicas para enfraquecer o regime militar.
“A protecção dos muitos grupos étnicos e religiosos minoritários da Birmânia deve ocupar um lugar de destaque na lista de prioridades da comunidade internacional”, diz o relatório.
Os cristãos constituem cerca de seis por cento da população de 54 milhões, enquanto o budismo, que predomina, representa quase 89 por cento. O nacionalismo religioso abrange também partes importantes da população e é uma das razões da discriminação dos cristãos.
A Birmânia está no 18º lugar na lista da Open Doors, entre os países onde os cristãos enfrentam a mais severa perseguição.
154 incidentes violentos na Índia

Também na Índia, um grupo de direitos humanos que monitoriza as atrocidades contra os cristãos no país diz ter confirmado 154 incidentes de violência em 17 estados, só no primeiro semestre deste ano.
Para contrariar esta realidade, o Fórum Cristão Unido (UCF, da sigla em inglês), sediado em Nova Deli, propõe a criação de um novo Ministério de Cooperação, que possa trazer uma melhor compreensão de outras religiões, especialmente entre aqueles que se opõem ao cristianismo.
Num comunicado de imprensa, citado igualmente pela UCA News, o UCF refere 154 incidentes violentos contra cristãos, em toda a Índia, registados pelo número da linha de ajuda gratuita da organização interconfessional que luta pelos direitos dos membros da minoria cristã.
Janeiro foi o pior mês, com 34 episódios; seguem-se Junho (28), Março (27), Abril (26), Fevereiro (21) e Maio (16). Apesar disso, o UCF conseguiu obter a libertação de 84 pessoas e a reabertura de 29 locais de culto.
Os Estados centrais de Chhattisgarh e Jharkhand foram os piores, registando 22 incidentes violentos, seguidos de 19 no Uttar Pradesh e 17 em Karnataka. Houve ainda episódios nos estados de Madhya Pradesh (15), Odisha (12), Maharashtra (9), Tamil Nadu (6), Punjab (6), Bihar (6), Andhra Pradesh (4), Uttarakhand (3), Delhi (3), Haryana (2), Gujarat (2) e Telangana, Bengala Ocidental, Assam e Rajasthan (um cada).
Segundo o relatório Liberdade Religiosa no Mundo, publicado em Abril, a Índia é um dos países onde tem crescido a preocupação com as perseguições das minorias religiosas – no caso, contra cristãos e muçulmanos.
Há oito dias, como o 7MARGENS também noticiou, o padre jesuíta Stan Swamy, acusado de terrorismo pelas autoridades por andar a defender populações indígenas muito pobres, morreu no hospital depois de ter contraído covid na prisão. O Governo nacionalista de Narendra Modi nunca deu ouvidos aos apelos de múltiplas organizações e responsáveis internacionais no sentido da sua libertação, tendo em conta a idade (84 anos, já completados na prisão) e os problemas de saúde de que padecia.