
Mulher num centro de refugiados cristãos instalado num pavihão de desportos em Ankawa (Erbil, Iraque), cuja instalação foi apoiada pela Ajuda à Igreja que Sofre. Foto © ACN-Portugal.
Entra, Senhor, na Guerra,
nas mãos que cuidam, reparam, socorrem, limpam e reconstroem, pois elas são a própria esperança em carne viva.
Entra nos olhos de todos os que empunham armas, dirigem tanques, aviões ou drones e explica-lhes pelas tuas palavras e ações, sempre tão secretas e sábias, que do outro lado estão sempre outros olhos iguais aos seus, que sorriem e choram e que amam e são amados!
Entra, Senhor, na guerra, entra na cabeça de cada comandante que ordena a destruição de edifícios de habitação, escolas, hospitais, teatros e maternidades e traz-lhe ao pensamento as escolas dos seus filhos e netos e os hospitais onde estão os seus pais e irmãos.
Entra no coração carregado de medo de cada criança, para que este medo seja atenuado por mil pequenos gestos e olhares de socorro e cuidado, de modo que o rancor não encontre ramos onde poisar e crescer.
Não fiques de fora da Guerra, Senhor,
Tu que nos proteges na adversidade, tu que és o nosso refúgio e a nossa força. Não nos abandones, Deus de bondade.
Entra, Senhor, na Guerra, nas mentes dos decisores políticos que comandam a guerra e dos que os apoiam, e entra com mais força ainda na mente dos decisores políticos que os podem convencer a fazer a paz.
Trava a nossa língua no momento de escolha das palavras com que comunicamos a revolta e solta-a com graça quando elas semeiem a paz.
Deus da luz, perpassa e transfigura os nossos pensamentos, palavras e ações e dá-nos o alento para a construção da não-violência e da paz.
Traz, Senhor, consolo, fortaleza e coragem a todos os que perdem pais e mães, filhos e irmãos, avós, familiares e amigos, para que a ave da desesperança não faça ninho nas suas cabeças.
Aos que morrem, de um lado e do outro das batalhas, acolhe-os, Senhor com a misericórdia infinita que Te habita e que nós nunca conseguiremos imaginar ou compreender.
Que por mil se multipliquem as mãos que cuidam da sopa, das fraldas, das viagens, dos abrigos e que por dez mil se multiplique a alegria transbordante irradiada por estas mulheres e estes homens e que ela escorra sobre as famílias abatidas e desmembradas, as casas destruídas e a terra queimada.
Meu Deus, a lista já vai longa,
mas tem de ser mesmo assim, uma e outra vez, a todas as horas, pois só Tu conheces os mil e um caminhos para a paz.
Por isso, não posso cansar-me de te pedir que entres na Guerra!
Coloca o exército dos teus anjos a ajudar cada pequeno gesto de cada construtor da paz,
mobiliza a oração de todos os teus santos para fortalecer cada criança ferida,
doente, desorientada, órfã, abandonada, perdida, sem esperança,
chama os teus arcanjos Miguel, Daniel e Rafael para ensinarem os decisores políticos a negociarem a paz,
e faz com que a Tua orquestra de anjos, santos e arcanjos, cante com entusiasmo e alegria o coro da Paz.
E que não se calem, nem façam intervalos!
Que este canto interior seja mais forte que os bombardeamentos.
Que não se calem, pois todos os minutos são importantes para ganhar a paz!

Senhor, eu sei que não queres ganhar a Guerra, mas podes vencê-la. Entra, Senhor, nesta guerra!
Que se faça a Tua vontade, pai de misericórdia, bondade e fidelidade, e não a nossa.
Que se faça a justiça pelos horrendos crimes cometidos em cada hora desta guerra!
Que o perdão possa começar a ser sentido nos corações dos que lutam, depois balbuciado e que finalmente possa ser ouvido, em todos os lugares.
Sem perdão, nunca mais a paz poderá regressar a estas terras tão belas e agora tão escurecidas pelo ódio e pela miséria.
Eu sei, Senhor, a Guerra não é obra tua, mas sem fazeres a tua obra não haverá Paz.
Somos livres, eu sei, e queremos permanecer livres, assim nos criaste. Podemos fazer a guerra e fazer a paz, mas essa liberdade está sedenta da tua luz. Precisamos de aprender contigo, ó Pai bondoso, ensina-nos os mil caminhos da Tua Paz.
Faz germinar em cada um de nós as pequenas sementes da paz.
Obrigado, ó Pai, por estares connosco e nunca nos abandonares!
Atende-nos, ó Pai bondoso, ouve-nos, ó Filho muito amado, inspira-nos a todos, ó Espírito da Alegria Santa, e implora a toda a hora pela paz, ó Senhora Nossa Mãe.
Entra na Guerra, Senhor nosso Deus e nosso Pai, e não nos deixes assitir, acomodados no sofá, aos jogos dos “Senhores da Guerra” e fortalece-nos como senhoras e senhores da paz.
— Eis-me aqui, Senhor!
Joaquim Azevedo é professor da Universidade Católica Portuguesa (Porto) e membro do Conselho Nacional de Educação.