
“O duro não dura, só o doce dura.” Foto © Maria do Carmo Marques Lito
A pandemia é um mal apocalíptico. Continuamos sem saber ao certo de onde veio nem o que é, salvo o reconhecimento elementar que facultou o fabrico em tempo recorde de um expediente imunizador, a ansiada vacina, mas nada de seguro se encontrou que a possa curar. Dos efeitos que provoca, todavia, sabemos quase tudo, a cada momento.
Diariamente são atualizados os números dos novos contágios, desenlaces fatais, internamentos, e das cifras acumuladas de óbitos e contágios. Diariamente somos informados de dados comparativos que nos permitem situar progressões e regressões que nos colocam ora na vanguarda ora na retaguarda de uma espécie de concurso permanente entre municípios, regiões e países de todos os continentes. Intermináveis blocos noticiosos advertem-nos em horário nobre, dos sucessos e insucessos do combate sem fim contra esta maldição, a todas as latitudes.
As metáforas bélicas adjetivam o desafio: fala-se de “uma verdadeira guerra” e recomendam-se militares e governos de salvação nacional para a comandar. As mais bárbaras restrições de direitos fundamentais são adotadas sem revolta nem queixume. A resignação transfigurou-se em virtude cívica e o medo tornou-se imperativo patriótico. O Comandante Supremo das Forças Armadas acumulou com a chefia do Estado a direção-geral da proteção civil para conduzir o país na guerra contra o agressor viral.
De olhos fechados para o passado e o futuro, a política propriamente dita eclipsou-se, aboliu-se o contraditório, diferenças e propostas alternativas diluíram-se ou adiaram-se. Persiste apenas um ameaçador ruído de fundo nas margens do sistema. Direitos inatos – para usar a linguagem dos revolucionários liberais do século XVIII – tais como a liberdade de circular e de conviver, foram praticamente suprimidos por tempo indeterminado. O que se prepara afinal? Estará irremediavelmente perdida a normalidade que conhecíamos mas alguns dizem que não mais voltará?
E pergunta-me o 7MARGENS como vivi a pandemia?
– Com um doloroso aperto de alma e inquieta perplexidade!
Pedro Bacelar de Vasconcelos é deputado pelo Partido Socialista e constitucionalista