
Um careto realizado por Ana Lúcia Fernandes, aluna do 6º ano de Educação Moral e Religiosa Católica no Agrupamento de Escolas Abade de Baçal (Bragança). Foto: Direitos reservados.
Se tivéssemos de escolher uma palavra-chave para esta pandemia, “máscara” seria, sem dúvida, uma das eleitas. Ligada culturalmente ao Carnaval, ela é, hoje, uma presença constante nas nossas vidas.
Há um ano que nos refugiamos sob uma precária segurança, cientes da nossa fragilidade. A máscara esconde-nos o rosto, mas escancara essa fragilidade. Como se mostrasse mais do que esconde.
Uma máscara ancorada em ambos os ouvidos como que a lembrar o quanto precisamos de nos ouvir.
Com os alunos confinados e perante a necessidade de perceber outros ecos que lhes vão na alma (ecos do cansaço, da nostalgia, da presença, da partilha, dos momentos em família) propus-lhes descobrirem as mensagens poderosas de um filme extraordinário – Wonder. Um filme que, com uma sensibilidade extraordinária (fora do comum), nos convida a travar uma batalha contra a indiferença.
Na verdade, ainda que por vezes nos passem despercebidas, mais do que as doenças raras do corpo, somos muitas vezes atingidos por doenças raras do espírito. Aquelas que, desvalorizadas, provocam medos e desconfianças ou são simplesmente ocultadas por máscaras que nem sempre temos a coragem de fazer cair.
Ao longo do enredo, somos também interpelados a pôr em prática preceitos ou princípios morais, que verdadeiramente nos mostram que não é indiferente a forma como escolhemos viver. Por mera intransigência, podemos persistir numa razão que nos cega e faz esquecer o gesto de bondade que devemos a quem nos emite sinais de alerta. Por mero alheamento, talvez não nos demos conta de que os rostos que vemos espelham, na sua profundidade e mistério, os nossos próprios rostos, já que somos feitos da mesma essência humana. Por mera negligência, nem sempre possuímos a lucidez para discernir que a grandeza de cada pessoa não está em ser forte, mas no uso correto da força.
Olhamos ao nosso redor e nem sempre compreendemos que, embora nos cruzemos com rostos que não vemos e com ecos que não ouvimos, há em cada pessoa uma essência verdadeiramente extraordinária. A máscara como mediação, através da qual um Eu olha para o mistério de outro Eu, faz ressoar a verdadeira essência da vida em sociedade: por detrás de cada máscara, há um rosto a ser cuidado mas, ao mesmo tempo, uma grande batalha a ser vencida. E é por causa dessa inquietude e luta interior que “cada pessoa deveria ser aplaudida de pé, pelo menos uma vez na vida”.
Porque precisamos de nos ouvir? Porque temos universalmente esta grande batalha interior a travar: olhar para cada pessoa como alguém verdadeiramente extraordinário, que está acima das circunstâncias, porque tem a capacidade de alcançar o transcendente. Como nos alerta o Papa Francisco, “a indiferença mata!”. Não permitamos que ela também nos cegue para as relações humanas!
Dina Pinto é professora de Educação Moral e Religiosa Católica no Agrupamento de Escolas Abade de Baçal (Bragança).