
“Será que podíamos procurar organizar-nos para tirar mais partido dos espaços verdes?” Foto © Catarina Soares Barbosa
Neste segundo confinamento, já com algum distanciamento de março 2020 e a reviver novamente esta estranha rotina, surgem-me duas pequenas partilhas que partem da minha experiência individual, necessariamente enviesada.
Neste último ano reencontrei o contacto com a natureza, que mais decisivamente se revelou como tendo um efeito calmante em alturas de maior stress. Outros me têm também falado desta sensação. No pós-pandemia, será que podíamos procurar organizar-nos para tirar mais partido dos espaços verdes? Será que isso nos poderia ajudar a cuidar melhor da nossa saúde mental, tão depauperada neste último ano, e a fomentar a recuperação da comunidade e promover o encontro? Não sei bem o que poderia ser feito em concreto. Uma primeira ideia seria tornar esse contacto regular parte integrante dos currículos escolares desde a infância para que se ganhe muito cedo o gosto de estar à vontade na natureza.

Vila do Conde, Agosto 2020-Crianças em casa durante a pandemia-Foto © Catarina Soares Barbosa
Parece-me que entrámos num fingimento coletivo de que os pais podem estar em teletrabalho a tempo inteiro e a cuidar de filhos pequenos fechados em casa e privados das suas rotinas. As opções de recorrer a ajuda de familiares, que quando disponíveis pertencem muitas vezes a grupos de risco, ou sentir-se duplamente em falta, quer com as crianças, quer com o emprego, geram múltiplos problemas.
Entendo que o Estado concentre recursos para apoiar os trabalhadores que não podem realizar teletrabalho e que têm sido os mais penalizados por esta crise, mas não haverá algo que as empresas possam fazer? Será que, pelo menos as empresas de maior dimensão e com maior folga, não poderiam/deveriam ter disponibilizado esquemas de redução de horário de trabalho subsidiados para os trabalhadores com filhos pequenos? Talvez algumas empresas o tenham feito e pudéssemos todos beneficiar da divulgação e discussão pública destas experiências.
Acredito que uma medida deste género poderia ter um impacto significativo quer no bem-estar das crianças quer na produtividade.

Foto © Catarina Soares Barbosa
Lisboa, 10 de fevereiro 2021
Lara Wemans é economista