Ornelas admite que não passou mensagem que pretendia

Presidente Marcelo: “Foi uma desilusão a posição da Conferência Episcopal” sobre o combate aos abusos

e | 9 Mar 2023

Marcelo, entrevista RTP+Público, abusos sexuais

Marcelo num dos momentos da entrevista à RTP e Público: “Quem falhou não foi a Igreja, mas a Conferência Episcopal.” Imagem captada do vídeo da entrevista.

 

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, afirmou nesta quinta-feira à noite que “foi uma desilusão a posição da Conferência Episcopal” Portuguesa (CEP) para reagir ao relatório da Comissão Independente (CI) que estudou os abusos sexuais na Igreja Católica em Portugal.

Em entrevista ao jornal Público e à RTP, o Presidente acrescentou que quem falhou não foi a Igreja, mas a Conferência Episcopal, “porque a Igreja é o povo de Deus como um todo”. Foi a Conferência Episcopal que falhou, insistiu: “Não sei se os bispos todos, porque houve bispos que perceberam, mas quem falou em nome da Conferência Episcopal, a meu ver, foi uma desilusão.”

Marcelo acrescentou que nem sequer falava “como católico”, porque evita fazê-lo. “Eu, como católico, seria mais contundente ainda porque é um problema de credo e de princípios. Mas como Presidente da República, a expectativa que havia era tão simples. Era ser rápido, assumir a responsabilidade, tomar medidas preventivas e aceitar a reparação. E de repente é tudo ao contrário em termos gerais, ou cada um para seu lado! Eu pergunto: mas não houve ali um minuto? Vinte dias de reflexão não chegaram?”

Ainda sobre este tema, o Presidente da República diz que os padres suspeitos de abusos sexuais “é óbvio” que deviam ser suspensos preventivamente e critica a posição da CEP: “Ficou aquém em todos os pontos que eram importantes. Ficou aquém no tempo: demorou 20 dias a reagir numa coisa que era imediata. Depois comunicou que iria continuar a reflectir por mais dois meses. Ficou aquém ao não assumir a responsabilidade. Para mim, é o mais grave, pois se qualquer associação desportiva, cultural, qualquer instituição social, IPSS, Misericórdia responde pelos actos que são individuais e legais e criminais dos seus membros, como é que não responde a Igreja Católica por actos praticados por alguém, que, além de invocar o múnus da fé, é representante de uma Igreja, certificado, legitimado, mandatado para falar sobre uma sua missão pastoral? Como? É incompreensível!”

A CEP ficou ainda aquém por não tomar medidas preventivas e também quanto à reparação. “A Conferência Episcopal passou ao lado destes problemas todos e isso a mim, como Presidente da República, preocupa-me porque a Igreja é uma instituição fundamental na sociedade portuguesa, na educação, na saúde, na unidade social. Faz falta ao país. E se de repente sofre na sua confiabilidade, na sua credibilidade, numa questão tão básica, isso depois repercute-se na vida dos portugueses.”

Como que em resposta, o presidente da CEP assume, em declarações ao Expresso, que não foi feliz na forma como fez a conferência de imprensa de sexta-feira passada. Na entrevista, disponível desde a noite de quinta-feira na página digital do jornal e também esta sexta-feira na edição em papel o bispo José Ornelas diz que compreende “os que sentiram “dececionados” com a comunicação da semana passada, em Fátima: “Compreendo e assumo que não fui feliz. Não correu bem, a comunicação não foi a adequada. Não consegui passar aquilo que levava para dizer.” De resto, assegura que o pagamento dos tratamentos das vítimas serão pagos pela Igreja e que os abusadores terão de ser acompanhados mas em muitos casos a sua reabilitação será difícil.

 

Mais decisões e anúncios

Conferência Episcopal Portuguesa reunida em Fátima: os bispos começa, um a um, a anunciar as suas decisões. Foto © Agência Ecclesia/PR

 

Estas duas entrevistas surgem no final de um dia em que vieram a público mais algumas decisões dobre padres acusados, com o bispo da Guarda, Manuel Felício, a destoar do tom dos restantes bispos que já anunciaram medidas de suspensão preventiva, dizendo que se recusa a afastar o pároco de Figueira de Castelo Rodrigo sem que haja primeiro uma acusação formal da justiça.

Em declarações à SIC, cuja equipa de reportagem recebeu esta quarta-feira, 9 de março, no paço episcopal sem no entanto autorizar a gravação da entrevista, o bispo Manuel Felício reiterou que só admite afastar o padre em causa se o resultado do processo, já a decorrer no Ministério Público, assim o implicar.

O bispo da Guarda mostrou ainda o envelope que recebeu esta semana da CI, no qual constavam dois nomes: o do pároco de Fiqueira de Castelo Rodrigo, acusado de ter abusado de um menor há cerca de 30 anos, quando era orientador espiritual no Seminário do Fundão, e o de um padre de TouraisSeia, que morreu em 1980.

Também em Viseu, o bispo António Luciano Costa recebeu uma lista com cinco nomes de padres, que já eram todos do seu conhecimento “e já tinham sido tratados segundo as normas aplicáveis, quer a nível canónico, quer a nível civil, tendo também sido entregues ao Ministério Público”, de acordo com um comunicado divulgado na página da diocese.

Outras três dioceses (Algarve, Portalegre-Castelo Branco e Santarém) emitiram esta quinta-feira comunicados relativos aos casos de abusos identificados e partilhados pela Comissão Independente.

No caso do Algarve, foi entregue “uma lista com dois nomes”. Um deles “refere-se a um caso de que a diocese do Algarve teve conhecimento em outubro de 2021”, tendo desencadeado “imediatamente a investigação prévia, com informação ao Ministério Público, cujo resultado foi enviado para a Santa Sé, a qual, após a análise do processo, indicou que o mesmo devia ser arquivado”, esclarece o comunicado divulgado pelo gabinete de informação da diocese. Relativamente ao segundo nome, “não corresponde a nenhum sacerdote incardinado na diocese do Algarve, nem se encontra nos arquivos diocesanos alguma referência a seu respeito”, assegura a nota. Face a isto, “o bispo do Algarve já informou a Comissão Independente (Grupo de Investigação Histórica)” e encontra-se “a aguardar uma informação adicional”.

O comunicado desta diocese assinala ainda que o bispo, Manuel Neto Quintas, “convocou todo o clero da diocese para uma assembleia geral destinada a estudar medidas para prevenir a possibilidade de ocorrência de abusos no futuro, quer envolvendo menores, quer adultos vulneráveis, a partir da legislação civil e canónica em vigor”. o objetivo será “alargar esta ação de formação a todos os agentes diocesanos de pastoral”.

Já  a diocese de Portalegre-Castelo Branco divulgou ter recebido da Comissão Independente uma lista com “cinco nomes de casos de abuso sexual ocorridos no território”, referentes a membros do clero, dois dos quais já falecidos, e três não identificados. O comunicado adianta que, “se a identidade de alguma alegada vítima vier a ser conhecida”, a diocese vai “agir em conformidade”.

O bispo Antonino Dias afirma ainda que recentemente foi comunicado “um alegado abuso por parte de um leigo”, ocorrido “numa instituição da Igreja diocesana”, e esclarece que “os respetivos procedimentos estão em curso”.

No caso de Santarém, o bispo José Traquina emitiu um comunicado informando que “não lhe foi entregue nenhum envelope com nomes de padres a investigar por denúncia de abusos”. O texto recorda que a diocese foi criada há apenas 48 anos e que “houve casos referidos a Santarém no relatório da CI que não se enquadravam na geografia e/ou no tempo histórico da diocese, conforme comprovou o investigador”.

Esta quarta-feira, o bispo de Angra, Armando Esteves Domingues, e o arcebispo de Évora, Francisco Senra Coelho, haviam já anunciado o afastamento de funções preventivo dos padres que se encontravam em exercício nas suas dioceses (dois em Angra e um em Évora) e que constam na lista de alegados abusadores entregue pela Comissão Independente.

No mesmo dia, a diocese de Viana do Castelo garantiu que nenhum dos padres envolvidos nos sete casos registados na sua área que constam do relatório da Comissão se encontra no ativo.

Quanto às restantes 13 dioceses, não foram ainda anunciadas quaisquer medidas. O bispo auxiliar de Lisboa, Américo Aguiar, avançou que a comissão diocesana, à qual preside, iria reunir-se esta quinta-feira para receber e analisar a lista de padres acusados e que iria propor nos próximos dias ao cardeal-patriarca as medidas a tomar.

Américo Aguiar, que falava aos jornalistas à margem de uma iniciativa do International Club of Portugal onde foi fazer uma conferência, assegurou que “se a comissão disser que as pessoas A, B e C devem ser afastadas do exercício público do ministério, elas serão”. O bispo escusou-se a comentar declarações do patriarca ou outros bispos sobre casos alegadamente prescritos, mas disse que a dor “não prescreve” e avançou ainda que a comissão diocesana de Lisboa vai ser reestruturada e que ele deixará de ser o seu coordenador.

 

Os silêncios de Pio XII foram uma escolha – e que custos teve essa opção?

“A Lista do Padre Carreira” debate

Os silêncios de Pio XII foram uma escolha – e que custos teve essa opção? novidade

Os silêncios do Papa Pio XII durante aa Segunda Guerra Mundial “foram uma escolha”. E não apenas no que se refere ao extermínio dos judeus: “Ele também não teve discursos críticos sobre a Polónia”, um “país católico que estava a ser dividido pelos alemães, exactamente por estar convencido de que uma tomada de posição pública teria aniquilado a Santa Sé”. A afirmação é do historiador Andrea Riccardi, e surge no contexto da reportagem A Lista do Padre Carreira, que será exibida nesta quarta-feira, 31 de Maio, na TVI, numa parceria entre a estação televisiva e o 7MARGENS.

Apoie o 7MARGENS e desconte o seu donativo no IRS ou no IRC

Breves

 

JMJ realizou em 2022 metade das receitas que tinha orçamentado

A Fundação Jornada Mundial da Juventude (JMJ) Lisboa 2023 obteve no ano passado rendimentos de 4,798 milhões de euros (menos de metade do previsto no seu orçamento) e gastos de 1,083 milhões, do que resultaram 3,714 milhões (que comparam com os 7,758 milhões de resultados orçamentados). A Fundação dispunha, assim, a 31 de dezembro de 2022, de 4,391 milhões de euros de resultados acumulados em três anos de existência.

Debate em Lisboa

Uma conversa JMJ “conectada à vida”

Com o objectivo de “incentivar a reflexão da juventude” sobre “várias problemáticas da actualidade, o Luiza Andaluz Centro de Conhecimento (LA-CC), de Lisboa, promove a terceira sessão das Conversas JMJ, intitulada “Apressadamente conectadas à vida”.

“É o fim da prisão perpétua para os inimputáveis”, e da greve de fome para Ezequiel

Revisão da lei aprovada

“É o fim da prisão perpétua para os inimputáveis”, e da greve de fome para Ezequiel novidade

Há uma nova luz ao fundo da prisão para Ezequiel Ribeiro – que esteve durante 21 dias em greve de fome como protesto pelos seus já 37 anos de detenção – e também para os restantes 203 inimputáveis que, tal como ele, têm visto ser-lhes prolongado o internamento em estabelecimentos prisionais mesmo depois de terminado o cumprimento das penas a que haviam sido condenados. A revisão da lei da saúde mental, aprovada na passada sexta-feira, 26 de maio, põe fim ao que, na prática, resultava em situações de prisão perpétua.

Especialistas mundiais reunidos em Lisboa para debater “violência em nome de Deus”

30 e 31 de maio

Especialistas mundiais reunidos em Lisboa para debater “violência em nome de Deus” novidade

A Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL) acolhe esta terça e quarta-feira, 30 e 31 de maio, o simpósio “Violence in the Name of God: From Apocalyptic Expectations to Violence” (em português, “Violência em Nome de Deus: Das Expectativas Apocalípticas à Violência”), no qual participam alguns dos maiores especialistas mundiais em literatura apocalíptica, história da religião e teologia para discutir a ligação entre as teorias do fim do mundo e a crescente violência alavancada por crenças religiosas.

Agenda

There are no upcoming events.

Fale connosco

Autores

 

Pin It on Pinterest

Share This