Foi um apelo solene, direto e incisivo aquele que o Papa Francisco lançou este domingo, antes da oração do Angelus, ao presidente da Federação Russa: “em nome de Deus e em nome do sentido de humanidade”, pare a guerra e a destruição de vidas e bens, “também por amor ao seu povo”. Ao presidente da Ucrânia pediu que que “esteja aberto a propostas sérias de paz”, considerando o sofrimento dos ucranianos. Perante o risco de escalada depois da anexação das quatro províncias do Donbass, que considerou “contrárias aos princípios do direito internacional”, o Papa considerou urgente que as armas se calem e as negociações se abram: os pontos de partida apontados pelo Pontífice é que podem não assegurar pontes entre os dois estadistas. Pela importância desta declaração, o 7Margens entende facultar o texto integral às pessoas que nos lêem, numa tradução não oficial em português (que não estava disponível este domingo).
“O curso da guerra na Ucrânia tornou-se tão grave, devastador e ameaçador que é motivo de grande preocupação. É por isso que hoje gostaria de lhe dedicar a totalidade da reflexão antes do Angelus. Na verdade, esta terrível e inconcebível ferida da humanidade, em vez de cicatrizar, continua a sangrar cada vez mais, com o risco de se tornar maior.
Afligem-me os rios de sangue e lágrimas derramados nos últimos meses. Estou entristecido com os milhares de vítimas, especialmente crianças, e as inúmeras destruições que deixaram tantas pessoas e famílias sem casa e ameaçam vastos territórios com o frio e a fome. Há ações que nunca poderão ser justificadas! Nunca! É angustiante que o mundo esteja a aprender a geografia da Ucrânia através de nomes como Bucha, Irpin, Mariupol, Izium, Zaporizhia e outras localidades, que se tornaram lugares de sofrimento e medo indescritíveis. E que dizer do facto de a humanidade estar mais uma vez a enfrentar a ameaça atómica? É absurdo.
O que mais é preciso que aconteça? Quanto sangue tem ainda de ser derramado para que entendamos que a guerra nunca é solução, mas apenas destruição? Em nome de Deus e em nome do sentido de humanidade que habita em cada coração, renovo o meu apelo a um cessar-fogo imediato. Que as armas se calem e se busquem as condições para iniciar negociações capazes de conduzir a soluções não impostas pela força, mas consensuais, justas e estáveis. E sê-lo-ão se se basearem no respeito pelo sacrossanto valor da vida humana, bem como pela soberania e integridade territorial de cada país, bem como pelos direitos das minorias e pelas suas legítimas preocupações.
Lamento profundamente a grave situação que se criou nos últimos dias, com novas ações contrárias aos princípios do direito internacional. De fato, aumenta o risco de uma escalada nuclear, a ponto de se temer consequências incontroláveis e catastróficas em todo o mundo.
O meu apelo dirige-se, em primeiro lugar, ao Presidente da Federação Russa, implorando-lhe que pare, também por amor ao seu povo, esta espiral de violência e morte. Por outro lado, entristecido pelo imenso sofrimento da população ucraniana após a agressão sofrida, dirijo um apelo igualmente confiante ao Presidente da Ucrânia para que esteja aberto a propostas sérias de paz.
A todos os protagonistas da vida internacional e aos dirigentes políticos das nações, peço com insistência que façam tudo o que estiver ao seu alcance para pôr fim à guerra em curso, sem se deixarem arrastar por perigosas escaladas, e para promoverem e apoiarem iniciativas de diálogo. Por favor, vamos fazer com que as novas gerações respirem o ar saudável da paz, não o ar poluído da guerra, que é uma loucura!
Após sete meses de hostilidades, usemos todas as ferramentas diplomáticas, incluindo aquelas que não foram usadas até agora, para acabar com esta terrível tragédia. A guerra, em si mesma, é um erro e um horror!
Confiamos na misericórdia de Deus, que pode mudar os corações, e na intercessão materna da Rainha da Paz, no momento em que se faz a Súplica a Nossa Senhora do Rosário de Pompeia, unidos espiritualmente aos fiéis reunidos no seu Santuário e em muitas partes do mundo.”