
Pormenor da fachada do Mosteiro Andronikov, em Moscovo, cujos edifícios albergam o Museu Rublev, sob controlo do Patriarca Cirilo. Foto © Vvoevale.
O Presidente Putin decidiu investir perto de um milhão de euros para reproduzir os ícones russos mais sagrados existentes no Museu Rublev e enviar as cópias para as cidades ucranianas do Donetz e da região de Mariupol com o objetivo de reforçar o cunho religioso que a Igreja Ortodoxa Russa vem desde o início conferindo à guerra de invasão da Ucrânia.
Para o jornalista Vladimir Rozanskij, que assina um artigo na Asia News de dia 6 de junho, o Patriarca Cirilo “venceu a sua guerra com o passado, recuperando para a Igreja o seu papel histórico enquanto líder espiritual do Estado e das suas campanhas, ou ‘operações especiais’, contra todos os inimigos internos e externos”. Nesta fusão de interesses entre o Estado e a Igreja Ortodoxa Russa, Putin oferece a Cirilo um cada vez maior protagonismo em troca do apoio incondicional à invasão da Ucrânia e da “justificação religiosa” para a guerra.
Nesta convergência entre Estado e Igreja Ortodoxa, Cirilo já recebeu do Estado [ver 7MARGENS] o maior símbolo da unidade dos povos russos – o ícone “A Trindade” da autoria do monge Andrei Rublev – exposto desde domingo, dia 4 de junho, na Catedral de Cristo Salvador, em Moscovo. Além disso, escreve Rozanshij, o próprio “Museu Rublev está sob controlo [do Patriarca Cirilo], o que significa que todas as coleções de ícones do país estão agora à disposição do Patriarcado, bem como do Ministério da Defesa, a instituição mais próxima da Igreja Ortodoxa entre todos os órgãos estatais”.
O Museu Rublev está localizado no centro de Moscovo, nos edifícios do Mosteiro Andronikov, onde “o monge Andrei passou os seus anos de formação [no final do século XIV] sob a orientação de São Sérgio de Radonezh, antes de este se ter mudado para o mosteiro fora de Moscovo dedicado à Santíssima Trindade”. Neste Mosteiro da Trindade e São Sérgio, em Sergiyev Posad, a 70 km da capital, “está enterrado o santo que inspirou o renascimento da Rússia e em homenagem ao qual o seu discípulo compôs o famoso ícone ‘Os Três Peregrinos Visitando Abraão’. Foi Estaline quem mandou abrir o museu em 1947, tendo este permanecido desde então até hoje nas mãos do Estado, apesar dos prementes pedidos do Patriarca Cirilo para que regressasse à posse da Igreja”.