Contra a opinião dos especialistas

Putin oferece à Igreja Ortodoxa dois símbolos maiores da unidade russa

| 5 Jun 2023

ícone “A Trindade” de Andrei Rublev. Foto © Galeria TretiakovDomínio público

O ícone mais célebre de todos – pintado por Rublev no século XV – transformou-se ao longo dos séculos no maior símbolo da unidade russa e era a principal atração da Galeria Tretyakov, em Moscovo, onde se encontra há um século. Foto © Galeria Tretyakov/Domínio público.

 

Por decisão do Presidente Putin, duas das peças mais famosas dos museus russos serão entregues com caráter definitivo à Igreja Ortodoxa russa. A doação comporta graves riscos de deterioração de uma delas – o ícone “A Trindade” de Andrei Rublev –, o que levou uma vintena de membros da Academia das Ciências russa a protestar contra tal transferência pelos estragos que a peça possa vir a sofrer.

Estes “altos favores” concedidos por Putin à Igreja Ortodoxa são vistos não apenas como reconhecimento pelo apoio incondicional que dela tem recebido na guerra de invasão da Ucrânia, mas também como uma forma de procurar cimentar a unidade nacional russa através da desestatização dos símbolos mais emblemáticos dessa unidade.

O ícone mais célebre de todos – pintado por Rublev no século XV – transformou-se ao longo dos séculos no maior símbolo da unidade russa e era a principal atração da Galeria Tretyakov, em Moscovo, onde se encontra há um século. Está desde dia 4 de junho na Catedral de Cristo Salvador, perto do Kremlin, de onde sairá para aquele que é conhecido como o “Vaticano russo”, para o qual foi originalmente pintado: o Mosteiro da Trindade e São Sérgio em Sergiyev Posad, a 70 km da capital.

Em 2022, o ícone já tinha sido transferido por um breve período para o mosteiro, onde permaneceu durante as celebrações religiosas da Páscoa ortodoxa. Segundo a Agence France Presse (AFP), vários especialistas de arte disseram que “a peça sofreu danos significativos” aquando desta mudança e Lilia Yevseyeva, historiadora de arte do Museu de Ícones Russos em Moscovo, afirmou agora que, “se o ícone deixar a Galeria Tretyakov para sempre, as gerações futuras não o verão no seu estado atual”.

A outra peça é o não menos famoso túmulo do príncipe Alexander Nevsky – um herói nacional que viveu no século XIII – que se encontra no Museu Hermitage em São Petersburgo e que será entregue a outro mosteiro. A propósito desta transferência, o diretor do museu, Mikhail Piotrovsky, foi perentório: “Neste momento geopolítico (…) o valor sagrado da peça é muito mais importante do que o seu valor artístico”. Ou seja, mais vale que ela cumpra a sua obrigação de unir o povo russo do que garantir a sua conservação.

Ao transferir essas relíquias para a Igreja, o Presidente Putin “quer devolver a Rússia” aos seus mitos fundadores, disse o encarregado da arte sacra do Patriarcado de Moscovo, o arcipreste Leonid Kalinin, à AFP. Kalinin foi destituído das suas funções pelo patriarca Cirilo depois de ter sugerido que uma cópia de “A Trindade” fosse exibida na catedral enquanto fosse construída uma cápsula protetora eficaz.

 

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