
O padre ucraniano Vazyl Khomin no Monte Athos, no Mosteiro Xenofonte, no Monte Athos, Grécia, numa pausa da sua actividade na paróquia onde trabalha na Ucrânia: “É importante que cada pessoa encontre as formas que ressoam com a sua própria espiritualidade.” Foto: Direitos reservados.
A prática da espiritualidade em Igreja é central na vida cristã.
É importante que cada pessoa encontre as formas que ressoam com a sua própria espiritualidade, procure orientação e dedique algum tempo ao estudo e aprofundamento do seu conhecimento e prática no cristianismo.
O livro do Profeta Isaías (59:2) recorda-nos que profanamos Deus quando as nossas acções se interpõem entre nós e Deus. O Profeta Jeremias (2:13) lamenta o abandono da “água viva” quando criamos um espaço vazio e fútil rejeitando a presença da Deus.
A comunhão constante com Deus é enfatizada, no Antigo e Novo Testamento, como importante numa relação pessoal com Deus.
Existem várias formas, na espiritualidade cristã, de exercitar essa comunhão, que São Paulo reconhecia nas diversas crenças de práticas que encontrou nas suas viagens e interacções com comunidades em diversas regiões.
No entanto a unidade cristã, segundo Paulo, é independente das suas origens étnicas ou experiências religiosas anteriores, porque “não há judeu nem grego, escravo livre, homem nem mulher, pois todos são um em Jesus Cristo” (Carta aos Gálatas 3:28); Ou que aquelas razões não podem constituir obstáculo para o amor mútuo entre os seguidores de Jesus.
Quando nos encontramos em comunhão com Deus, devemos respeitar a consciência e a liberdade de cada um em relação às práticas espirituais. Mas também devemos encorajar os outros a respeitarem esta consciência de Deus, em diferentes convicções pessoais e respeito sem julgamento, porque “aquele que come, coma para o Senhor, pois dá Graças a Deus; e aquele que não come, para o Senhor não come e dá graças a Deus” (Carta aos Romanos 14:6).
O mesmo apóstolo Paulo transmite nas suas cartas muitas ideias sobre a prática da vida espiritual, em muitos aspectos da vida cristã.
Paulo diz que a transformação interior é um processo permanente de inconformismo com os padrões e valores do mundo que temos obrigação de transformar; que implica uma renovação pessoal da mente (Romanos 12:2), muito para além de uma mudança externa de comportamento; e que pela Fé podemos assumir uma nova identidade pessoal em Cristo (2ª Carta aos Coríntios 5:17).
O evangelista João partilha com Paulo a centralidade da importância dessa transformação interior, que diz ter de ser sincera e altruísta pela prática do amor (1ª Carta de João 4:7), mas também pelo que conhecemos em Cristo devemos anunciar aos outros, para ficarmos na comunhão com o Senhor (1Jo 1:3). Acrescenta João que não devemos esquecer que para alimentarmos a centelha divina existente em nós, não chega ter confiança em Deus, mas que nos devemos distanciar do fútil e do pecado (1Jo 3:9), como uma capacidade a desenvolver e que nos ajuda e à comunidade, a superar as adversidades da vida (1Jo 5:4).
A prática ascética através do jejum, vigilância e renúncia aos desejos materiais, são práticas como meios de disciplina espiritual, que nos ajudam ao distanciamento do mundo e, que no ritmo da nossa vida, em medidas diferentes, também nos ajudam a reservar uma parte do dia para a oração.
Sou de opinião que a prática da espiritualidade não reside apenas na oração diária e repetida, ainda que seja uma forma reconhecida de contactar Deus, mas que tem de expressar gratidão, procurar orientação e nos trazer conforto espiritual.
O conhecimento na Fé tem de ocupar na nossa vida tempo dedicado ao estudo dos textos sagrados e outros emergentes, sempre com o cuidado de o fazermos com espírito crítico pessoal e confrontando as nossas opiniões com outros cristãos.
Assistimos hoje ao crescimento de um movimento de meditação; diferentes grupos usam métodos semelhantes que relevam o silêncio, a respiração consciente (respiração controlada para relaxar) e reflexão sobre textos a que atribuem espiritualidade.
Estes grupos, com origens diferentes e com uso intensivo das plataformas electrónicas, reúnem muitos cristãos e pessoas de outras religiões, dos quais uma parte não tinha como prática diária a oração nem o estudo assíduo de textos religiosos. Desses grupos, alguns estão a usar gestos e práticas orientais não cristãs, como o esvaziamento da consciência e gestos de veneração e adoração de outras religiões. Talvez possam carrear individualmente uma certa forma de terapia e associar pessoas que as comunidades tradicionais perderam. Pelo silêncio podem obter alguma graça e distanciar-se do mundo material, replicando para outras pessoas. Pode até parecer e é, muito interessante, mas faltam outros elementos da fé cristã e Cristo começa a ficar em desuso. Estão a fazer um caminho do qual não restarão mais do que pegadas vazias sem consequências nas comunidades onde vivem.
O estudo dos textos é fundamental para o conhecimento da fé cristã e não promove apenas uma religião, mas ajuda a compreender melhor os ensinamentos do Senhor.
Outro elemento da prática da espiritualidade é a observância de mandamentos e orientações prescritivas dos comportamentos. Se queremos fortalecer a ligação com Deus, não devemos omiti-los no nosso interesse humano e material.
Por outro lado, o tempo religioso é compassado por festas que devemos conhecer o melhor possível e participar naquelas que cada um entender e puder, separando certos costumes pouco cristãos alimentados por práticas mundanas e que de espiritualidade cristã pouco têm.
Os sacramentos são um meio de graça e comunhão com Deus, concretamente os mais comuns como o Baptismo, Crisma, Eucaristia e Confissão, onde recebemos a presença de Deus nas nossas vidas.
A participação em comunidade é fundamental na vida cristã; quando não ocorre, somos uns cristãos pobres. Podemos enriquecer a nossa vida se vivenciarmos a espiritualidade através dos serviços religiosos, onde a Santa e Divina Liturgia é central, bem como através das actividades comunitárias, do estudo em grupo, das comemorações com outros cristãos, das cerimónias colectivas como casamentos, baptizados e aniversários.
A prática das boas obras, seja pela caridade, pelo serviço voluntário, ou qualquer outro onde exercemos a responsabilidade social, são actos de justiça e aproximação com Deus. Mas não apenas a caridade ocasional com uns excedentes domésticos que queremos eliminar de casa, mas acções que brotem do interior de nós, por mais insignificantes que sejam no seu valor material, mas como um edifício que se constrói com muitos singelos grãos de areia que se associam.
Alberto Teixeira é cristão ortodoxo