Que Igreja? Que bispos? – Duas desgraças e duas oportunidades

| 19 Mar 2023

Bispos. Portugal. Igreja Católica.

Bispos portugueses em Fátima, em 2017, durante a visita do Papa Francisco. António Cabral pede uma nova atitude ao episcopado. Foto © Ricardo Perna/Família Cristã

 

 

Desgraças:

A primeira e maior a desgraçada desgraça de todas as vítimas, de todas as pessoas abusadas e violentadas na sua dignidade. Não há palavras, não é possível imaginar o inimaginável, o horror, o terror, a lama na alma de quem foi magoado e pisado por quem tinha o poder de defender e amparar. Malditos abusadores, predadores, pedófilos e quejandos…

Segunda desgraça – os bispos da Igreja Católica em Portugal. Uma miséria, uma hipocrisia, uma mentira. Como é possível depois de tudo que é público continuar o encobrimento e falar de perdão dos abusadores?

A atitude dos bispos e da Conferência Episcopal no seu conjunto é uma outra violação, uma outra violência, um outro abuso, ainda mais sórdido e absurdo sobre as vítimas. Pobres vítimas abusadas pelos abusadores sexuais e agora abusadas pelos abusadores espirituais – tão hipócritas e maleficentes como os outros. Os senhores não são pastores, são, tão só, servidores do único Pastor que dá vida – Cristo Ressuscitado.

No meio desta miséria humana e espiritual vislumbro duas ténues oportunidades:

O surgimento de um Estado português finalmente laico e livre de todos os poderes eclesiásticos, de concordatas e outras histórias de medo e poder.

Senhores administradores e governantes de Portugal façam esta coisa bem simples – apliquem às igrejas, suas instituições e agentes as leis gerais. Ponham tudo e todos a pagar impostos, a contribuir para o bem comum – mexam nessa coisa que faz mover as hierarquias eclesiásticas e todos os poderes instalados – o dinheiro. O Estado ganha e os impostos que vierem da Igreja e seus membros podem e devem ser canalizados para as vítimas a fim de minorar a desgraça que lhe foi imposta e silenciada dentro da instituição.

Esta é uma matéria particularmente difícil para os estados e para as igrejas, mas é o caminho mais limpo, mais evangélico e mais justo para todos. Uma Igreja mais pobre, mais ligeira e peregrina será muito mais sinal dos tempos e dos lugares novos e mais próxima de todos os caminhantes.

A segunda oportunidade, talvez última, é ainda para a Igreja: por favor torne-se evangélica, servidora, caminhante do Reino de Deus.

É urgente abandonar o clericalismo, a misoginia, o patriarcado, o poder machista… uma Igreja povo de Deus com mulheres e homens lado a lado, com casadas e casados a receber o sacramento da ordem e a governar paróquias e dioceses até chegarmos à possibilidade de um dia termos em Roma uma “papisa”.

Quanta conversão, quanta mudança, quanta vontade de recomeçar?

Todos sabemos que muita da teologia oficial é apenas expressão de poder e exercício académico de dogmas e normas.  Todavia, Cristo é o Caminho, a Verdade e a Vida – é Nele e com Ele que a humanidade é convidada a caminhar. Sem isso tudo é vão, opressão e pesadelo.

Pois bem, por último, um sonho:

na vigésima quinta hora, os bispos portugueses partiram todos, acompanhados por todos os padres abusadores e pedófilos e rumaram a um qualquer paraíso terreno. Foram de férias prolongadas e a nossa esperança é que tardem em voltar… e por fim os que regressam sejam verdadeiros discípulos de Jesus Cristo e servidores do seu Evangelho e do povo que caminha na fé, na esperança e na caridade… assim o esperamos em Deus, Salvador da Humanidade.

 

António Cabral foi missionário católico em Moçambique; licenciado em Teologia pela Universidade Católica, fez pós-graduação em Espiritualidade na Vida Consagrada, em Madrid. Deixou o ministério de padre em 2005.

 

Os silêncios de Pio XII foram uma escolha – e que custos teve essa opção?

“A Lista do Padre Carreira” debate

Os silêncios de Pio XII foram uma escolha – e que custos teve essa opção? novidade

Os silêncios do Papa Pio XII durante aa Segunda Guerra Mundial “foram uma escolha”. E não apenas no que se refere ao extermínio dos judeus: “Ele também não teve discursos críticos sobre a Polónia”, um “país católico que estava a ser dividido pelos alemães, exactamente por estar convencido de que uma tomada de posição pública teria aniquilado a Santa Sé”. A afirmação é do historiador Andrea Riccardi, e surge no contexto da reportagem A Lista do Padre Carreira, que será exibida nesta quarta-feira, 31 de Maio, na TVI, numa parceria entre a estação televisiva e o 7MARGENS.

Apoie o 7MARGENS e desconte o seu donativo no IRS ou no IRC

Breves

 

JMJ realizou em 2022 metade das receitas que tinha orçamentado

A Fundação Jornada Mundial da Juventude (JMJ) Lisboa 2023 obteve no ano passado rendimentos de 4,798 milhões de euros (menos de metade do previsto no seu orçamento) e gastos de 1,083 milhões, do que resultaram 3,714 milhões (que comparam com os 7,758 milhões de resultados orçamentados). A Fundação dispunha, assim, a 31 de dezembro de 2022, de 4,391 milhões de euros de resultados acumulados em três anos de existência.

Debate em Lisboa

Uma conversa JMJ “conectada à vida”

Com o objectivo de “incentivar a reflexão da juventude” sobre “várias problemáticas da actualidade, o Luiza Andaluz Centro de Conhecimento (LA-CC), de Lisboa, promove a terceira sessão das Conversas JMJ, intitulada “Apressadamente conectadas à vida”.

“É o fim da prisão perpétua para os inimputáveis”, e da greve de fome para Ezequiel

Revisão da lei aprovada

“É o fim da prisão perpétua para os inimputáveis”, e da greve de fome para Ezequiel novidade

Há uma nova luz ao fundo da prisão para Ezequiel Ribeiro – que esteve durante 21 dias em greve de fome como protesto pelos seus já 37 anos de detenção – e também para os restantes 203 inimputáveis que, tal como ele, têm visto ser-lhes prolongado o internamento em estabelecimentos prisionais mesmo depois de terminado o cumprimento das penas a que haviam sido condenados. A revisão da lei da saúde mental, aprovada na passada sexta-feira, 26 de maio, põe fim ao que, na prática, resultava em situações de prisão perpétua.

Especialistas mundiais reunidos em Lisboa para debater “violência em nome de Deus”

30 e 31 de maio

Especialistas mundiais reunidos em Lisboa para debater “violência em nome de Deus” novidade

A Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL) acolhe esta terça e quarta-feira, 30 e 31 de maio, o simpósio “Violence in the Name of God: From Apocalyptic Expectations to Violence” (em português, “Violência em Nome de Deus: Das Expectativas Apocalípticas à Violência”), no qual participam alguns dos maiores especialistas mundiais em literatura apocalíptica, história da religião e teologia para discutir a ligação entre as teorias do fim do mundo e a crescente violência alavancada por crenças religiosas.

Agenda

There are no upcoming events.

Fale connosco

Autores

 

Pin It on Pinterest

Share This