Não é verdade que o coração nos ardia no peito, quando ele nos vinha a falar pelo caminho e nos abria as Escrituras?
(Lucas, 24; 32)

“Se sondasses o teu íntimo, se realmente buscasses a verdade, descobri-la-ias. Está diante de ti. Palpita, borbulha em toda a natureza à tua volta. Canta-te bem no cerne, mas ainda não ouves.” Pintura: A Ceia em Emaús (1601), Caravaggio, Galeria Nacional de Londres.
Que mistério este, o coração humano. O centro dos nossos sonhos e motivações. Bombeia-nos na alma a sede pelo infinito, pelas coisas que não conseguimos enxergar. E por isso todos buscamos um significado, uma razão para tudo. Sem termos estado, acreditamos. Temos fé.
Acreditamos na paz, na humanidade, em nós próprios, em Deus, em deuses, no diabo, na ciência. E é legítimo. Sem dúvida. Somos livres, e livres de buscar a verdade conforme nos apraz. Assim, deixamo-nos levar por normas, por credos, por mestres de todas as cores e feitios; submetemo-nos livremente a uma entidade, a uma ideia, na perspetiva de que isso nos aproxima do grande mistério do universo.
Ora, as evidências, a não parecer, estão perante ti. Fica a teu encargo decidir, e alguém espera o veredicto.
Será possível negar todas as provas e assumir em plena consciência, publicamente, decididamente, o contrário do que estas indicam?
Como pode o homem ser tão suscetível à sua própria vulnerabilidade? Por que recusas acreditar? Porque, sim, é uma escolha. Por parecer improvável, inconveniente? Estás demasiado confortável com o mundo como está para sequer procurar mais.
Como pode alguém dizer-se pensador se se acomoda à noção mais básica da existência? Como pode alguém ser honesto, assim? Mais ainda, como pode viver em paz?
Se sondasses o teu íntimo, se realmente buscasses a verdade, descobri-la-ias. Está diante de ti. Palpita, borbulha em toda a natureza à tua volta. Canta-te bem no cerne, mas ainda não ouves.
Alguém chama por ti. Um rei. Grande reino, coroa maior. Oferece amor, paz, colocou a eternidade nos nossos corações. Convida-te a entrar nos seus átrios. Este rei despe o seu manto, desce o trono, despoja-se do que é seu por direito para vir ter com o seu povo. Estende a sua mão (dá um passou-bem a cada um) descalça-se e dança ao som do folclore medieval. A melodia é irresistível e o rei convida a dançar. E o baile nunca termina. O povo dança e não se cansa. Não falta comida, não falta amor. Não há títulos, não há rancor. Porque recusas este amor de quem te chama amigo? De quem te chama pelo nome? Não te arde já o peito?
Leonor Botelho é evangélica e licenciada em Educação Básica