Re-cristianizar é preciso!
Muita gente pensa que se eliminarmos a religião da arena pública, também acabarão as noções éticas que (ainda) sustentam a nossa sociedade. Mas para essas pessoas a moral cristã é a mãe de todas as repressões. A sociedade utópica está na música de John Lennon. É preciso deixar de cultivar moralismos “medievais”. Sejamos livres. Sejamos livres para gritar e estrebuchar.
A opressão
Mas a dura realidade, que está para além das atitudes nefelibatas dos progressistas, é que sempre que se tentou obliterar a moral religiosa, o que a substituiu foi uma implacável opressão estatal. Uns poucos decidindo por muitos o que é o comportamento adequado, sob uma enxurrada de sanções contra os trangressores. Instalou-se uma moral forçada que se empurrava goela abaixo.
O indivíduo deixa de ser livre para fazer as suas escolhas éticas. Só obedece cegamente. Foi assim na Rússia de Lenine e Estaline e foi assim na França do psicopata que liderou a Revolução Francesa, Robespierre. Robespierre acreditava piamente que iria criar um reino de virtude, segundo a ideia de que a virtude seria definida por ele mesmo e pelos seus correligionários. É dele a máxima de que a educação conduz à liberdade: “O segredo da liberdade está em educar as pessoas, e o da tirania, em mantê-las ignorantes”. Só que ele não usa a palavra educação como nós a usamos. De acordo com o seu projecto, os indivíduos seriam doutrinados para se enquadrarem no que ele e os seus comparsas definiam como sendo virtude.
O truque é que o Estado não se limita a ser um observador neutro. Enquanto os cidadãos obedecem, tudo bem. Não se alihando pelo “politicamente correcto” (diríamos hoje) então o Estado dá-se o direito de impor a sua ordem. Virtude e terror eram faces da mesma moeda e o alvo era sempre a “liberdade”. Liberdade para viver debaixo da nova república, mas não para examinar a república nem questioná-la. Robespierre não promovia uma educação para a emancipação dos cidadãos, mas uma espécie de adestramento para a nova ordem instaurada por ele. O indivíduo era um corcel a ser domado. A República um circo de feras domadas. Qualquer semelhança com a doutrinação sugerida mais tarde por Gramsci não é mera coincidência.
A missão
A religião cristã coloca-se como a inimiga natural deste doutrinamento, porque ela tem uma tendência intrínseca para ligar o cristão com a realidade humana além dos limites da cultura criada pela revolução. Ela desmascara a falsa esperança produzida pelos revolucionários ao inspirar uma leitura diferente do que é a natureza caída humana e do que é o mundo. O cristianismo não embarca em utopias nebulosas e algodanolescas. O cristão sempre terá os pés no chão. E, sempre terá um desejo enorme de tocar o infinito.
E é aqui que me parece urgente levantar bem alto a necessidade de re-cristianizar o mundo em que vivemos. Simplesmente, porque é a melhor solução. Na verdade, a única.
Daí que seja sempre actual a “grande comissão”: Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho – as Boas Novas. Daí que seja da mais elementar importância destacar que este “Evangelho” é o poder de Deus – a dinâmica, em grego – para salvar (leia-se transformar). Sem esse poder transformador do Evangelho, a sociedade fica mais doente. Definha e morre. Não é por acaso que na linguagem paulina, o cristão é considerado uma “nova criatura”. A sua metanoia existencial implica realmente um novo acto criativo de Deus. O novo nascimento é de Deus, afirma Cristo a um Nicodemos boquiaberto. Creio, resolvidamente, que o tempo de agir, não somente urge; mas ruge! Precisamos de verdadeiros rugidos de leão, para re-cristianizar um mundo paganizado. Para tal, importa conhecer os tempos e fazer uma leitura tranquila da nossa missão como cristãos. Fica o desafio!
Filipe Samuel Nunes, formado em Teologia pela European Missionary Fellowship, em Welwyn na Inglaterra, em regime de tutoria. Protestante praticante, vive no Brasil, onde ensina Inglês como segunda língua.
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