
“Acredito que o reconhecimento deveria ocupar um lugar mais cimeiro na pirâmide das emoções e dos sentimentos.” Foto © MD Duran/Unsplash.
No início do Verão, dei por mim sentado no palco de uma das grandes salas de espetáculos londrinas. Não, não se tratava de integrar uma qualquer performance artística. Felizmente para todos. Era “apenas” a cerimónia de graduação da universidade. O meu papel resumiu-se a estar sentado e aplaudir. Mais de duas horas. Mas foram muitas as emoções ao ver, um a um, centenas de jovens recém-graduados a celebrar o esforço de vários anos.
Cada um teve direito a ouvir o seu nome, a ser saudado pelo reitor e a receber o respetivo diploma. Com colegas e professores a testemunharem e partilharem desta alegria. E, em muitos casos, também com as famílias em pano de fundo. Muitas delas, viajando de outros países para se juntarem à celebração.
Valorizo, cada vez mais, estes rituais. Podem parecer apenas um mero folclore (e são muitas as cores) ou até uma estratégia de marketing. Podemos ser cínicos e considerar que o certificado não é mais do um papel, que poderá nem sequer dizer muito do que se aprendeu e, sobretudo, do que se é enquanto pessoa. Em todo o caso, estes momentos são um marco e são fundamentais para a autoestima.
Por outro lado, fiquei a pensar em tantos outros que terão ficado pelo caminho e não chegam a fechar o ciclo com o diploma que almejavam. E de como muitas pessoas raramente têm momentos de reconhecimento, e não apenas academicamente. Quantas pessoas não viverão os seus dias sem nunca terem sido aplaudidas, sem se sentirem valorizadas e apreciadas.
No filme Os Coristas, de que tanto gosto, sempre me fascinou uma das cenas finais. Passa-se no concerto público do recém-criado coro dos meninos do orfanato, com benfeitores da instituição a assistir. O solista, um rapaz problemático, como os demais, ultrapassa as suas inseguranças e consegue uma performance notável. Isso provoca um conjunto de emoções positivas nele próprio, como a alegria, o orgulho, experimentando uma nova sensação, até aí desconhecida para ele, que foi o reconhecimento.
Acredito que o reconhecimento deveria ocupar um lugar mais cimeiro na pirâmide das emoções e dos sentimentos. Os certificados, as medalhas, os prémios, etc, são objetos tangíveis, certamente específicos de determinados momentos e contextos. Mas a sensação de reconhecimento pode chegar de muitas outras formas mais ou menos subtis. Com um e-mail, uma nota de agradecimento, um presente, uma palavra que seja.
Luís Pereira, pai de dois filhos, reside em Inglaterra desde 2012, depois de ter concluído o doutoramento em educação para os media na Universidade do Minho. Desempenha funções na área da pedagogia e da educação digital.