
O cardeal Kurt Koch e a reverenda Anne Burghardt, durante uma oração conjunta na 13ª Assembleia da Federação Luterana Mundial, que terminou esta terça-feira em Cracóvia. Foto © LWF/Albin Hillert.
O cardeal Kurt Koch, prefeito do Dicastério para a Promoção da Unidade dos Cristãos, e a reverenda Anne Burghardt, secretária-geral da Federação Luterana Mundial, apelaram esta terça-feira, 19 de setembro, em Cracóvia (Polónia), no encerramento da 13ª Assembleia da Federação Luterana Mundial, a “uma reflexão conjunta sobre a Confissão de Augsburgo” que possa levar católicos e luteranos a dar passos significativos no “caminho que vai do conflito à comunhão”.
A Confissão de Augsburgo é um documento inspirado pela pregação e pelos escritos de Lutero, constitui a principal confissão de fé da Igreja Luterana e é um dos documentos mais importantes da reforma protestante. Foi apresentada ao imperador a 25 de junho de 1530 como base para o diálogo com Roma e a preparação de um concílio geral que o Papa deveria convocar pois “as questões tratadas entre” o imperador e o “Romano Pontífice avizinhavam-se de uma concórdia e reconciliação cristãs”. Contudo, a Confissão não se exime a vincar os aspetos controversos [as “modificações aceites para corrigir os abusos” introduzidos na prática eclesial pelo “correr do tempo”, ou “estabelecidos à força”] do entendimento da fé cristã, da Igreja, do culto dos santos e outros que então já faziam parte do pensamento e da prática daqueles que viriam a dar origem às primeiras igrejas reformadas.
A proposta de uma reflexão luterana-católica sobre a Confissão de Augsburgo consta de uma declaração conjunta intitulada “Palavra Comum”, lida por aqueles dois responsáveis no termo da Assembleia da Federação Luterana Mundial que decorreu em Cracóvia entre 13 e 19 de setembro, reunindo representantes de 150 igrejas luteranas de 99 países. Nessa declaração, citada pelo National Catholic Reporter, lê-se que a Confissão de Augsburgo foi redigida numa tentativa de “dar testemunho da fé da Igreja una, santa, católica e apostólica” e que ela pretendia testemunhar a unidade da Igreja antes das ruturas finais da reforma protestante, pelo que “não é apenas algo de interesse histórico; pelo contrário, contém um potencial ecuménico de relevância duradoura”.
Caminho até 2030
A “excomunhão de Martinho Lutero pela Igreja Católica ainda é um obstáculo para alguns hoje”, reconhece a declaração de 19 de setembro que, no entanto, lembra o facto da “excomunhão ter perdido há muito tempo, com a morte do reformador, o seu efeito imediato”, além de que “os luteranos não são inimigos ou estranhos para os católicos, mas antes irmãos e irmãs, com quem os católicos sabem estar unidos através de batismo.”
Por outro lado, “o facto de Martinho Lutero e os escritos confessionais luteranos se referirem ao papado como ‘anti-Cristo’ é também um obstáculo, ainda que hoje a Federação Luterana Mundial não apoie esse ponto de vista”. Certo é que “as questões do mistério da Igreja, da sua unidade e singularidade” continuam no centro do diálogo teológico oficial católico-luterano sem coincidência no que diz respeito ao papel e ao ministério do Papa.
A declaração “Palavra Comum” não constitui uma novidade absoluta no diálogo luterano-católico mais recente na medida em que, como ela própria recorda, o Papa Francisco expressou em 2021 a esperança de que um estudo conjunto da Confissão de Augsburgo, preparando o 500º aniversário do documento (2030), poderia fortalecer a capacidade de católicos e luteranos confessarem juntos o que os une na fé”. Palavras que a declaração agora retoma, afirmando que, hoje, luteranos e católicos “discernem áreas de consenso onde os antecessores apenas viam oposições intransponíveis”.