
O bispo Jorge Pina Cabral considera que o relatório da Comissão Independente representa um desafio e um compromisso para todos “enquanto cidadãos e cristãos”. Foto © OSAE.
O relatório sobre os abusos sexuais de menores na Igreja Católica “naturalmente que implica também e diz respeito às outras Igrejas cristãs”, defende o bispo da Igreja Lusitana (Comunhão Anglicana), Jorge Pina Cabral. Na sua homilia de Quarta-feira de Cinzas, o presidente do Conselho Português de Igrejas Cristãs (COPIC) fez questão de lembrar que a Igreja é “una” e que “este mesmo drama dos abusos sexuais a crianças e adultos vulneráveis existiu e existe na Comunhão Anglicana”.
“Não somos mais nem menos pecadores do que os irmãos e irmãs de outras Igrejas. Não há Igrejas melhores do que as outras”, sublinhou na sua alocução. “É esta comunhão em Cristo enquanto povo de batizados que nos leva a acolher este relatório não como algo estranho à nossa Igreja, mas enquanto realidade que também nos implica enquanto Instituição eclesial”, afirmou Jorge Pina Cabral.
Para o bispo da Igreja Lusitana, o relatório da Comissão Independente criada pela Conferência Episcopal Portuguesa representa um desafio e um compromisso para todos “enquanto cidadãos e cristãos, dado que o problema da pedofilia e dos abusos sexuais é transversal à sociedade que somos e ocorre na família, na escola, no trabalho, no desporto e em muitas outras áreas da nossa vivência social”.
Além disso, assinalou, “trabalhar pela unidade dos cristãos” exige implicar-se nas realidades dos outros irmãos, “por muito exigentes e desafiantes que as mesmas se nos apresentem”.
“Necessitamos juntos de corrigir os nossos erros, de purificar as nossas intenções, de reconhecer o mal, de nos arrependermos e de chorarmos”, defendeu o presidente do COPIC, que considera que a quaresma “é o tempo propício a que tal aconteça”. Trata-se, pois, de “reconhecer não só os erros e pecados individuais e particulares, mas também os erros e pecados coletivos que ganham força e expressão quando sustentamos sistemas morais, religiosos, económicos e políticos assentes em valores e práticas que colocam em causa a dignidade de cada um e de todos enquanto família humana”.
Face ao contexto em que vivemos, esta quaresma “será sem dúvida uma quaresma sofrida e pesada”, afirmou o bispo. Uma quaresma “marcada pelo sofrimento que se expressa nos gemidos destes inocentes que corajosamente souberam dar ‘Voz ao silêncio'”, mas também “nos gemidos das vítimas da guerra na Ucrânia e de muitas outras guerras que assolam o mundo, no gemido da Criação de Deus que continua a sofrer uma exploração desenfreada provocada pela ganância humana e nos gemidos das vítimas dos desastres naturais na Síria e na Turquia”.
E terminou, deixando dois pedidos: “Nesta quaresma saibamos também ‘Dar voz ao silêncio’ ou se quisermos aos silêncios que carregamos e ainda nos impedem de ser quem somos. Saibamos também ‘Dar voz ao silêncio’ dos outros acolhendo os seus dramas e ouvindo as suas histórias”.