
Imagem do cartaz de promoção de Rosinha e outros bichos do mato.
“Um filme que perscruta a ideia de ‘racismo suave’ e como esta vem beber ao enaltecido colonialismo português” é o ponto de partida de Rosinha e outros bichos do mato, que ganhou o Prémio Árvore da Vida, atribuído desde 2010 pelo Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura (SNPC) no festival de cinema independente IndieLisboa.
“A Rosinha titular é uma nativa guineense que se torna no símbolo da primeira exposição colonial portuguesa apresentada pelo Estado Novo em 1934. Uma viagem ao passado para entender o presente”, lê-se na sinopse deste documentário Rosinha e outros bichos do mato (2023, 101 minutos), da realizadora Marta Pessoa.
A referida exposição colonial de 1934 levou aos jardins do Palácio de Cristal, no Porto, “a recriação das aldeias indígenas e ‘exemplares’ dos povos que as habitavam. Rosinha veio com ela da Guiné e está presente em vários filmes e imagens oficiais”.
No texto de apresentação do filme, Margarida Moz (programadora que fez parte do comité de seleção desta 20.ª edição do IndieLisboa) defende que, “ao longo deste documentário, a história da propaganda fascista surge como um tenebroso espelho para onde nos custa olhar. Portugal é um país com uma História por contar, e este filme é uma belíssima forma de contrariar esse silêncio”.
O argumento é assinado por Marta Pessoa, Rita Palma e a produtora Três Vinténs, que compõem igualmente o elenco, a par de Binete Undonque, alunos da Escola Profissional de Marvila, Grupo Etnográfico de Areosa e Paulo Pinto.
“O vencedor do Prémio Árvore da Vida é uma investigação ao nosso passado colonial, ao discurso político, à ideia que temos de nós e do Outro, uma viagem à dignidade humana e a algumas indignidades através do trabalho de arquivo e da imaginação”, assinalam os jurados.
O júri do Prémio Árvore da Vida, Pedro Mexia, antigo subdiretor e diretor interino da Cinemateca Portuguesa, poeta, escritor e crítico, e Rui Martins, do SNPC, decidiu também conceder uma menção honrosa a As Lágrimas de Adrian (2023, 18 minutos), curta-metragem de Miguel Moraes Cabral. “A partir de imagens de arquivo, tece-se uma improvável história de um menino que não parava de chorar, tanto criando cheias como paraísos”, explica a sinopse. “A menção honrosa é atribuída a um filme de montagem que, usando imagens de arquivo, faz uma ligação poética entre o sofrimento individual e os grandes movimentos do mundo e da História”, anotam os jurados.
Com o valor de dois mil euros, o Prémio Árvore da Vida distingue um dos filmes selecionados pela organização do IndieLisboa para a secção Competição Nacional, tendo como critério os seus valores espirituais e humanistas, a par das qualidades cinematográficas.