Além dos abusos sexuais

Rupnik é titular de empresa lucrativa secreta sediada no Centro Aletti

| 17 Abr 2023

Jesus, Baptismo, Batismo, Arte, Marko Ivan Rupnik, Lourdes, Basílica de Nossa Senhora do Rosário

Baptismo de Jesus. Obra na fachada da Basílica de Nossa Senhora do Rosário, em Lourdes (França): o nome da empresa tomava os nomes das cores vermelha, amarela e azul, muito utilizadas por Rupnik nas suas obras, Foto © António Marujo/7Margens

 

Afinal, para além dos abusos de poder e da violência sexual de que tem sido acusado, o padre jesuíta Marko Rupnik tem outro lado secreto que acaba de vir à luz do dia: uma empresa criada em 2007, destinada à criação e instalação de mosaicos, vitrais, murais, pinturas e esculturas.

A empresa dá pelo nome de Rossoroblu, que é uma contração dos nomes, em italiano, das três cores de base de muitas das obras do padre jesuíta: vermelho, amarelo e azul.

Nada disto seria extraordinário, não fosse o caso de a existência desta entidade ser desconhecida, movimentar milhões de euros e a pessoa que é titular de 90 por cento do capital, Rupnik, ter feito voto de pobreza, além dos de castidade e obediência.

A informação acaba de ser revelada pelo jornal italiano Domani, que adianta que nem o superior de Rupnik, o padre Johan Verschueren, delegado do superior geral da Companhia de Jesus para as Casas Internacionais dos Jesuítas em Roma, tinha conhecimento da existência desta entidade. “É uma notícia completamente nova para mim e também bastante chocante e contrária ao voto de pobreza”, afirmou, em declarações àquele jornal.

A Rossoroblu foi fundada em setembro de 2007, com um capital inicial de 10 mil euros, e registada na Câmara do Comércio em nome de Rupnik e de Manuela Viezzoli, uma ex-religiosa da Comunidade Loyola que, com mais três irmãs, deixou a instituição para acompanhar o jesuíta, após a rutura entre este e a fundadora e superiora geral da Comunidade, Ivanka Hosta. Atualmente, ela integra a Comunidade da Humanidade Divina, constituída por leigas consagradas, instaladas no Centro Aletti, tal como a Comunidade da Santíssima Trindade, dos padres jesuítas do Centro.

A documentação consultada pelo jornal permitiu perceber que, atualmente, os dois continuam a ser os donos da empresa; que Viezzoli continua a ser detentora de 10 por cento do capital e a ser a única diretora e representante; e que possuía 15 assalariados em finais de 2022, tendo o montante dos lucros subido significativamente nos últimos anos.

Ainda assim, parece existir um desfasamento significativo entre o volume de negócios declarado e os montantes contratados pelo Centro Aletti. O jornal deu-se ao trabalho de contactar uma série de entidades religiosas, nomeadamente santuários e paróquias, onde se sabe que Rupnik e a sua equipa trabalharam, com o fim de apurar montantes envolvidos em cada obra, modos de pagamento e entidade que recebeu o dinheiro. Isso foi feito relativamente a empreitadas em Itália, na Eslovénia – país de origem do presbítero artista – e no Brasil, onde equipas do Aletti tinham em curso uma imponente obra de decoração dos exteriores do santuário de Aparecida de que foi apenas completada a fachada principal (havendo versões não coincidentes sobre o fim dos trabalhos de um dos lados).

Deve dizer-se que o Domani se deparou com um muro quase intransponível para a obtenção de informação. O segredo, a ausência de contabilidade (real ou invocada), os pagamentos em espécie, resultado das dádivas de fiéis, as mudanças de pároco, entre outros fatores, revelaram práticas pouco transparentes na gestão dos dinheiros da Igreja – que são essencialmente dinheiros dos crentes.

Ainda assim, dos poucos elementos concretos apurados, foi possível ter, para alguns períodos, valores de referência para os custos dos mosaicos por metro quadrado, saber de montantes parciais, deparar com pagamentos à Russoroblu. Algumas obras encomendadas a Rupnik estiveram paradas anos, enquanto as comunidades não reuniam os fundos suficientes, sobretudo em casos em que os valores inicialmente previstos foram ultrapassados.

Acresce que o Centro Alettti criou duas fundações – a fundação Agape em Roma e a fundação Centro Aletti, na Eslovénia – para reunir fundos de benfeitores que querem apoiar os trabalhos e projetos do Centro, quer na parte artística quer na editorial.

Presentemente, e desde meados de fevereiro último, o padre viu serem-lhe aplicadas algumas restrições quanto ao exercício do ministério presbiteral e ao acompanhamento espiritual, bem como ao exercício da atividade artística em público, enquanto decorrem diligências que vão ditar o seu futuro. Das dezena e meia de novos casos de abuso que surgiram através da linha de contacto aberta pelos Jesuítas, parece haver uma pessoa de menor idade. Se tal se vier a verificar, Rupnik poderá ser obrigado a deixar definitivamente o ministério.

O superior Johan Verschueren aguarda um encontro com Rupnik para esclarecer e ouvir o que ele tem a dizer sobre as matérias de que está a ser acusado, que incluem os abusos que continuam a vir a público na Comunidade Loyola e fora dela. O futuro do padre está também parcialmente dependente desse encontro. Contudo, até este momento, observa o jornal Domani, Rupnik não compareceu nem terá dado sinais de estar interessado em comparecer.

 

Na cidade onde Jesus nasceu, o Natal foi cancelado

Belém "está de luto e triste"

Na cidade onde Jesus nasceu, o Natal foi cancelado novidade

Não festejar o Natal precisamente na cidade onde – segundo a tradição cristã – nasceu Jesus? O paradoxo é enorme, mas não tão grande como a tristeza e a dor que pairam nas ruas de Belém, na Cisjordânia, e que se revelam nos semblantes dos poucos que as percorrem. “Belém, como qualquer outra cidade palestiniana, está de luto e triste… Não podemos comemorar enquanto estivermos nesta situação”, afirma Hanna Hanania, presidente da câmara cessante.

Deslocados de Cabo Delgado tentam regressar a casa, mas insegurança persiste

ONU denuncia

Deslocados de Cabo Delgado tentam regressar a casa, mas insegurança persiste novidade

Durante 13 dias, a relatora especial da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre os direitos humanos dos deslocados internos, Paula Gaviria Betancur, esteve em Moçambique. De visita à província de Cabo Delgado, observou a enorme vontade das populações deslocadas de voltar para as suas casas, mas verificou também que “persiste a insegurança” e que as comunidades não têm como autossustentar-se.

Apoie o 7MARGENS e desconte o seu donativo no IRS ou no IRC

Breves

 

Para o biénio 2023-2025

Centro de Reflexão Cristã elege direção “comprometida com orientações do Papa Francisco”

O Centro de Reflexão Cristã (CRC) acaba de eleger uma nova direção para o biénio 2023-2025, que se assume comprometida “com os princípios do Concílio Vaticano II e com as orientações do Papa Francisco”. Presidida por Inês Espada Viera (até agora vice-presidente), a direção que agora inicia funções promete “novas iniciativas”, que já estão a ser preparadas.

Em seminário nacional

Ação Católica Rural debateu desafios para o futuro

Perto de cem elementos da Ação Católica Rural, oriundos de 11 dioceses, estiveram reunidos durante o passado fim de semana, em Albergaria-a-Velha, para refletir sobre a missão do movimento nos dias de hoje, a ideologia de género e os desafios colocados pelo Papa, na sequência da Jornada Mundial da Juventude.

Portugueses em risco de pobreza aumentaram para 17%

Dados do INE

Portugueses em risco de pobreza aumentaram para 17% novidade

O número de pessoas em risco de pobreza em Portugal aumentou para 17% em 2022, tendo crescido em todos os grupos etários, mas afetando “mais significativamente” as mulheres e os menores de 18 anos. Os dados constam do mais recente Inquérito às Condições de Vida e Rendimentos (ICOR), relativo aos rendimentos de 2022, divulgado esta segunda-feira, 27, pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).

A Bíblia Tinha Mesmo Razão?

Novo livro

A Bíblia Tinha Mesmo Razão?

Abraão e Moisés existiram mesmo ou são apenas personagens de ficção? O Êxodo do Egito aconteceu nos moldes em que é contado na Bíblia? E a conquista da “Terra Prometida” é um facto ou mito? É inevitável que um leitor contemporâneo se pergunte pela historicidade do que lhe é relatado na Bíblia. Um excerto do novo livro de Francisco Martins.

Agenda

Fale connosco

Autores

 

Pin It on Pinterest

Share This