
“Devemos às gerações futuras esta aliança entre o pensamento sensível ao homem e a decifração salvífica do sagrado”, defendem os teólogos. Foto: Direitos reservados.
O apelo “Salvar a Fraternidade, juntos”, que denuncia a “violência anti-humanista” do sistema “técnico-económico” foi publicado por um grupo de dez teólogas e teólogos católicos, incluindo o português João Manuel Duque e Lucia Vantini, presidente da Coordenação Italiana das Mulheres Teólogas.
Apresentado na terça-feira, 8, pela Academia Pontifícia para a Vida, o apelo defende que “a suposta neutralidade do sistema técnico-económico encobre a sua violência anti-humanista e evita que seja comparado ao passado imperialista e colonialista do Ocidente”.
Na lista dos investigadores incluem-se ainda Kurt Appel, director do Centro de Pesquisa Interdisciplinar Religião e Transformação na Sociedade Contemporânea, da Universidade de Viena (Áustria); e Gemma Serrano, directora da licenciatura em Direito Canónico e do Departamento de Pesquisa entre Teologia e Digital, no Collège des Bernardins (Paris).
O documento, disponível na íntegra em espanhol, italiano e inglês na página da Academia Pontifícia, sublinha os efeitos “nocivos” do sistema tecnocrático sobre o meio ambiente e sobre uma sociedade “empobrecida em todo o mundo”.
Este “chamamento à fé e ao pensamento” parte da encíclica Fratelli Tutti, sobre a fraternidade humana, publicada em Outubro do ano passado pelo Papa Francisco. “A nossa proposta é recolher o sentido profundo desta provocação definitiva – dirigida a uma Igreja instada a abrir-se e a um mundo tentado a fechar-se – inaugurando o clima de uma ‘fraternidade intelectual’”, realça a nota de imprensa que acompanha o apelo, citada pela agência Ecclesia.
“A Teologia deve aceitar confrontar-se criticamente com as perversões do sagrado, por tentativa e erro, para que não gozem da cumplicidade da fé. Devemos às gerações futuras esta aliança entre o pensamento sensível ao homem e a decifração salvífica do sagrado”, acrescenta o texto.

O grupo foi convocado pelo presidente da Academia Pontifícia para a Vida, arcebispo Vincenzo Paglia, e pelo reitor do Instituto Teológico Pontifício João Paulo II para as Ciências do Casamento e Família, o teólogo Pierangelo Sequeri.
Os signatários desafiam teólogos e crentes a desconstruir o dualismo “comunidade eclesial e comunidade secular” ou “mundo criado e mundo salvo”.
“Propomos uma reversão de tendência no pensamento do tempo. Não desprezeis o Nome de Deus, ao qual todos os homens e mulheres do planeta dirigem a invocação dos crentes sinceros, e para o qual os próprios crentes se colocam à disposição para interceder por todos os pobres e abandonados.”
Os autores questionam um “individualismo libertário” no qual desapareceu qualquer “projecto de responsabilidade para a comunidade dos livres e iguais”.
“Não há nada que possa salvar as gerações futuras da dissolução técnico-económica do humanismo ético-político”, advertem.
O arcebispo Vincenzo Paglia justifica a iniciativa dizendo, no epílogo com que encerra o apelo, que “as instituições eclesiais são chamadas a desempenhar o seu papel, na promoção de um diálogo mais profundo e assíduo entre a inteligência da fé e o pensamento do homem”.