
A seca severa e a criação comercial de gado tem afastado a população local das suas terras pastoris em Cunene e Huíla, sul de Angola. Foto © BwalaMidia.
Milhões de pessoas estão a enfrentar uma seca grave no sul de Angola, que ameaça as suas vidas e já provocou uma fuga de milhares, denunciou esta quinta-feira, 22, a Amnistia Internacional. É a pior seca em 40 anos.
A seca agravada pelas alterações climáticas continua a devastar esta extensa região, alertou a organização, que destacou o facto de herdades para a criação comercial de gado terem ocupado terras comunitárias, levando à expulsão de comunidades pastoris das suas terras, desde o final da guerra civil em 2002 – um facto que a Amnistia tinha já denunciado num relatório publicado em Outubro de 2019, conforme o 7MARGENS na altura noticiou.
Esta mudança deixou largos setores da população em insegurança alimentar, denuncia a Amnistia Internacional (AI), e abriu caminho a uma crise humanitária. À medida que a comida e a água se tornam cada vez mais escassas, milhares de pessoas deixaram as suas casas e procuraram refúgio na vizinha Namíbia.
“Milhões de pessoas no sul de Angola estão à beira da fome, presas entre os efeitos devastadores das mudanças climáticas e o desvio de terras para a pecuária comercial”, apontou Deprose Muchena, diretor da Amnistia Internacional para a África Oriental e Austral.
“Esta seca — a pior em 40 anos — atingiu comunidades tradicionais que lutavam para sobreviver desde que foram despojadas de vastas áreas de pastagem. O governo angolano deve assumir a responsabilidade pelo seu próprio papel nesta terrível situação, e garantir reparações às comunidades afetadas, e tomar medidas imediatas para resolver a insegurança alimentar nas áreas rurais das províncias do Cunene e Huíla.”
A Amnistia cita a Associação Construindo Comunidades (ACC), uma organização não-governamental local, segundo a qual há famílias de pastores tradicionais do município de Gambos, na província da Huíla, que estão a passar fome. A ACC relatou que dezenas de pessoas morreram de desnutrição desde 2019, sendo as pessoas mais velhas e crianças as mais particularmente vulneráveis. A ACC, que distribui cestas básicas na região, disse que as pessoas recorreram ao consumo de folhas para sobreviver.
De acordo com a AI, os angolanos das províncias do Cunene e Huíla foram especialmente atingidos pela persistente seca. A estação das chuvas de 2020/21 foi anormalmente seca, o que significa que a situação deve agravar-se muito nos próximos meses. Segundo o Programa Alimentar Mundial (PAM), a falta de chuvas no período de novembro de 2020 a janeiro de 2021 já causou a pior seca nos últimos 40 anos.