
O Papa Francisco ao chegar ao encontro com os voluntários, na tarde deste domingo. Foto © António Pedro Santos/Lusa/Pool JMJ.
O Papa Francisco despediu-se dos voluntários da Jornada Mundial da Juventude e da própria JMJ Lisboa 2023 com uma curta incursão nas ondas da Nazaré: “Como muitos de nós sabemos, a norte de Lisboa existe uma vila, a Nazaré, onde se podem admirar ondas que chegam a atingir trinta metros de altura e que são uma atração mundial, especialmente para os surfistas que as desafiam”, afirmou.
“Nestes dias, também vós enfrentastes uma verdadeira onda; não de água, mas de jovens, jovens como vós, que inundaram esta cidade. Mas, com a ajuda de Deus, com muita generosidade e apoiando-vos mutuamente, enfrentastes esta grande onda. Obrigado, obrigado!”, disse o Papa naquele que foi o seu último encontro e o último discurso em Portugal. “Quero dizer-vos que continuem assim, que continuem a surfar as ondas do amor, as ondas da caridade, que sejam ‘surfistas do amor’!”
Essa é a “tarefa” que o Papa confia aos cerca de 25 mil voluntários que estiveram na JMJ Lisboa 2023 e se concentraram neste domingo á tarde no passeio Marítimo de Algés: “Que o serviço que prestastes a esta Jornada Mundial da Juventude seja a primeira de muitas ondas de bem; e de cada vez sereis levados cada vez mais alto, mais perto de Deus, e isso permitir-vos-á ver o vosso caminho de uma perspetiva melhor.”
O Papa acrescentou que a JMJ “faz parte duma história que a precede e a segue” e que a boa preparação e o que sucedeu “tornaram possível estes dias inesquecíveis”.
Francisco acrescentou que os voluntários correram, mas “não numa corrida frenética e sem meta que às vezes caracteriza o nosso mundo; esse tipo de corrida não leva ao encontro com os outros, podendo até tornar-se uma fuga das relações”. E disse ainda que o “encontro mais belo, o motor de todos os outros, aquele que faz a vida avançar é o encontro” com Jesus, respondendo aos testemunhos de três voluntários das Jornada: Clara, Francisco e Filipe – que falaram de “um encontro especial com Jesus”.
“Para pôr ordem na vida, não servem as coisas, as distrações e o dinheiro; o que serve é dilatar o coração, ampliá-lo abrindo-o ao amor”, disse ainda. A JMJ, afirmou, “continua amanhã, em casa, na paróquia, na escola e na universidade, levando por diante a caminhada de grupo juntamente com os outros e dando testemunho!”
Abusos: o que deve acontecer com quem sabia
Já no avião de regresso a Roma, o Papa foi questionado por um jornalista português sobre se tinha conhecimento do relatório da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais Contra as Crianças na Igreja Católica Portuguesa e o que deve acontecer com os bispos que sabiam de casos de abuso e não os comunicaram às autoridades.
“Os pastores que, de alguma forma, não assumiram essa responsabilidade, têm de assumir essa irresponsabilidade. Depois ver-se-á de que modo, em cada um deles, mas é muito duro o mundo dos abusos”, afirmou Francisco, a bordo do avião que o transportou de Lisboa, onde presidiu à Jornada Mundial da Juventude, para Roma.
Citado pela Lusa, por sua vez reproduzida no Sapo24, o Papa lembrou que cerca de “42% dos abusos acontecem nas famílias”, sustentando que “ainda é preciso amadurecer e ajudar, para que se descubram essas coisas”. E pediu ainda a ajuda aos jornalistas para que “todos os tipos de abusos sejam resolvidos”, notando que o abuso sexual de menores não é o único. O trabalho infantil, o abuso das mulheres e a mutilação genital feminina.
“Dentro do abuso sexual, que é grave, há uma cultura do abuso que a humanidade tem de rever e converter-se”, defendeu.
Francisco recebeu na quarta-feira um grupo de 13 vítimas de abusos na Igreja portuguesa. Conforme uma pessoa que acompanhou contou ao 7MARGENS, o Papa pediu perdão a cada uma das vítimas presentes.
Os pormenores do encontro “muito emotivo” do Papa com 13 vítimas de abusos
Numa outra perspectiva, o Papa considerou ainda que a hierarquia católica em Portugal tem gerido com “seriedade” a crise dos abusos sexuais de menores, recordando o seu encontro com vítimas, na última quarta-feira.
“Sobre a sua pergunta, como vai o processo na Igreja portuguesa, vai bem e com serenidade. Procura-se a seriedade nos casos dos abusados. Os números, às vezes, acabam por ser empolados, pelos comentários, e isso custa-nos sempre, mas a realidade é que está a ser bem conduzido e isso dá-me uma certa tranquilidade”, disse, na mesma ocasião.
“Como vocês sabem, de forma muito reservada, recebi um grupo de pessoas que foram abusadas [quinta-feira, na Nunciatura Apostólica], e, como faço sempre nestes casos, dialogamos sobre esta peste, esta tremenda peste”, referiu ainda.
“Falar com pessoas abusadas é uma experiência muito dolorosa, que também me faz bem, não porque me dê gozo escutar, mas porque me ajuda a assumir a responsabilidade desse drama”, afirmou, em resposta aos jornalistas.
Francisco pediu ainda a ajuda desta classe profissional para denunciar o abuso sexual de menores no mundo digital. Este é como “devorar” a vítima, considerando-o pior, por “feri-la e deixá-la viva”. Também a organização da JMJ Lisboa 2023 lhe mereceu uma referência elogiosas: ela foi a Jornada “mais bem preparada” que viu.