Semana “Laudato Si'” (8): Opor ecologia e economia está totalmente ultrapassado

| 23 Mai 20

Élisabeth Borne: Opor ecologia e economia está totalmente ultrapassado

Colocar hoje, em oposição, ecologia e economia está totalmente ultrapassado, considera a ministra francesa da Transição Ecológica, Élisabeth Borne, a propósito dos efeitos sociais, económicos e ambientais da pandemia de covid-19. Numa entrevista ao jornal La Croix, a ministra diz que, ao contrário do que sucedeu com a crise económico-financeira de 2008, há tecnologias verdes mais maduras para que possam ser apoiadas pelos estados.

“Hoje, não podemos escolher entre proteger o planeta e proteger os empregos, iremos fazer as duas coisas”, garante, referindo-se aos planos da União Europeia para relançar a economia numa perspectiva ecologicamente mais sustentável. Veículos eléctricos e biocombustível são alguns exemplos referidos pela ministra de áreas que estão prontas para ser desenvolvidas com menos custos ambientais do que os combustíveis fósseis.

“É necessário tomar tempo para retirar as lições desta crise inédita, de um ponto de vista sanitário, económico, sociológico, etc.”, acrescenta Élisabeth Borne na entrevista, na qual lança também refere a possibilidade de apoiar projectos no valo de quatro milhões de euros, na área da recuperação de ecossistemas.

Na mesma perspectiva, 42 organizações religiosas de 14 países anunciaram o abandono de todas as formas de energia ligadas aos combustíveis fósseis. Entre elas estão várias dioceses católicas e ordens religiosas na Grã-Bretanha, Irlanda e países em desenvolvimento, bem como várias comunidades das igrejas Metodista, Baptista e Quacker.

Esta iniciativa é uma forma de muitos cristãos responderem aos desafios e propostas da encíclica Laudato Si’, cujo quinto aniversário passa neste domingo, 24 de Maio, diz a Associated Press, citada pelo New York Times.

“Embora a covid tenha mostrado a fragilidade dos nossos sistemas alimentares, ela é também uma oportunidade de mudança, tanto nos padrões de produção e consumo como nas acções privadas e públicas”, afirmou no início da semana Augusto Zampini, um dos principais conselheiros ambientais do Papa Francisco. “É tempo de uma profunda e global conversão ecológica”, acrescenta este responsável.

 

Margarida Alvim: Fazer memória agradecida dos lugares onde crescemos

 

Depoimento de Margarida Alvim, da Associação Casa Velha – Ecologia e Espiritualidade.
Semana “Laudato Si’”, proposta pelo Papa Francisco para assinalar os cinco anos da publicação da encíclica sobre o “cuidado da casa comum”.
Iniciativa da Rede Cuidar da Casa Comum, com a colaboração do 7MARGENS.

 

Cinco notas para a leitura de uma encíclica
(excertos de um texto que pode ser lido na íntegra aqui)

É um texto histórico e um marco na doutrina social da Igreja, onde o Papa o situa. Podem destacar-se do texto da encíclica Laudato Sí – Sobre o Cuidado da Casa Comum algumas notas, que não impedem a sua leitura integral por cada pessoa, já que o Papa o destina a cada habitante do planeta.

1. Um texto de doutrina social católica

Foi o próprio Papa que afirmou que a Laudato Sí (Louvado Sejas) é um documento de doutrina social católica. E justificou: a nossa casa comum “está a arruinar-se e isso faz mal a todos, especialmente aos mais pobres”.

O próprio texto sugere (49 – os números referem-se aos parágrafos da encíclica): “uma verdadeira abordagem ecológica sempre se torna uma abordagem social, que deve integrar a justiça nos debates sobre o meio ambiente, para ouvir tanto o clamor da terra como o clamor dos pobres”. E acrescenta (63) que a doutrina social da Igreja é “chamada a enriquecer-se cada vez mais a partir dos novos desafios”. (…)

2. A Igreja toma partido e propõe acções concretas

Muitas vezes, diz-se da doutrina social católica que ela não toma partido por este ou aquele campo político. Isso é verdade no campo circunstancial, mas não é verdade na afirmação de princípios irrenunciáveis, que devem ter tradução na forma como os crentes se posicionam.

A oposição de alguns católicos à ideia de que o Papa se “meta em política ou economia” ou a oposição de políticos católicos à condenação, feita por João Paulo II, da invasão do Iraque, são reflexo de uma mesma recusa da “hierarquia de valores”, afirmada pela doutrina católica. O Papa diz (23): “Há um consenso científico muito consistente, indicando que estamos perante um preocupante aquecimento do sistema climático.” Se é sabido que há quem conteste esta ideia, é evidente que Francisco está, por isso, a tomar partido por uma determinada leitura da realidade. (…)

3. Uma ecologia integral

A visão do Papa Francisco é a de uma ecologia integral. Desde a escolha do título, que remete para o Cântico das Criaturas, o texto proclamado por Francisco de Assis – padroeiro dos ecologistas e patrono do nome escolhido pelo cardeal Bergoglio para Papa.

Esta visão franciscana entende que Deus está presente em toda a criação, mas isso tem também consequências. No nº 10, ao evocar o santo de Assis, Francisco escreve: “Nele se nota até que ponto são inseparáveis a preocupação pela natureza, a justiça para com os pobres, o empenhamento na sociedade e a paz interior.”

De novo, o Papa afirma o que muitos têm dito, quando estabelecem relação directa entre degradação ambiental e fenómenos como a delapidação de recursos dos países mais pobres, secas e catástrofes naturais como causas que agravam o empobrecimento, ou as migrações em massa… (…)

4 . Uma perspectiva cristã, não apenas católica

A perspectiva de uma ecologia integral repousa também na primeira assembleia ecuménica europeia (Basileia, 1989), dedicada ao tema Justiça, Paz, Integridade da Criação. Foi a primeira afirmação dos cristãos, na sua diversidade – católicos, protestantes, anglicanos, ortodoxos – de que há uma relação profunda, por exemplo, entre a destruição da floresta na Amazónia ou em África e a fuga de refugiados do Sul para o Norte à procura de comida. (…)

E nem sequer foi apenas um gesto de simpatia que, pela primeira vez, um documento do Vaticano tenha sido também apresentado por um alto responsável do patriarcado ortodoxo de Constantinopla: Bartolomeu, apelidado de “patriarca verde”, tem dedicado boa parte da sua acção pastoral à reflexão sobre as questões da integridade da criação na perspectiva de Basileia. E o metropolita Ioannis Zizioulas, de Pérgamo, que participou na apresentação da encíclica no Vaticano, é um dos mais importantes teólogos ortodoxos nesta área. (…)

5. Cuidar o futuro

O cuidado é uma noção fundamental na encíclica. Desde o subtítulo – Sobre o Cuidado da Casa Comum – até uma nova evocação franciscana: “Francisco é o exemplo por excelência do cuidado pelo que é frágil e por uma ecologia integral”, escreve o Papa (10).

A noção de cuidado ficou consagrada politicamente no relatório Cuidar o Futuro, da Comissão Independente População e Qualidade de Vida (1998/99), presidida por Lourdes Pintasilgo, texto quase desconhecido em Portugal.

O Papa já dedicara uma boa parte da homilia do início do pontificado, e várias outras referências, à ideia do cuidado. (…)

António Marujo

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