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“De quem são as vozes que não estão a ser ouvidas nas nossas comunidades? Quem não está representado na mesa? Porquê? Que igrejas e comunidades estão faltando nos nossos diálogos, na nossa acção comum e na nossa oração pela unidade dos cristãos? Enquanto oramos juntos durante esta Semana de Oração, o que estamos dispostos a fazer com essas vozes ausentes?”
Estas são as perguntas propostas por um grupo de cristãos nos Estados Unidos da América (EUA) reunidos no Conselho de Igrejas de Minnesota, a que se juntaram católicos do mesmo estado e uma equipa internacional do Conselho Mundial de Igrejas e do agora Dicastério para a Promoção da Unidade dos Cristãos. Foi esse grupo que preparou os conteúdos para a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos 2023, que será assinalada entre 18 e 25 de Janeiro.
“Aprende a fazer o bem, procura a justiça” é o tema sugerido, a partir do capítulo 1 do livro do Profeta Isaías e alude a um tempo do século VIII a.C. “no final de um período de grande sucesso económico e estabilidade política para Israel e Judá”, mas em que se manifestavam também injustiças e desigualdades “galopantes”. Ao mesmo tempo, lê-se ainda no texto de preparação, crescia também o lado ritualista da religião, “concentrada nas ofertas e sacrifícios do Templo”, a que se juntava a aliança dos sacerdotes do Templo com o rei, os ricos e poderosos, dos quais dependiam.
“Os ricos e os que faziam muitas ofertas eram considerados bons e abençoados por Deus, enquanto os pobres e incapazes de oferecer sacrifícios eram considerados maus e amaldiçoados por Deus.” É neste contexto que Isaías aparece a alertar para o que considerava uma ferida aberta e a denunciar a hipocrisia de quem oferecia sacrifícios enquanto oprimia os pobres.
Fazendo o paralelismo com a actualidade, os textos da Semana de Oração consideram que permanecem vivos muitos desafios da divisão com que Isaías se confrontou. Desde logo, o pecado do racismo e da opressão conduzida por grupos que se consideram superiores por qualquer razão. Foi no Minnesota que se registou a maior execução em massa da história dos EUA (em 1862, quando 38 indígenas do povo Dakota foram enforcados em Mankato, logo a seguir ao dia de Natal); e foi ali que, em Março de 2020, o jovem afro-americano George Floyd morreu vítima da violência de um polícia de Minneapolis.
O racismo e a segregação continuam a imperar nas sociedades – e nos EUA, em concreto, ele atinge as comunidades cristãs que muitas vezes ainda se organizam segundo a cor da pele, retirando a muitas pessoas a sua dignidade. O sofrimento provocado pela covid-19 a tantas pessoas foi mais um exemplo da indignidade em que tantas pessoas vivem e que são um desafio para a acção comum dos cristãos. “Felizes os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o Reino do Céu”, diz Jesus numa das bem-aventuranças, recordada a propósito pelo grupo que redigiu os conteúdos da Semana pela Unidade.
“A opressão é prejudicial a toda a raça humana. Não pode haver unidade sem justiça”, propõe o texto, recordando que o compromisso dos cristãos exige que se defendam as pessoas sem voz, que se comprometam no desmantelamento de estruturas “que criam e sustentam a injustiça, construindo outras que promovem e garantem que todos recebam tratamento justo e o respeito pelos direitos que lhes são devidos”.
Nesta Semana de Oração, devem os cristãos, por isso, continuar a perguntar-se: “Como podemos viver a nossa unidade de cristãos para enfrentar os males e as injustiças do nosso tempo?”
Celebrações e diálogos em Portugal

Celebração dos 50 anos da fundação do Conselho Português de Igrejas Cristãs (Copic), em Junho 2021, em Lisboa; em Portugal, o caminho de diálogo entre cristãos de diferente igrejas é ainda uma planta frágil. Foto © António Marujo
Em Portugal, a semana será assinalada com diferentes iniciativas. A celebração de carácter nacional, que contará com responsáveis de diferentes igrejas, decorre na Igreja Evangélica Metodista do Mirante, no Porto (dia 21, 16h), reunindo católicos, lusitanos/anglicanos, metodistas, ortodoxos russos, ortodoxos gregos e luteranos.
Também com um carácter nacional, realiza-se em Lisboa (Igreja do Campo Grande, 20 de Janeiro, 21h30) a Vigília ecuménica jovem, que reúne católicos, metodistas, presbiterianos, lusitanos/anglicanos e outras confissões.
Na zona centro, decorrem celebrações em diferentes igrejas em cinco noites diferentes, sempre às 21h: dia 19 na Igreja Presbiteriana, (Bebedouro, Montemor-o-Velho), 20 na capela católica de Portomar (Mira), 23 na igreja católica de Cadima (Cantanhede), 24 na Igreja Presbiteriana de Alhadas (Figueira da Foz) e 25 na Igreja de Santo António dos Olivais (Coimbra).
Também de carácter local, mas com uma dinâmica alargada e de numa perspectiva interconfessional, está previsto para dia 28 o Encontro Cristão de Sintra, iniciativa que se realiza há já vários anos, reunindo cristãos católicos, protestantes, evangélicos e de outras denominações. Este ano, a iniciativa decorre no Centro Cultural Olga Cadaval e reunirá pequenos grupos das diferentes comunidades entre as 16h e as 22h30, com o objectivo de alargar a rede de diálogo entre pessoas de diferentes igrejas. Durante a tarde serão debatidos temas como o cuidado da casa comum, a reconciliação entre cristãos e a secularização da Europa. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone 910 373 745.
(A primeira parte deste texto foi inicialmente publicada no nº 404 da revista Bíblica, correspondente aos meses de bimestre Janeiro-Fevereiro)