
“O trabalho nesta era digital tornou-se o elo mais fraco, mais esquecido, invisível e dispensável”, considera o coordenador da LOC/MTC. Foto © Christina Wocintechchat/Unsplash.
O trabalho nesta era digital tornou-se “o elo mais fraco, mais esquecido, invisível e dispensável, embora seja o palco em que se joga boa parte da concretização dos direitos humanos e da dignidade da pessoa humana” – e esse é um dos temas que Américo Monteiro, coordenador nacional da Liga Operária Católica/Movimento de Trabalhadores Cristãos (LOC/MTC), refere ao 7MARGENS como tendo sido dos mais significativos nos debates dinamizados durante o seminário internacional que decorreu no último fim-de-semana, 13 e 14 de março.
Sob o tema “Evolução das relações e formas de trabalho na era digital – ‘Trabalho’ ‘Trabalhador’ ‘Empresa’ – Organização dos trabalhadores e sua representação”, o seminário, organizado via internet a partir da Junta de Freguesia de Cacia (Aveiro), contou com a participação de inúmeros peritos nacionais e estrangeiros e representantes de organizações de trabalhadores católicos de Portugal, Alemanha, República Checa, França e Espanha.
O bispo de Aveiro, António Moiteiro, presidiu à abertura dos trabalhos e apresentou uma reflexão “aprofundada sobre a cultura digital e o trabalho”, as preocupações e oportunidades inerentes, e sublinhou a existência de “muitos circuitos fechados, que alimentam notícias falsas e provocam discórdia na sociedade”.
Na sessão de encerramento participou Cristina Tavares, operária corticeira, que “falou da sua experiência de vida e de luta no processo de assédio moral na empresa, bem conhecido dos portugueses”.
De acordo com Américo Monteiro, Cristina Tavares referiu que “nunca quis qualquer protagonismo e o que a motivou foi e é a necessidade de ter trabalho e salário para a sua subsistência”. O bispo sublinhou ainda que a operária “muitas vezes se refugiou na oração para continuar a ter forças e levar até ao fim a luta pelos seus direitos”.
Presente via online nesta sessão esteve também o presidente do Sindicato dos Corticeiros, Alírio Martins, que “acompanhou todo o processo e foi a primeira testemunha do que estava a acontecer”. Os participantes no seminário tiveram acesso a “uma panorâmica de toda a luta travada e ainda em curso” ficando “mais clara a importância da solidariedade”. Alírio Martins explicou também “como avançou para despoletar toda a onda de solidariedade que se desencadeou, pedindo audiências e colocando o assunto junto das entidades, junto da Igreja local e diocesana, junto da sua central sindical e a nível político”.

Cristina Tavares: “O que a motivou foi e é a necessidade de ter trabalho e salário para a sua subsistência”. Foto: Direitos reservados.
Diálogo social e Plano de Ação
Na avaliação pessoal do seminário feita ao 7MARGENS, o coordenador nacional da LOC/MTC valorizou também o debate que contou com a participação do ex-ministro da Saúde António Correia de Campos sobre “que assuntos dos trabalhadores colocar e como, na agenda política, sindical e empresarial, que fortaleçam o diálogo social e um desenvolvimento harmonioso?”.
Desse debate, Américo Monteiro reteve a necessidade de “fortalecer o diálogo social como um meio para alcançar o progresso social e económico”, mas também como “um fim em si mesmo, uma vez que dá voz e possibilita às comunidades uma participação ativa, na sociedade e nos locais de trabalho, pelo que é um agente de cidadania.”
Para o coordenador da LOC/MTC, ficam várias interrogações para reflexão futura: “Diálogo social existe sempre, a questão está em saber se ele se desenvolve com a qualidade necessária”, refere. Se “a qualidade pressupõe opiniões informadas, baseadas no conhecimento, estará o diálogo social a incidir sobre assuntos de interesse comum?”, questiona. E acrescenta: “Estará o diálogo social a incidir sobre tópicos atuais? A automação, a digitalização, a demografia e a globalização são vetores de mudança e de desafio – será que estão a ser tidas em conta no diálogo social?”.
Reflexões que “vêm complementar a formação dos participantes, na perspetiva de um maior empenhamento militante pela cidadania e o bem comum” e ajudam a “fundamentar as nossas convicções”, conclui Américo Monteiro, lembrando que o Plano de Ação Nacional da LOC/MTC para 2021 tem como ideia base “o valor da pessoa humana no centro de tudo”.