
Atividade de início de ano letivo no Seminário Conciliar de Braga. “Como repensar a formação nos seminários?” é uma das questões que vai estar no centro da reflexão do congresso promovido no âmbito dos 450 anos desta instituição. Foto: Direitos reservados.
Cada vez mais vazios e com poucos candidatos à vista, os seminários “encontram-se numa encruzilhada”. A necessidade de mudança é clara, mas “não há soluções fáceis”, reconhece o padre Joaquim Félix, vice-reitor do Seminário Conciliar de Braga. A celebração dos 450 anos desta instituição constituiu-se, assim, como o pretexto ideal para organizar um congresso internacional sobre a problemática dos Seminários Católicos e promover “uma reflexão urgente, que se impunha”. A iniciativa decorre entre os dias 16 e 19 de novembro (desta quarta a sábado), no Auditório Vita (Braga), tem entrada livre (mediante inscrição), e é “aberta a todos”.
“Erguendo os olhos e vendo” é o mote que inspirará os quatro dias de trabalho, cujo programa foi definido por uma comissão científica da qual fazem parte professores da Universidade Católica Portuguesa e da Universidade do Minho. Coordenado pelo padre Joaquim Félix, o grupo considerou que os seminários “espelham a Igreja à procura de se entender, com percetível fadiga institucional e falta de clareza”, pelo que “requerem atenção apurada”, e não teve dúvidas: era neles que tinha de ser colocado o foco do congresso.
“Continuar a formar num modelo ministerial esgotado?”, ou “Como repensar a formação nos seminários?” são algumas das questões que vão estar no centro da reflexão de oradores e congressistas. O passado será revisitado para analisar como “a ideia do presbitério foi mudando de acordo com as etapas da História” e, “num exercício quase de imaginação profética, o objetivo será perceber onde é que estes 450 anos nos poderiam levar, tendo em conta a experiência adquirida e a forma como respondemos a anteriores desafios”, explica o vice-reitor do Seminário Conciliar de Braga ao 7MARGENS, poucas horas antes do início do congresso.

Cartaz de divulgação do congresso. Dos oradores, é esperada “uma reflexão honesta, livre de clichés, e em profundidade”.
Entre os mais de 20 oradores, escolhidos “pela sua relevante produção bibliográfica, iniciativas, projetos e missões que desempenham”, incluem-se Hervé Legrand (vice-presidente da Academia Internacional de Estudos Religiosos), Cristina Inogés Sanz (teóloga leiga nomeada pelo Vaticano para a Comissão Metodológica da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos e colaboradora regular do 7MARGENS), Alberto Melloni (historiador italiano, professor da Universidade de Modena-Reggio Emilia e diretor da Fundação de Ciências Religiosas João XXIII, de Bolonha) e Céline Béraud (diretora dos Estudos da EHESS – École des Hautes Études en Sciences Sociales, Paris).
De todos eles, o vice-reitor do Seminário Conciliar de Braga espera “uma reflexão honesta, livre de clichés e em profundidade”, a partir de “um contexto alargado do que é viver hoje no mundo e de como a Igreja se inscreve nele”, e “tendo como horizonte uma melhor preparação dos candidatos a presbíteros neste universo mais aberto, para que os seminários sejam capazes de se alinharem pelos grandes desafios que se colocam ao mundo hoje no serviço das comunidades e no diálogo com os diversos mundos”.
“Não há soluções fáceis nem projetos exemplares”
“Sentimos a necessidade de mudança, ainda assim sem grandes certezas”, confessa o padre Joaquim Félix, sublinhando que já foi feito um trabalho de pesquisa de “boas práticas” que estivessem a desenvolver-se nos restantes seminários da Europa, mas sem sucesso. “Infelizmente, não encontrámos projetos educativos dignos de serem tidos por ‘exemplares’ e a nossa realidade é similar à de outros países”, afirma.
Essa realidade passa, sem exceções, pela diminuição do número de seminaristas, a par da “debandada de jovens das paróquias”, nomeadamente a partir do momento em que recebem o sacramento da confirmação. “À medida que o êxodo de cristãos se acentua, de jovens e adultos em particular, diminui a plausibilidade de haver candidatos aos seminários”, explica Joaquim Félix. “Acompanhamos o ritmo que se verifica na própria vida comunitária.”
Face ao panorama, e tendo consciência de que “não há soluções fáceis para estas matérias”, o também professor da UCP espera do congresso que seja “muito interrogativo” e que contribua para “interpretar” os “muitos sinais aos quais não estamos alheios”.
Encontram-se inscritos mais de cem participantes, na sua maioria elementos das equipas de formação dos seminários em Portugal, aos quais foi endereçado um convite direto por parte da organização. O congresso é, no entanto, “aberto a todos” e aqueles que queiram participar e não tenham feito inscrição prévia, poderão registar-se no local, à chegada.