
Crianças numa escola corânica em Touba, Senegal. Foto © ho visto nina volare/Wikimedia Commons.
O Estado senegalês quer recrutar uma centena de professores para as escolas corânicas, com o objectivo de encontrar pessoas que garantam o combate aos abusos nestes estabelecimentos de ensino.
A decisão surge num contexto em que há frequentes denúncias de abusos em escolas conhecidas como daaras. O imã Mouhamadou Makhtar Kanté diz que essa pode ser uma forma de resolver o problema da mendicidade, a que muitas crianças que residem nessas escolas são obrigadas. Pelo menos 29 professores ou assistentes de escolas corânicas foram processados por abuso contra crianças entre 2017 e 2019. Desses, 25 foram até agora condenados, incluindo oito por tráfico de seres humanos.
No último domingo, 4 de Julho, foram já realizadas dezenas de entrevistas a candidatos entre os 21 e os 40 anos. Há 145 pessoas escolhidas previamente, mas apenas 100 ficarão colocadas, esclareceu Babacar Samb, inspector das escolas do Alcorão no Senegal, citado no La Croix.
Para uma primeira experiência, o Estado pretende começar com cerca de trinta escolas públicas corânicas desde Novembro de 2020. Mas na primeira fase, apenas 24 estarão prontas a funcionar, em cinco das 14 regiões do país.
A Human Rights Watch e a Plataforma para a Promoção e Protecção dos Direitos Humanos inventariaram, num relatório relativo a 2018-2019, situações de abusos graves e recorrentes em crianças que frequentam escolas corânicas no Senegal, país maioritariamente muçulmano. Actualmente, mais de 100.000 crianças são obrigadas pelos professores do Alcorão a mendigar.
Diabel Kouyaté, imã em Dacar, sublinha, por seu lado, que este recrutamento pode evitar que continue a haver pessoas mal formadas que deturpam os valores do islão, como tem acontecido.