“Senti-me lixo, humilhada, não foi fácil” – Denúncia da operária corticeira Cristina Tavares, em tribunal

Cristina Tavares. Foto © SOCN
A situação de desemprego forçado da operária corticeira Cristina Tavares mantém-se, mas os desenvolvimentos do caso, nas últimas semanas, têm sido favoráveis à trabalhadora de Santa Maria de Lamas, Feira. Enquanto aguarda a apreciação do recurso judicial, a operária encontra-se a frequentar um curso de formação profissional no sector da cortiça, tendo, para o efeito, sido já inscrita no Centro de Emprego.
Na sequência das iniciativas de solidariedade por parte dos sindicatos, o ministro Vieira da Silva esteve no início do ano no Parlamento, onde garantiu aos deputados que a tramitação do pedido de acesso de Cristina Tavares ao subsídio de desemprego tinha sido desbloqueado. Na sequência dessa iniciativa, a trabalhadora poderia começar a recebê-lo a partir do momento em que apresentasse prova da contestação judicial do novo despedimento de que foi alvo, no final de 2018.
Entretanto, vários órgãos de informação noticiaram que a empresa Fernando Couto Cortiças S.A, para a qual Cristina Tavares trabalhava há largos anos, viu ser-lhe aplicada uma segunda coima, de 6.000 euros, pela forma como tratou a trabalhadora, nos planos da segurança e da saúde, depois de ter sido judicialmente obrigada a reintegrá-la, após um primeiro despedimento.
Em declarações prestadas à agência Lusa, o presidente do Sindicato dos Operários Corticeiros do Norte, Alírio Martins, salientou que “as funções em que a puseram a trabalhar não eram as adequadas à sua categoria profissional nem à sua saúde, como estava explicado em atestado médico”. O “castigo” imposto, segundo o Sindicato, foi obrigá-la, “dias e dias a fio, a carregar e a descarregar sempre os mesmos sacos – que, além de pesados, não estavam a servir para mais nada a não ser para a atormentar e humilhar”.
Uma primeira coima de 31 mil euros, determinada pela Autoridade para as Condições de Trabalho, tinha já sido aplicada à empresa, em novembro passado, por “assédio moral” sobre Cristina Tavares. A Fernando Couto Cortiças S.A recorreu e, na semana passada, decorreu no Tribunal de Santa Maria da Feira uma sessão para apreciar o recurso.
Nessa sessão, a inspetora da Autoridade para as Condições de Trabalho confirmou, na última quinta-feira, 28 de março, no tribunal da Feira, que Cristina Tavares estava a trabalhar em “circunstâncias penosas” e em funções não apropriadas. A isto, e segundo relata o Jornal de Notícias, o advogado da entidade empresarial respondeu que a inspectora estava com “grande pica” para incriminar a empresa.
Ouvida na qualidade de testemunha, a trabalhadora relatou ter estado “dois dias de pé sem fazer nada durante nove horas”. “Já não podia, encostei-me num muro, mas disseram-me que não podia lá estar” – denunciou, segundo relato do JN.
Depois disso, a trabalhadora foi colocada numa plataforma que se encontrava a vários metros do solo, onde carregava e descarregava a mesma palete, durante nove horas. “O calor era imenso, porque estava a meio metro das chapas [de cobertura]”. “Cheguei a deitar sangue pelo nariz”, recordou.
Acrescem as denúncias de que tinha que trazer papel higiénico de casa, da falta de cacifo como era atribuído a outras trabalhadoras e a proibição de estacionar dentro da empresa.
“Senti-me lixo, humilhada, não foi fácil”. “Foi muito difícil, ainda hoje não consigo dormir. Estou com uma depressão, foi humilhante”, concluiu, sempre citada pelo diário portuense.