Que espero do Sínodo católico? (2)

Servir sociedades destroçadas

| 27 Set 2023

Na véspera da reunião da Assembleia-Geral do Sínodo dos Bispos sobre a Sinodalidade, o 7MARGENS convida os seus leitores a dizerem o que esperam deste importante acontecimento. Todos são chamados a expressarem-se. Após a publicação do primeiro texto, divulgamos hoje o segundo texto recebido e publicaremos as respostas àquela interrogação à medida que nos forem chegando.

O que esperamos do sinodo_7 margens

 

Espero que esta assembleia sinodal seja um sinal de grande abertura para continuarmos a caminhar juntos. Que seja uma etapa de onde saiam um renovado entusiasmo e novos desafios para mais um ano de encontros, reflexão, propostas e concretizações por parte de grupos de católicos em todo o mundo. Que seja um momento de espanto para crentes e não crentes: “tanta coisa os separa, tantas opiniões opostas, tantos modos diferentes de expressar a fé e, no entanto… tanta vontade, tanto gosto, tanta certeza em permanecerem juntos”.

Hoje, o desafio que se coloca à Igreja Católica é um pouco diferente daquele que ela enfrentava em vésperas do Concilio Vaticano II. Naquele tempo tratava-se de consolidar uma pirueta que já se vinha anunciando em alguns setores eclesiais: deixar de amaldiçoar a modernidade e reconciliar-se com ela; abrir as janelas de uma Igreja acantonada, que os seus medos obrigavam a ver-se como sociedade perfeita de portas trancadas para o mundo e a sociedade.

Infelizmente, como muitos historiadores abundantemente documentam, o Concílio preparou a Igreja para viver aberta à modernidade quando esta estava a dar lugar à pós-modernidade. O descompasso regressou e em muitos lugares a Igreja voltou a ser um refúgio de segurança para quantos se sentiam agredidos pelos ventos da pós-modernidade.

Hoje, porém, o repto que a Igreja Católica e este Sínodo em particular enfrentam não é o de pacificar a relação da instituição com a cultura pós-moderna. Apesar de centrada num tema – a sinodalidade – que em grande parte remete para o modo de se organizar (de “ser”, dizem os católicos) e, portanto, para questões do foro “interno”, o verdadeiro desafio que a assembleia do próximo mês de outubro enfrenta é o do urgente serviço ao mundo e às sociedades que o compõem.

Mais do que nunca, o mundo destroçado e em guerra em que vivemos e as sociedades de ferozes antagonismos e irredutíveis clivagens em que nos movemos interpelam a Igreja. Francisco, com a sua palavra, as suas opções, gestos e escolhas não se tem furtado a mostrar os caminhos de superação dos dilacerantes conflitos que nos atravessam. O Sínodo pode prestar a essas causas um grande serviço. Mais pelo modo como se dispuser a trabalhar os temas “internos” propostos pela reflexão de milhões de católicos de todo o mundo, do que através de dramáticas decisões.

Ao estimular a participação de todos os batizados, trocando uma estrutura piramidal por outra horizontal de círculos concêntricos em que a responsabilidade e a decisão partilhada são os princípios básicos, o Sínodo ajudará a contrariar a crise da democracia e a aprofundar a participação democrática.

Ao pôr termo à discriminação das mulheres, ajudará a acelerar os numerosos passos que ainda são precisos dar para uma tranquila igualdade de género.

Ao rever a sua doutrina sobre a sexualidade libertará milhões de pessoas de uma opressão absolutamente injustificável.

Ao dar-se a paz e apontar novos compromissos em favor da paz; ao impor-se comportamentos amigos da sustentabilidade do planeta; ao apresentar-se frugal, simples e frágil – será lembrado como agente de paz, ator na defesa do planeta e voz dos mais pobres.

A assembleia sinodal será tão mais significativa quanto demonstre que a reconciliação é necessária e é possível.  Ao mostrar que a diferença de opinião, das formas de entender e dos modos de fazer não é razão para começar guerras nem para inviabilizar o caminhar juntos, mas é antes uma riqueza imprescindível ao avanço da humanidade, à abertura de novos horizontes e de sínteses futuras; ao mostrar que acarinha a diferença e que constrói a unidade sem anular as diferenças, a assembleia sinodal prestará grande serviço ao mundo atual, incapaz de recriar um “nós” depois de escutadas todas as dissensões.

O que está em jogo neste outubro em Roma nada tem a ver com um confronto entre progressistas e conservadores. Do que se trata é de acender “uma pequena luz bruxuleante” nos tempos sombrios que nos envolvem. Não como quem ensina, mas como quem se atreve a viver de acordo com essa luz. A forma como debaterem e as recomendações a que chegarem os participantes do Sínodo não são apenas decisivas para o futuro próximo da Igreja Católica. São também decisivas para, num mundo com medo de si próprio, alimentarem a esperança. Para darem nova esperança aos que desejam a paz, aos que sonham um planeta amigo da vida, a quantos lutam para erradicar a fome e a pobreza e a todos os que aspiram a viver em sociedades democráticas e livres de todo o tipo de abusos, na terra que os viu nascer.

 

Jorge Wemans

 

Nazila Ghanea: “Espero que aumente a experiência da liberdade de religião ou crença”

Relatora especial da ONU em entrevista

Nazila Ghanea: “Espero que aumente a experiência da liberdade de religião ou crença” novidade

Relacionar a violação da liberdade de religião e de crença com questões como a tortura ou a juventude, por exemplo, são algumas das prioridades da britânica e iraniana Nazila Ghanea, que desde Agosto de 2022 é a Relatora especial das Nações Unidas sobre a Liberdade de Religião e de Crenças. Ghanea trabalha na Universidade de Oxford (Reino Unido) desde há 20 anos, exactamente quando começou a trabalhar o tema da liberdade religiosa, na pesquisa que fez para o seu doutoramento.

800 anos do Presépio de Greccio: Natal, a Festa das Festas

Pré-publicação

800 anos do Presépio de Greccio: Natal, a Festa das Festas novidade

Dois milénios depois de Belém e de Jesus e 800 anos após Greccio e S. Francisco de Assis, o que resta do Natal cristão? E como recuperar o sentido do Presépio? Afinal, no presépio de Greccio não havia Menino, mas apenas o boi, o burro e a manjedoura?… É a perguntas como essas que se propõe responder o livro “De Belém a Greccio –O Presépio de São Francisco de Assis”. Pré-publicação.

Apoie o 7MARGENS e desconte o seu donativo no IRS ou no IRC

Breves

 

COP28 entre o fracasso e a expectativa de avanços significativos

A cinco dias do fim

COP28 entre o fracasso e a expectativa de avanços significativos novidade

Nenhum participante tem expectativas muito altas em relação ao desfecho da COP28, mas o sentimento mais comum entre os ativistas do clima presentes nos Emirados Árabes Unidos é o de que ainda é possível “dar a volta” e evitar o fracasso total. Islene Façanha, colaboradora da associação ambientalista Zero, falando ao 7MARGENS a partir do Dubai, referiu a “pressão das organizações não governamentais tem sido muito forte” o que mantém em aberto as “possibilidades de avançar”.

Tolentino Mendonça e Céline Cousteau doutorados “honoris causa” pela Universidade de Aveiro

No próximo dia 15

Tolentino Mendonça e Céline Cousteau doutorados “honoris causa” pela Universidade de Aveiro novidade

O cardeal, poeta e teólogo Tolentino de Mendonça e a exploradora e autora de documentários sobre a biodiversidade Céline Cousteau vão receber o doutoramento honoris causa pela Universidade de Aveiro (UA) durante a cerimónia de comemoração dos 50 anos da Academia, anunciou a instituição. A sessão decorrerá no próximo dia 15 de Dezembro.

Americanos afastam-se das religiões estabelecidas, mas acreditam na existência da alma

Sondagem

Americanos afastam-se das religiões estabelecidas, mas acreditam na existência da alma novidade

Quatro em cada cinco americanos adultos acreditam que as pessoas têm uma alma ou espírito além do corpo físico, revela uma sondagem publicada no dia 7 de dezembro pelo Pew Research Center. O centro de investigação sublinha que “apesar de nas últimas décadas a população residente nos EUA ter vindo a identificar-se cada vez menos com uma religião estabelecida, a crença num reino espiritual além deste mundo continua a ser generalizada”.

Agenda

Fale connosco

Autores

 

Pin It on Pinterest

Share This