Contributos para o Sínodo (1)

Sínodo nas prisões: que a Igreja me ajude a preparar a liberdade

| 7 Jun 2022

Átrio dos Gentios 2020, Brasil, O Bom Samaritano, Caio Beltrão

Átrio dos Gentios 2020, Brasil, Ilustração O Bom Samaritano, de Caio Beltrão

 

Uma Igreja mais despojada, mais próxima de quem sofre e que ajude a preparar o regresso à liberdade. Estas são algumas das ideias dos detidos nos estabelecimentos prisionais de Custóias e Santa Cruz do Bispo (feminino), em Matosinhos, e do anexo à Polícia Judiciária, do Porto. Com este documento iniciamos a publicação de contributos de grupos enviados como forma de participação na maior auscultação alguma vez feita à escala planetária, lançada pelo Papa Francisco, para preparar a assembleia do Sínodo dos Bispos de 2023. Esse coro imenso de vozes não pode ser silenciado, reduzido, esquecido, maltratado. O Espírito sopra onde quer e os contributos dos grupos que se formaram para ouvir o que o Espírito lhes quis dizer são o fruto maduro da sinodalidade. O 7MARGENS publica alguns desses contributos, estando aberto a considerar a publicação de outros que queiram enviar.

Neste caso, a recolha dos contributos foi feita pelos cerca de 30 elementos da pastoral prisional que ali apoiam o capelão. Responderam ao inquérito 65 pessoas (36 em Custóias, 15 em Santa Cruz e 14 no anexo da PJ). 


Notas prévias

1. Apesar de nas nossas celebrações e acções de formação termos insistido muito no facto de a Igreja sermos todos os baptizados, ainda permanece nalguns a ideia de que a Igreja é uma instituição hierárquica a que não pertencem e de quem estão distantes.

2. Muitas respostas sobre a Igreja Católica referem-se à presença e actuação da mesma na prisão através do capelão prisional (padre) e dos seus colaboradores.

3. As frases que a seguir são reproduzidas entre aspas são literais e, embora algumas sejam ditas em nome pessoal, elas são representativas de um grupo de reclusos.

COMO VEJO A IGREJA CATÓLICA

  1. O que está bem nela

Mensagem

De uma maneira quase uniforme, todos os reclusos e reclusas manifestaram opiniões muito positivas quando se manifestaram sobre o que está bem na Igreja Católica.

Na sua grande maioria, os reclusos dão muito valor “à sua mensagem e amor e de paz”, “de amor a Deus e ao próximo.” Reconhecem a sua “ajuda para encontrar paz e para ser uma pessoa melhor do que quando entrei aqui.” Reconhecem que a Igreja Católica “faz com que sejamos melhores pessoas, com que tenhamos mais paz espiritual e nos demos bem com toda a gente.”

Afirmam que “ela traz-nos a palavra de Deus através do seu Filho Jesus, ela trata todos por igual dando, no entanto, mais atenção aos mais fracos: presos, doentes, os que não têm nada e dá-lhes alento, força e uma luz.” “Ela não julga o que a pessoa possa ter feito no passado. Ajuda a encontrar formas de interpretar os nossos erros.” 

Presença

Realçam a presença da Igreja Católica junto das pessoas marginalizadas: “Ela dá apoio aos mais necessitados”, “ajuda muito as pessoas”. 

“Enquanto comunidade nas prisões, vejo-a como uma força, uma luz, uma esperança. Sinto-me respeitado.” “A Igreja Católica está no bom caminho com este Papa.” 

Esta frase dum recluso, talvez resuma o sentir de quase todos: “Igreja Católica faz-me bem!

  1. O que está menos bem nela/O que gostaria que fosse mudado

Mensagem

Muitos reclusos referem-se à forma, menos adequada aos tempos actuais, como a Igreja Católica tenta passar a sua Mensagem: “A forma antiquada como a mensagem é passada”; “devia ser mais prática, não tão teórica”; “não dissertações bonitas mas mais objectivas”; “menos formalidade na passagem da mensagem, mais rejuvenescida e mais dedicada aos jovens”. A Igreja deveria mudar “a maneira como faz as celebrações”.

Gostariam que a Igreja Católica evoluísse consoante o tempo que vivemos”, que tivesse “uma mente mais aberta”, “que os padres pudessem casar”.

Alguns referem-se concretamente às celebrações eucarísticas: “Missas monótonas e maçadoras o que não prende para assistir a tal.” “A Igreja devia evoluir”, “tem que ir mais de encontro à sociedade”, “Missas mais apelativas, mais inovadoras. Evoluir mais de maneira a cativar mais as pessoas”.

Proximidade

Bastantes reclusos manifestam o seu desejo de que a Igreja Católica “esteja mais próxima dos reclusos.”

Alguns referem que a Igreja Católica deveria ter “mais integração das pessoas na sua actividade; não estar tão dependente dos seus discípulos ou colaboradores directos (sacerdotes e outros clérigos)”; deveria dar mais apoio aos pobres”; gostavam “que a Igreja visitasse as pessoas que não têm ninguém que as visite”.

Pedofilia e abusos sexuais

Este é o ponto menos positivo apontado à Igreja por uma grande maioria dos reclusos:

“As pessoas começam a desacreditar na Igreja devido ao comportamento de alguns padres”. Apontam a “pedofilia e os abusos sexuais contínuos” como o aspecto mais negativo da Igreja Católica”; o encobrimento e a passividade perante os problemas existentes, ex: os abusos sexuais.”

Manifestam o desejo de “que acabassem com a pedofilia”, “que os abusos sexuais fossem completamente inexistentes e punidos”. 

Riqueza

Curiosamente, este é outro tema bastante comum a grande parte dos reclusos: A “riqueza excessiva” da Igreja Católica”.

“Jesus era desprovido de tudo o que era material. Gostava de ver essa humildade nos padres e nos bispos. Que fossem desprovidos de luxo e de riqueza e viessem até nós com humildade”. A Igreja Católica devia utilizar mais a “riqueza que tem para ajudar as pessoas”.

“A Igreja tem que se desprender do luxo; que pense como seria se Jesus viesse de novo.” “Temos de sentir que a Igreja que Jesus pensou para nós não é a Igreja de luxo que vemos no Vaticano”, “gostava que a Igreja ajudasse mais as pessoas carecidas”; “gostaria que houvesse mais transparência no dinheiro/riqueza que recebem e como o utilizam” e que houvesse “mais ajuda às pessoas carenciadas.”

COMO A IGREJA CATÓLICA PODERIA AJUDAR-ME MAIS NESTA SITUAÇÃO DE PRIVAÇÃO DA LIBERDADE EM QUE ME ENCONTRO

Reinserção

Um desejo manifestado por bastantes é que a Igreja esteja mais próxima dos reclusos também na fase da sua saída da prisão: “Gostaria que a Igreja ajudasse mais aqueles que quando saírem da prisão não têm para onde ir”, que a Igreja tivesse maior presença nas cadeias “para que possamos ser mais ajudados para o futuro”.

A Igreja “poderia ajudar-me a preparar-me para quando sair em liberdade ter para onde viver e para onde trabalhar para poder refazer a minha vida”; gostaria “que contribuísse para a minha reintegração na sociedade, ajudando-me a definir um plano para o futuro e com oportunidades de emprego”.

Formação espiritual

Manifestam o desejo de que a Igreja, para além da sua presença na assistência religiosa (celebrações eucarísticas e da palavra), “dê mais formação a nível espiritual e profissional” que ajude a “conhecer-se a si e aos outros”.

Alguns referem que a Igreja deveria fazer “mais reuniões para estudar a Bíblia”, e que deveria haver “oportunidades de formação aos reclusos para interligar a fé, educação e desenvolvimento espiritual”.

Gostavam que Igreja lhes “desse mais proximidade e os preparasse para que, quando saíssem, fossem pessoas diferentes de quando entraram aqui”. 

Sugerem que a Igreja “viesse mais vezes por semana para ajudar os reclusos com a Palavra de Deus que dá muita força aos reclusos” e que “fizesse mais encontros que são fundamentais e nos dão esperança. É o fio a que nos agarramos quando estamos à beira dos abismos para não cairmos”.

Perdão do Papa Francisco

São mesmo muitos os reclusos que se manifestam esperançados num perdão das suas penas aquando da visita, em 2023, do Papa Francisco a Portugal. Justificam esse pedido tendo sobretudo em conta os dois anos de pandemia em que sofreram muito pela ausência do apoio e visitas das suas famílias e amigos.

 A frase seguinte resume o sentir de muitos reclusos sobre este assunto:

“Atendendo a que no ano 2023 temos a vinda do nosso Papa Francisco a Portugal, gostaria que fosse concedido um perdão para que reduzisse a pena dos reclusos de forma a compensar não só os reclusos mas também as famílias, pelas consequências da pandemia ao longo de dois anos”; “o Santo Padre poderia pedir uma amnistia ao Governo pela injustiça e sofrimento dos reclusos nestes últimos anos de pandemia”.

 

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