
Padre dominicano Hervé Legrand pede nomeação de bispos mais sinodal. Foto é captura de ecrã do Youtube
O Sínodo sobre a sinodalidade, em curso até 2023, poderia vir a dar às igrejas locais orientações no sentido de práticas mais participadas, nomeadamente no tocante à escolha dos bispos. Essa é a opinião manifestada pelo padre dominicano Hervé Legrand, um renomado especialista em eclesiologia, numa recente entrevista à jornalista Marie-Lucile Kubacki, da revista francesa La Vie, com o título “E se os bispos deixassem de ser nomeados e passassem a ser eleitos?”
As declarações têm como contexto a atual situação de interinidade da arquidiocese de Paris, depois da demissão do arcebispo Michel Aupetit, no início de dezembro último. Este tema é objeto de uma outra entrevista no mesmo jornal ao historiador Martin Dumont, intitulada “A crise da diocese de Paris é reveladora do estado atual da Igreja Católica”.
À pergunta sobre como se poderia ir ao encontro das responsabilidades dos cristãos (alguns grupos de leigos têm mesmo manifestado vontade de tomar parte no processo de escolha), Legrand, professor emérito do Instituto Católico de Paris, atualmente com 86 anos, começa por assumir que não pode prever o futuro. “Mas pode-se pensar – considera ele – que o atual sínodo sobre sinodalidade não se contentará com discutir [esse assunto]. Dará às igrejas locais alguns meios de fazer isso.”
Legrand dá como exemplo os conselhos pastorais diocesanos e paroquiais, que, faz notar, atualmente não são obrigatórios e poderiam passar a ser. “Seria um primeiro passo na direção certa.”
Na mesma linha, o teólogo chama a atenção para os sínodos diocesanos, que permanecem puramente opcionais. “Torná-los obrigatórios, por exemplo, a cada sete anos, permitiria ao bispo prestar contas aos seus diocesanos sobre o exercício do seu ofício”, considera.
E relativamente à designação dos bispos, “poderíamos pedir – secretamente – a esses diferentes órgãos que proponham nomes de pessoas que poderiam ser bons bispos”, acrescenta.
Hervé Legrand concorda que uma eleição “universal” dos bispos se sujeitaria ao jogo de grupos de pressão, e por isso a recusa; mas nem por isso defende a solução atual, secreta e conduzida pelos núncios apostólicos.
Como refere, a nomeação dos bispos pelo Papa é uma regra bastante recente e “menos fundada na tradição e em doutrina do que a eleição pela respetiva igreja local”.
Em meados do século V, o Papa Leão recordava com vigor aos bispos da Gália que “aquele que a todos preside, deve ser eleito por todos”. “Mesmo que os príncipes cristãos tenham imposto muitas vezes os seus candidatos às principais sés, essa regra [da eleição] conservar-se-á” até à modernidade – 1917, no caso do Código de Direito Canónico que nessa altura mudou.
E no entanto, uma vintena de dioceses na Alemanha e na Suíça, assim como as igrejas católicas orientais, continuam a eleger os respetivos prelados, as primeiras através de um capítulo próprio e as segundas através do respetivo sínodo patriarca, recorda.