
Cafunfo, Lunda Norte, Angola. Foto: Mosaiko
A pobreza extrema que atinge já grande parte da população de Angola motivou críticas violentas do presidente da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST), D. José Imbamba, na sessão de abertura dos trabalhos da primeira reunião plenária anual da CEAST.
De acordo com o retrato dramático feito pelo bispo, e citado pela Fundação AIS, calcula-se que cerca de um terço dos angolanos está desempregado, com a falta de trabalho a afetar de forma brutal, com quase 60 por cento, os mais jovens.
“A situação de pobreza por parte de muitas famílias continua assustadora”, apontou José Imbamba, fazendo, de seguida, um retrato duro e cru desta realidade ao lembrar que é comum ver pessoas à procura de alimentos “nos contentores de lixo, nos degraus nas estradas adjacentes aos postos comerciais”.
“A perda de poder de compra das famílias é um facto gritante e dura há muitos anos, apesar das medidas aqui e acolá que vão surgindo, mas o espectro ainda se mantém vivo. Os produtos da cesta básica permanecem altos, o desemprego de milhares de jovens continua a agitar a vida social e em muitos deles é notório o desespero e a perda de fé no futuro.”
O arcebispo de Saurimo fez também uma referência à seca no sul de Angola que está a gerar também uma situação de fome que está a atingir cada vez mais população.

D. José Imbamba: “A situação de pobreza por parte de muitas famílias continua assustadora”. Foto © Fundação AIS.
Num tempo politicamente muito importante – 2022 será ano de eleições legislativas em Angola – José Imbamba apelou ao sentido de responsabilidade das populações e pediu aos católicos para evitarem o absentismo, criticando o afastamento entre os responsáveis políticos e as populações, que pode gerar até violência.
Organizações criticam Presidente
Já em 12 de dezembro de 2021, diversos representantes da Igreja Católica, organizações de direitos humanos e instituições académicas angolanas assinaram uma nota de protesto contra o Presidente angolano, João Lourenço, acusando-o de ter “relativizado a fome” no país, durante o discurso de encerramento do congresso do seu partido, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA).
A nota foi enviada a João Lourenço, com conhecimento do Conselho das Nações Unidas para os Direitos Humanos e da Comissão Africana dos Direitos Humanos e dos Povos.
“As palavras proferidas por Vossa Excelência são um insulto direto a todas as famílias que perderam os seus entes queridos por causa da fome. Afinal, desde que a sociedade civil começou o alerta, se o Estado angolano se posicionasse e trouxesse a necessária ajuda, com apoio da Comunidade Internacional, a maior parte das pessoas não teria perecido”, pode ler-se na nota.
“Mais de dez mil angolanos refugiaram-se na República da Namíbia e estão à mercê da ajuda deste Governo, fugidos de suas zonas de origem por causa da fome”, referem ainda, acrescentando que “as cidades do Lubango, Huambo, Benguela e Luanda estão pejadas de pedintes com fome, alguns deles infantes com menos de dez anos”.
No seu discurso, o Presidente angolano havia destacado o aumento da produção alimentar no país, criticando os adversários que, “de manhã à noite só cantam uma música: fome, fome, fome”. “A fome é sempre relativa”, afirmou João Lourenço, perante os militantes do partido que governa o país há 46 anos.
O Programa Alimentar Mundial alertou no final de novembro que Angola vive a maior seca dos últimos quarenta anos. Segundo noticiado pelo 7MARGENS, a situação, que é considerada de “catástrofe” obrigou já pelo menos um milhão e 300 mil pessoas a deslocar-se para outras províncias ou para a vizinha Namíbia, onde possam encontrar água e pasto para o gado.