Só cardeal Sarah não separa do islão o ataque em Nice, condenado por todos os líderes religiosos

| 30 Out 2020

basilica notre dame nice, foto wikimedia commons M. Strikis

Basílica de Notre Dame de Nice, local dos atentados. Foto © M. Strikis/Wikimedia Commons.

 

 

As reações ao atentado ocorrido esta quinta-feira, 29, na basílica de Notre-Dame, em Nice, foram praticamente unânimes entre líderes religiosos e políticos. Católicos, protestantes, muçulmanos, foram muitos os que condenaram publicamente os “atos bárbaros” que deixaram três mortos e vários feridos, e que fizeram questão de sublinhar que o terrorismo é contrário a todas as religiões, apelando ao perdão e à paz. Fora do grupo ficou o cardeal Robert Sarah, prefeito da Congregação para o Culto Divino, que se limitiu a falar do islamismo como um “fanatismo monstruoso”.

A primeira reação foi a do bispo católico de Nice, André Marceau, logo após o atentado. “Com a maior emoção, acabo de saber da tragédia que atingiu a comunidade cristã dos Alpes Marítimos esta manhã. E uma vez mais a cidade de Nice”, começou por dizer no seu comunicado. “A minha tristeza é infinita como ser humano diante do que outros supostos seres humanos podem fazer”, sublinhou, informando que todas as igrejas da cidade estariam fechadas até novo aviso “e colocadas sob proteção policial”. Apesar da dor, concluía a sua mensagem com o pedido, em jeito de oração: “Que o espírito de perdão de Cristo prevaleça face a estes atos bárbaros”.

Logo a seguir, Marceau recebia uma mensagem do Papa, assinada pelo secretário de Estado, o cardeal Pietro Parolin, condenando “de maneira enérgica tais atos violentos de terror”, e assegurando a “sua proximidade à comunidade católica da França e a todo o povo francês, que chama à unidade”.

Pouco antes, respondendo aos jornalistas, o diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Matteo Bruni, tinha já afirmado que este era “um momento de dor, num tempo de confusão. Terrorismo e violência nunca podem ser aceites. O ataque de hoje semeou morte num lugar de amor e consolação, como a casa do Senhor”.

Bruni referiu ainda que o Papa rezava “pelas vítimas e seus entes queridos, para que cesse a violência, para que as pessoas voltem a olhar-se como irmãos e não como inimigos, e para que o amado povo francês possa reagir unido ao mal com o bem.”

Com um tom completamente diferente seria a mensagem publicada pelo prefeito da Congregação para o Culto Divino, o cardeal Robert Sarah: “O islamismo é um fanatismo monstruoso que deve ser combatido com força e determinação”, escreveu na sua conta de Twitter. “Não vai parar a sua guerra. Nós, africanos, sabemos disso muito bem. Os bárbaros são sempre os inimigos da paz. O Ocidente, agora a França, deve compreender isso”, acrescentou. Em quatro linhas, Sarah deitava assim por terra o espírito da recente encíclica de Francisco, Fratelli Tutti, na qual a responsabilidade dos líderes religiosos no trabalho por uma cultura da paz e do entendimento entre as diferentes religiões é uma das ideias-chave.

Mais alinhado com o Papa esteve o Conselho Mundial de Igrejas (CMI), que agrupa cerca de 350 igrejas cristãs não católicas (sobretudo protestantes e ortodoxas). Num comunicado divulgado na página da instituição, o secretário-geral interino, o padre ortodoxo romeno Ioan Sauca, afirmou que “não pode haver uma justificação religiosa legítima para esta brutalidade, e toda e qualquer tentativa de justificar tais ataques com base na religião tem de ser categoricamente denunciada”.

De acordo com a agência Reuters, citada pelo jornal Público, também um representante do Conselho Francês da Fé Muçulmana condenou o ataque e, “como sinal de luto e de solidariedade para com as vítimas e os seus familiares”, pediu a “todos os muçulmanos em França que [cancelassem] todas as celebrações” do nascimento do profeta Maomé, que terminavam esta quinta-feira.

Países árabes também repudiam violência em nome da religião

A corrente de solidariedade e condenação estendeu-se a inúmeros líderes de países árabes, destacou o Religión Digital. Entre eles, a Arábia Saudita, o Egito, os Emirados Árabes Unidos, a Jordânia, e até mesmo a Turquia, cujo Ministério dos Assuntos Exteriores emitiu um comunicado afirmando que aqueles que “organizam um ataque tão brutal num lugar sagrado de culto não respeitam os valores religiosos, humanitários e morais”. “Nenhuma razão pode justificar o assassinato de uma pessoa ou a violência”, diz o texto.

O governo da Jordânia assinalou, por seu lado, que “o terrorismo é um inimigo comum que não tem nada a ver com uma religião específica e que vai contra os valores da vida e da paz que a religião islâmica representa”.

Ao início da tarde de quinta-feira, era ainda divulgada a nota da Conferência Episcopal Portuguesa. “Lamentamos e condenamos mais este ato bárbaro e violento que elimina vidas humanas e atinge a paz nessa região”, afirmaram os bispos. “Partilhamos os sentimentos de emoção e de perdão expressos nas palavras de D. André Marceau (…), com o qual estamos em plena sintonia.”

Da parte da Conferência Episcopal de França (CEF), as palavras foram de choque. Hugues de Woillemont, porta-voz daquele organismo, qualificou o atentado como um ato “inominável” e garantiu que os católicos “não podem ser considerados um alvo a abater”. Em comunicado publicado na sua página oficial, a CEF assumiu uma “imensa tristeza” e deixou o apelo: “É urgente lutar contra esta gangrena do terrorismo, assim como é urgente estabelecer uma fraternidade concreta no nosso país.”

O Presidente francês, Emmanuel Macron, anunciou entretanto que o dispositivo militar de segurança passará de três mil para sete mil soldados, o que permitirá proteger os lugares de culto, em particular durante a festividade de Todos os Santos, que se assinala no domingo, 1 de novembro.

Macron convocou para esta sexta-feira o Conselho de Defesa, no qual, assegurou, serão tomadas medidas para “proteger” os cidadãos e responder com “firmeza e unidade” ao atentado, o segundo em França no espaço de poucas semanas, depois da decapitação de um professor de História nos arredores de Paris.

 

Conselho de cardeais quer “contribuição das mulheres” sobre a dimensão feminina da Igreja

Dois dias de reunião com o Papa

Conselho de cardeais quer “contribuição das mulheres” sobre a dimensão feminina da Igreja novidade

O conselho dos nove cardeais reunidos esta semana com o Papa Francisco debruçou-se sobre a “dimensão feminina da Igreja” e sublinhou a necessidade de sobre este tema “ouvir, também e sobretudo, cada comunidade cristã, para que os processos de reflexão e de tomada de decisão possam beneficiar da contribuição insubstituível das mulheres”. A informação foi divulgada através de um comunicado da Sala de Imprensa da Santa Sé publicado no dia 6 de dezembro.

Apoie o 7MARGENS e desconte o seu donativo no IRS ou no IRC

Breves

 

Perto de Alenquer, está a ser preparada uma “festa inter-espiritual” de Natal

Aberta a todos

Perto de Alenquer, está a ser preparada uma “festa inter-espiritual” de Natal novidade

O Santuário e Centro de Retiros Dewachen, na Aldeia Galega da Merceana (Alenquer), vai assinalar o Natal com uma “festa inter-espiritual”. Nesta celebração, que está agendada para o dia 16 de dezembro, praticantes de várias tradições espirituais “apresentarão as suas sabedorias tradicionais e orientarão práticas meditativas que permitirão um melhor conhecimento, teórico-prático, da riqueza, singularidade e convergência” dessas mesmas tradições. Também haverá música, almoço partilhado, a apresentação de um livro e uma mostra de produtos locais.

Confrontos étnicos intensificam-se em Manipur e fazem mais 13 mortos

Comunidade cristã ameaçada

Confrontos étnicos intensificam-se em Manipur e fazem mais 13 mortos novidade

Pelo menos 13 pessoas foram mortas num tiroteio entre dois grupos armados no nordeste do estado de Manipur (Índia), assolado ao longo dos últimos sete meses por episódios de violência étnica e religiosa. O tiroteio aconteceu no início desta semana, mas desde maio que os confrontos se sucedem, tendo já feito, ao todo, mais de 180 vítimas mortais e 40 mil deslocados. A comunidade cristã tem sido particularmente visada, com mais de 350 igrejas arrasadas e sete mil casas destruídas.

A força do Verbo

A força do Verbo novidade

O texto joanino diz-nos: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez. Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens” (Evangelho de João 1:1-4). (José Brissos-Lino)

Agenda

Fale connosco

Autores

 

Pin It on Pinterest

Share This