
“A guerra na Ucrânia, a seca severa, o aumento dos preços dos alimentos e os onze anos de guerra colocam a Síria em estado crítico”, alerta a organização Médicos do Mundo. Foto © Médicos do Mundo.
A vida de mais de quatro milhões de sírios depende de uma decisão que será tomada pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas este domingo, 10 de julho, sobre a renovação das disposições da resolução transfronteiriça, que assegura o acesso humanitário ao norte do país, região que se encontra há 11 anos em guerra. A organização Médicos do Mundo (MdM) apelou esta quinta-feira a que a renovação seja assegurada por pelo menos mais 12 meses, sublinhando que de outra forma as populações deixarão de ter acesso a alimentos, medicamentos essenciais e outros bens humanitários básicos.
“Não podemos estar a discutir se devemos ou não manter aberta uma passagem fronteiriça, quando dela depende a vida de milhões de pessoas no norte da Síria “, afirma Hakan Bilgin, presidente da MdM Turquia, numa nota de imprensa enviada às redações. Particularmente num momento em que “a guerra na Ucrânia, a seca severa, o aumento dos preços dos alimentos e os onze anos de guerra colocam a Síria em estado crítico”, pode ler-se no comunicado.
A ONG sublinha que, caso deixe de ser assegurado o acesso à ajuda humanitária no norte da Síria, “deixa de haver abastecimento de materiais médicos”, particularmente importantes para a população do noroeste daquele país, “que inclui 2,8 milhões de deslocados internos a viver em campos ou assentamentos informais, sem cuidados de saúde adequados”.
Além disso, o abastecimento alimentar “apenas será suficiente até setembro de 2022, deixando, a partir daí, um milhão de pessoas sem ajuda alimentar no noroeste da Síria”. A não renovação da resolução significará ainda que “deixam de existir operações da ONG”, entre as quais a própria Médicos do Mundo, alerta a instituição.
Está em causa a renovação da Resolução 2165 do Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU), adotada em 2014, que inicialmente permitiu quatro passagens fronteiriças, as quais foram reduzidas a apenas uma em 2020 (a passagem de Bab al-Hawa, hoje a única alternativa). Esta travessia faz a ligação entre a província de Idlib e a Turquia e permite a entrega de ajuda humanitária no noroeste da Síria.
A MdM considera que “o encerramento e a impossibilidade da passagem das fronteiras violam os princípios humanitários e o direito humanitário internacional”. Também a Amnisitia Internacional avisou já na semana passada que o encerramento do último corredor de ajuda humanitária no noroeste da Síria pode “revelar-se uma catástrofe humanitária para milhões de pessoas” [Ver 7MARGENS].