
Desde 2009 que a Oikos tem representação permanente em Cabo Delgado. “Seria impossível não responder à emergência e crise humanitária no Norte de Moçambique.” Foto © Oikos
Estando a tardar uma solução política para a situação em Cabo Delgado, como constata a Oikos, torna-se ainda mais importante o amplo trabalho humanitário na província moçambicana. O 7MARGENS tem escutado instituições e organizações não governamentais que estão no terreno para saber como é que elas vêem o que se está a passar, que trabalho desenvolvem e o que podem os portugueses fazer para ajudar os moçambicanos desta zona.
Depois do padre Jorge Vilaça, do Centro Missionário Arquidiocesano de Braga; de Catarina Martins Bettencourt, da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre; de Carlos Almeida, coordenador nacional da Helpo; e de Abudo Gafuro, presidente da Associação Kuendeleya; ouvimos Marisa de Freitas David, coordenadora de comunicação da Oikos – Cooperação e Desenvolvimento.
Como vê a Oikos a situação em Cabo Delgado?
A Oikos tem consciência que este problema requer uma solução política que está a tardar. Enquanto essa solução não for encontrada, que permita que as pessoas se sintam em segurança nas suas casas, as pessoas procurarão essa segurança fora das suas comunidades. Mesmo que a procura dessa segurança represente, igualmente, um risco pela ausência de estruturas para receber, acomodar e assistir estas pessoas condignamente.
Moçambique é país do coração da Oikos. Além de tudo o que liga Moçambique a Portugal, este foi um dos primeiros países onde a Oikos estendeu a sua atividade internacional, trabalhando no combate à fome, redução da pobreza e melhoria da vida de milhões de pessoas no país há mais de 30 anos.
Desde 2009 que temos representação permanente em Cabo Delgado, Montepuez. Seria impossível não responder à emergência e crise humanitária no Norte de Moçambique, que está perto de atingir as 800 mil pessoas. Numa primeira instância, estamos a integrar pessoas deslocadas nas comunidades onde trabalhamos na área da segurança alimentar e a coordenar com as Nações Unidas e parceiros dos clusters de ajuda humanitária para contribuir na resposta de emergência.

Que ações está a OIKOS a empreender para ajudar as vítimas?
O que estamos já a fazer:
- A Oikos está a apoiar a integração de pessoas que chegam à procura de abrigo e proteção em Famílias de Acolhimento nas comunidades onde trabalhamos na área da segurança alimentar.
- Esta é uma zona de insegurança alimentar aguda e a maioria das famílias muito pobres esgotou as suas reservas de alimentos. Nestes lares, onde já faltava principalmente comida, as famílias tentam alimentar 3 a 4 vezes mais pessoas dentro do seu lar.
- Para fugir aos ataques no Norte de Moçambique, as pessoas chegam a andar mais de 450km e a ficar uma semana no mato sem água potável ou alimentação até encontrarem uma zona de abrigo segura. Com muita proximidade e trabalho conjunto da Oikos com as autoridades locais, estamos a apoiar as pessoas que chegam a encontrarem familiares na região. Já proporcionámos centenas de reencontros em 5 distritos diferentes: Montepuez, Chiure, Ancuabe, Namuno e Balama. Este encontro não só é fundamental ao nível do suporte emocional como as pessoas podem assim ser acolhidas em família, evitando os centros de acolhimento temporários com carências ainda maiores.
- Suporte a mulheres. Fruto de um trabalho longo da Oikos com pequenos produtores locais, conseguimos apoio para integração em comunidades rurais de mulheres com entrega de bicicletas, roupa e telemóveis para contacto com família. As bicicletas estão a ser um importante meio de suporte aos centros de acolhimento. Foram ainda entregues baldes com torneira para água potável para utilização de cerca de 2600 pessoas.

Próximos passos para os quais estamos a reunir apoios institucionais e individuais
- Apoio aos centros de acolhimento onde falta de tudo para suprir as necessidades básicas: alimentação, higiene (ainda mais no contexto da covid) e abrigo de primeira necessidade como lonas e esteiras.
- Apoio continuado às famílias de acolhimento, que evitam grandes concentrações no centro e proporcionam melhores condições de vida e reinserção das pessoas deslocadas, muitas vezes da sua própria família chegadas em fuga. Estas famílias já são por si muito pobres e com graves carências. Assim, é urgente o apoio com cabazes de alimentação de reforço, conjuntos de higiene e limpeza e ainda conjuntos para família que asseguram que a Oikos possa distribuir materiais essenciais na proteção e abrigo de uma família em primeira instância como cobertores, esteiras de dormir de fibra natural e utensílios de cozinha.
Como podem os portugueses ajudar?
A melhor forma de poder ajudar localmente a situação em Moçambique é fazer um donativo para uma organização que esteja no terreno e seja da sua confiança.
Bem sabemos que, à distância, muitos de nós gostaríamos de poder juntar roupas, comida, produtos de higiene. Mas os custos de transporte e logística são gigantescos: toda a organização de recolha, organização e separação de bens e quantidades. Agora pense em todo esse tempo, energia e dinheiro aplicados diretamente no local – mais uma vez, por uma Organização em que confie e com provas dadas do seu trabalho.
Os produtos e bens não só têm um custo totalmente diferente como estamos ao mesmo tempo a apoiar e a estimular a economia local! E estamos a cobrir as necessidades exatas das pessoas, como as lonas corretas para abrigo, as esteiras de chão, os baldes com torneira dispensadores de água potável, entre muitos outros.
É esta a forma de intervenção que a Oikos acredita. O nosso apoio em emergência é suportado nas necessidades locais exatas e seguindo os padrões recomendados pelos parceiros de Ajuda Internacional e Autoridades Locais, com total adequação ao tipo de bens alimentares e não alimentares a distribuir.
O apoio ao trabalho de emergência da Oikos em Moçambique pode ser concedido acedendo a https://www.oikos.pt/donate.