
Não há tempo para esperar, diz o cartaz e alertam relatórios agora divulgados. Foto: Direitos reservados.
Quase 40 por cento dos solos do planeta estão degradados, em 2021 a desflorestação atingiu uma área equivalente a duas vezes e meia a superfície de Portugal e a prolongarem-se as emissões de gases com efeito de estufa em 300 anos terão desaparecido um terço de todos os animais marinhos. Três diferentes estudos publicados a 28 de abril chamam a atenção para a insustentabilidade do Planeta. Mas todos incluem propostas para evitar o desastre.
Propostas que são feitas com os olhos postos na próxima Conferência das Partes da Convenção para Combater a Desertificação (a COP15), que vai decorrer em Abidjan, na Costa do Marfim, de 9 a 20 de maio sob o lema “Terra. Vida. Herança: da escassez à prosperidade”, com o objetivo de” incitar à ação governantes e outros responsáveis para garantir que a terra, o salva-vidas deste planeta, continue a beneficiar as gerações presentes e futuras”.
O relatório Global Land Outlook, apresentado pela Convenção das Nações Unidas para Combater a Desertificação, aponta para que se nada de muito efetivo for feito no curto prazo assistiremos à degradação de novos 16 milhões de km2 (uma área equivalente à da América do Sul) até 2050. “Mas ainda não é tarde demais para começar a inverter a situação”, escreve o Público de 28 de abril, citando o relatório: “Se os países se empenharem no restauro de 50 milhões de hectares de solos nas próximas décadas, poderemos esperar um aumento nas colheitas entre 5% e 10% nos países desenvolvidos, os solos restaurados poderão armazenar mais 17 giga toneladas de carbono durante os próximos 35 anos, e a perda de biodiversidade vai desacelerar – calcula-se que se possam evitar 11% das extinções” de espécies.
A degradação dos solos diminui a área disponível para agricultura, torna esta muito menos produtiva e reduz a fixação de gases com efeito de estufa. As melhores medidas para a combater passam pela proteção da biodiversidade, a promoção da agricultura sustentável e pelo controlo das alterações climáticas.
Incêndios e desflorestação
A Terra perdeu no ano passado cerca de 254 mil km2 (cerca de duas vezes e meia a área de Portugal) de florestas, revela um estudo da Universidade de Maryland e do Global Forest Watch divulgado a 28 de abril.
Baseada na observação de imagens de satélite, a recolha de dados mostra que a maior contribuição para este desflorestamento teve origem nos incêndios sem precedentes que assolaram a Rússia naquele ano, queimando vastas áreas de floresta, libertando enormes quantidades de gases de efeito estufa na atmosfera e que fizeram chegar imensas nuvens de fumo até ao Pólo Norte.
Aqueles incêndios destruíram áreas florestais numa extensão calculada em 54 mil km2, mas os fogos florestais tiveram também enormes impactos no Canada (16 mil km2), Estados Unidos da América (8,6 mil) e Brasil (6 mil km2). O Brasil continua, contudo, como o recordista da desflorestação pelos madeireiros, ou para conquista de novos terrenos agrícolas, tendo destruído mais 24 mil km2 de área verde, seguido pela República Democrática do Congo (12 mil), os EUA (11,9 mil) e a Rússia (11,6).
De acordo com o Washington Post de 28 de abril, o relatório aponta alguns aspetos otimistas como o facto da desflorestação total ter sido no ano passado inferior em dois pontos percentuais relativamente a 2021. Por outro lado, muitas das áreas que desapareceram em 2021, como as florestas boreais dominadas por abetos e pinheiros resistentes que foram vítimas de incêndios florestais no Canadá, Rússia e Estados Unidos, devem voltar a crescer ao longo do tempo.
Se as emissões de gases de efeito estufa da humanidade continuarem a aumentar, de acordo com um novo estudo divulgado na quinta-feira, cerca de um terço de todos os animais marinhos podem desaparecer em 300 anos.
Também a 28 de abril, a revista Science publicou um resumo de um estudo prospetivo que revela uma potencial extinção em massa da vida nos oceanos com o desaparecimento de cerca de um terço de todos os animais marinhos em menos de 300 anos. Para tal basta que as emissões de gases de efeito estufa continuem a aumentar. Os cientistas lembram que os oceanos absorvem um terço do carbono e 90 por cento do excesso de calor criado pela atividade humana, mas a sua extensão e as suas enormes profundidades não permitiram até agora medir com maior precisão os efeitos das emissões num leque suficientemente grande de animais subaquáticos.