
Se Deus nos deu mundo/foi para mostrar que um país é pouco,/que uma cidade é grão de areia/a escorregar nas mãos dos homens/agigantados na distância.” Foto © Snapwire/Pexels.
Silenciei a euforia do gesto
após a ingénua impulsividade
no embalo cego da confiança
das falsas palavras, e parti.
Parti tão repentinamente…
e quão repentinamente cheguei?!
Descansei o meu brilho
na casa torta
e fechei portas à cidade,
hoje sou jardim de primavera
murado em grades de inverno,
sorriso trancado em lábios caídos.
Se Deus nos deu mundo
foi para mostrar que um país é pouco,
que uma cidade é grão de areia
a escorregar nas mãos dos homens
agigantados na distância.
Pobre de quem se apequena na inércia
e paralisa na ilusão da superioridade;
quem fecha portas ao vindouro
por não ter coragem de voar
como voa quem chega.
Cheguei, como chego sempre
a qualquer lugar que seja mundo;
Parti, como parto sempre
dos lugares em que não caibo.
E voei…
Ana Sofia Brito é performer e artista de rua por opção, embora também mantenha a arte de palco; frequentou o Chapitô e estudou teatro físico na Moveo, em Barcelona.