
Uma cruz em Gujarat, na Índia. Foto © Traveler 1116
A rejeição pelo Supremo Tribunal indiano de uma petição exigindo a criação de um observatório para monitorar as atividades dos missionários cristãos foi classificada como “louvável” pelo padre Babu Joseph, ex-porta-voz da Conferência dos Bispos Católicos da Índia, em entrevista ao Crux publicada no dia 29 de março, a propósito da decisão do tribunal tomada na sexta-feira anterior.
A petição tinha sido apresentada pela organização prosélita Hindu Dharma Parishad (HDP), alegando que “elementos antissociais e antinacionais” estavam a “converter à força pessoas do hinduísmo para outras religiões, principalmente o cristianismo” e que para “fortalecer a unidade, a soberania e a estabilidade da Índia” se tornava necessário monitorizar a atividade dos missionários cristãos. O Supremo Tribunal acusou o HDP de “estar a perturbar a harmonia com este tipo de petições” e rejeitou o pedido.
Grupos nacionalistas hindus têm vindo a acusar cada vez com maior frequência missionários cristãos de “ilegalmente” seduzirem e converterem hindus pobres e analfabetos ao cristianismo. Tais grupos fundamentalistas defendem que as instituições de caridade cristãs – as igrejas têm enorme presença nos setores da educação, saúde e dos serviços sócio-caritativos – são usadas principalmente para converterem pessoas ao cristianismo.
“A petição apresentada pelo HDP manifesta a sua má-fé e a vontade de atingir a comunidade cristã sob o pretexto da conversão religiosa”, disse o padre Babu Joseph ao Crux, adiantando que “os missionários cristãos fazem um imenso bem aos indianos, sobretudo aos empurrados para as margens da sociedade” e desafiou o HDP a fazer o mesmo: “Infelizmente uma vida digna ainda é um sonho distante para muitos dos nossos irmãos e irmãs no nosso país. Isto tem de mudar e organizações como o HDP deveriam trabalhar para aumentar a consciência social de todos e promover a igualdade humana”.
O HDP tem acentuado as suas ações fundamentalistas desde que em 2015 o partido Bharatiya Janata (BJP) do primeiro-ministro Narendra Modi assumiu o poder com uma agenda nacionalista hindu.
Católicos recorrem para o Supremo
Entretanto, para o Supremo Tribunal interpuseram recurso duas dioceses católicas do Estado de Kerala, no sul da Índia, contra uma ordem do Supremo Tribunal daquele Estado que lhes retirou a possibilidade de comprar e vender propriedades, a menos que estas estivessem diretamente relacionadas com assuntos espirituais. Em causa estão, uma vez mais, as obras sócio-caritativas da Igreja Católica que oferecem aos indianos mais pobres os serviços que o sector público não lhes dá e a que o sector privado não lhes permite aceder.
O Supremo Tribunal do Estado de Kerala decretou, em agosto de 2021, que os bispos católicos, apesar dos seus poderes canónicos, não tinham poderes para alienar bens fundiários de suas dioceses porque os seus “poderes limitam-se aos assuntos religiosos e espirituais”.
Na sua argumentação – explicada à agência UCA News pelos representantes das dioceses – os católicos defendem que esta ordem judicial não tem fundamento por partir do princípio de que os bispos diocesanos possuem propriedades da Igreja em nome individual, tal como outros indivíduos possuem propriedades e as transacionam com querem com o objetivo de ganhar dinheiro. Mas as propriedades entregues à Igreja não são propriedade dos bispos locais, nem estes procuram realizar lucros para si quando as vendem ou trocam por razões pastorais, incluindo o objetivo de melhorar a assistência à população mais pobre, defende o recurso enviado ao Supremo Tribunal indiano.
Cerca de 80 por cento dos 1.350 milhões de habitantes da Índia são hindus, país em que os cristãos representam apenas 2,3 por cento da população.