
A pequena igreja românica de Taizé, onde os irmãos começaram por rezar Foto © Paulo Bateira, cedida pelo autor.
20 de agosto de 1940, sudeste de França, a oito quilómetros da antiga abadia de Cluny, na Borgonha. Roger Schutz, um jovem pastor calvinista suíço de 25 anos, chega pela primeira vez à pequena aldeia de Taizé. Pouco depois, começa a acolher pessoas necessitadas e em dificuldade.
Vigiado pelas forças nazis alemãs, abandonou Taizé, onde voltaria tempo depois, já com alguns companheiros, dando origem à Comunidade de Taizé, procurando viver o espírito de reconciliação, inclusive entre cristãos. Três décadas depois, esse objectivo seria concretizado de forma mais intensa, com a integração do primeiro membro da comunidade oriundo da tradição católica.
Oitenta anos depois, que nesta quinta-feira, 20, se completam, a comunidade continua a reunir monges católicos e protestantes, provenientes de cerca de trinta países do mundo, concretizando o sonho de seu fundador: ser “uma parábola de comunhão, fermento de reconciliação na família humana”, como recorda o Vatican News.
O irmão Roger escrevia, recordando esses primeiros tempos: “Penso que, desde a minha juventude nunca perdi a intuição de que uma vida em comunidade pode ser um sinal de que Deus é amor; só amor. Pouco a pouco crescia em mim a convicção de que era essencial criar uma comunidade de homens decididos a dar toda a sua vida, e que procurassem sempre compreender-se mutuamente e reconciliar-se: uma comunidade onde a bondade do coração e a simplicidade estivessem no centro de tudo.”

Igreja da Reconciliação, Taizé, durante uma das orações depois da reabertura das igrejas: o acolhimento foi reaberto, mas mantêm-se restrições ao número de jovens que podem estar na aldeia. Foto © Taizé.
A propósito dos 80 anos da chegada do irmão Roger, Taizé promove, entre os próximos dias 28 a 30 de Agosto, um encontro digital, sobre o tema “Sempre em caminho, nunca desenraizado”.
O irmão Charles-Eugène, um dos primeiros companheiros do irmão Roger, explicou, também ao Vatican News, como será o encontro: além da oração comum, “um momento essencial” da vida de Taizé e dos encontros dos jovens, haverá reflexões bíblicas e debate sobre vários temas, bem como oportunidade de fazer perguntas e de participar num diálogo com um dos irmãos da comunidade. Pequenas conferências e encontros de grupos, também virtuais, bem como uma intervenção do irmão Aloïs, actual prior da comunidade, integram também o programa da iniciativa.
Esta será mais uma forma de contornar a situação anormal criada pela pandemia também na vida do que se passa em Taizé. Com menos jovens, a comunidade ficou também com um problema económico entre mãos, pois os irmãos vivem do seu trabalho, do que produzem e vendem, recorda Charles-Eugène. Na página digital de Taizé, é possível, no entanto, aceder a livros, discos, esmaltes e outros matérias, fruto do trabalho dos irmãos.
15 anos da morte do irmão Roger: “antes de tudo um homem de comunhão”

Imagem da transmissão via Facebook, da oração de um dos grupos de irmãos em Taizé, no domingo, 22 de Março, durante a quarentena: há orações que continuam a ser transmitidas digitalmente ou em áudio.
Apesar de o acolhimento ter sido reaberto no Pentecostes (final de Maio), “já era um pouco tarde para os jovens se organizarem” e irem à aldeia da Borgonha, “por isso são menos numerosos”. De qualquer forma, as restrições com a distância física permitem que estejam em Taizé apenas 500-600 jovens semanalmente, em vez dos três a quatro mil que seria normal. Na página da comunidade na internet, é possível acompanhar as orações dos sábados á noite ou, diariamente, através de áudio.
Também por causa da pandemia a comunidade, em conjunto com os responsáveis das diferentes igrejas cristãs de Turim, decidiu adiar por um ano o encontro europeu previsto para o final de 2020. “Mas faremos um encontro europeu em Taizé, obviamente com menos jovens, e conectados online com todos os jovens de toda a Europa que queiram participar”, promete o irmão Charles-Eugène. “Depois, no final, quando os jovens partirem de Taizé para o seu país, um ou dois irmãos nossos irão com eles rezar em cada país, criando assim um espírito de unidade, apesar da impossibilidade de estarmos todos juntos.”
No passado domingo, 16 de Agosto, a comunidade evocou os 15 anos da morte do irmão Roger, vítima de uma mulher perturbada que, em 2005, o matou durante a oração da noite. Na ocasião, o irmão Aloïs fez uma oração de acção de graças pela vida do irmão Roger, após o que foi colocado, no coro da igreja, “um ícone que o irmão Roger tanto amou, que ele chamava de ícone da amizade”: um ícone copta, do Egipto, que representa Cristo caminhando com um amigo. “O irmão Roger via neste ícone o facto de que Jesus acompanha cada um de nós como um amigo. Um ícone que mostra um encontro, um caminho comum com Jesus de muita proximidade”, recorda Charles Eugène.
“O irmão Roger foi antes de tudo um homem de comunhão, um homem que desejou criar a paz e a reconciliação ao seu redor, mais com a própria vida do que com muitas palavras, e creio que continuamos neste caminho, gostaríamos de continuar neste caminho”, acrescenta.
Nos últimos anos, Charles-Eugène diz que houve um tema que se tornou cada vez mais importante nos encontros dos jovens e nos diálogos que se fazem na aldeia: “O da ecologia, porque os jovens de hoje estão muito mais sensíveis do que antes à urgência das mudanças climáticas, portanto eles estão muito mais preocupados e procuramos aprofundar esta questão, entre outras que tratamos com eles.” A comunidade fez mesmo uma releitura da encíclica do Papa, para ficar mais atenta às “questões que o Papa levanta”, tendo organizado uma pequena exposição em redor da Igreja da Reconciliação, “para ajudar os jovens e adultos que passam por Taizé a reflectirem” sobre a urgência destas questões.