
O irmão Aloïs (2º à esqª), prior de Taizé, com o imã Chemouini Chemsseddine, da mesquita de Massy (Paris-sud), no encontro de amizade islamo-cristão, em Taizé. Foto © Taizé-Communauté.
“Era importante mostrar que a amizade entre muçulmanos e cristãos não só era possível, mas que já estava a ser vivida em muitos lugares do mundo.” Foi com esta convicção, definida pelo irmão Jean-Jacques, de Taizé, que a comunidade monástica ecuménica da Borgonha (França) organizou no último fim-de-semana o quarto encontro de amizade entre jovens cristãos e muçulmanos, com a participação de líderes de ambas as religiões, marcando deste modo o recomeço dos encontros internacionais em Taizé.
A iniciativa foi a mais importante depois de mais de um ano com as actividades normais praticamente interrompidas por causa da pandemia. Para este Verão, os encontros semanais podem voltar a ter várias centenas de pessoas, sempre respeitando regras sanitárias.
Os jovens poderão participar nas orações comunitárias, partilha em pequenos grupos, ateliês de reflexão e tarefas práticas, e haverá ainda um encontro especial de 22 a 29 de Agosto, dedicado aos jovens adultos dos 18 aos 35 anos, no qual estará em debate o tema da mensagem do irmão Aloïs, prior de Taizé, para este ano: “Manter a esperança em tempo propício e fora dele.”
No encontro de amizade islamo-cristão do fim-de-semana passado, participaram 120 pessoas, 90 das quais oriundas de França (e aos quais se juntaram mais 35 pessoas nas duas tardes de sexta e sábado, para duas oficinas sobre partilha de experiências de fraternidade e solidariedade humana, e sobre ecologia e salvaguarda da criação).
“Este método de criar antes de mais conhecimento mútuo e proximidade entre as pessoas de diferentes países, confissões, continentes, é um método em que Taizé aposta desde o pós-guerra”, diz o irmão Jean-Jacques, em declarações ao 7MARGENS.
O mesmo método esteve na origem da Peregrinação de Confiança sobre a Terra que anima vários encontros um pouco por todo o mundo desde 1980. “Foi assim entre alemães, franceses e ingleses nos anos 1950-60, com os jovens do Leste europeu nos anos 1980-90, com os jovens do Norte e da Ásia, África e América Latina nas últimas décadas e agora lança-se esta ponte com os jovens muçulmanos. Tudo em nome do sagrado dever de hospitalidade que partilhamos”, acrescenta o irmão da comunidade, um dos responsáveis pelo encontro de 15 a 18 de Julho. Que garante ainda que “a questão do diálogo inter-religioso continuará presente em Taizé”.
Dos participantes, meia centena eram muçulmanos e 70 cristãos. Menos do que os 250 que participaram no encontro anterior, há dois anos, e que eram oriundos de 14 países diferentes, embora com maior percentagem de cristãos. Também devido às restrições de circulação por causa da pandemia, desta vez não havia jovens do Médio Oriente, ao contrário do que aconteceu há dois anos, mas havia muçulmanos a viver em diferentes países da Europa.
Tal como nos encontros anteriores, os jovens podiam participar nas orações uns dos outros: cristãos na oração muçulmana e vice-versa. “Foi uma bela descoberta para muitos”, diz o irmão de Taizé. “Todos os muçulmanos participaram voluntariamente nas orações da comunidade de Taizé”, diz o irmão Jean-Jacques. Nas orações dos muçulmanos, tendo em conta que estas se realizavam em salas mais pequenas, havia cerca de trinta jovens não muçulmanos que participavam de cada vez.
Na oração de sexta-feira à hora de almoço, a principal para os muçulmanos, os não-muçulmanos que participaram ouviram também o comentário do imã a várias passagens do Alcorão. Antes disso, explica ainda o irmão de Taizé, o imã teve o cuidado de saudar e acolher primeiro os não-muçulmanos presentes na sala de oração e de explicar como se conduz uma oração muçulmana, o significado das palavras pronunciadas em árabe durante a oração e o significado de vários elementos da oração – por exemplo, por que razão nos voltamos todos para a direcção de Meca.
“Ouvi-los e ver o que eles realmente vivem e acreditam”

Estes encontros não pretendem ter conclusões, diz ainda o irmão de Taizé, “para além do facto de que todos são convidados a descobrir iniciativas para se encontrarem com pessoas”. E acrescenta: “Esperamos tantas coisas dos muçulmanos, que é importante ouvi-los e ver o que eles realmente vivem e acreditam. Depois, como sempre em Taizé, o importante é a amizade que se cria em poucos dias entre pessoas de culturas diferentes e, portanto, também neste fim-de-semana, entre religiões diferentes.”
Nos dois últimos encontros, a declaração de Abu Dhabi foi um mote para várias referências; no fim-de-semana passado, também a encíclica Fratelli tutti, do Papa Francisco, foi uma referência presente. Como aplicar a ideia da fraternidade humana presente em ambos os documentos, como concretizar a hospitalidade mútua – “o estrangeiro pode ser visto como um perigo ou uma pessoa a ser acolhida” – ou a reflexão sobre a violência – que em diferentes momentos foi usada por diferentes religiões em nome de Deus – para entender a importância de promover a paz.
Para este Verão, a comunidade de Taizé prevê transmitir uma das oficinas de temáticas dos sábados à tarde através da internet (a lista dos intervenientes está disponível na página de Taizé na internet).
A oração da noite da comunidade é também transmitida em directo diariamente em áudio na mesma página e a oração da noite de sábado em vídeo, no canal de Taizé no YouTube.
Por causa da pandemia, e para poderem sobreviver, os irmãos desenvolveram novos produtos, como bolachas e chás de ervas caseiras, que estão à venda em Taizé e no sítio de vendas virtual.