
O teólogo e escritor Andrés Torres Queiruga. Foto: Direitos reservados
Com um convite para participar numas jornadas teológicas em setembro próximo, o arcebispo de Santiago de Compostela veio reabilitar o teólogo galego Andrés Torres Queiruga, condenado pela Conferência Episcopal Espanhola há cerca de 11 anos.
O ambiente em torno desta figura cimeira da teologia católica em Espanha já se vinha a desanuviar desde que o Papa Francisco iniciou o seu pontificado, mas faltava um sinal formal ou simbólico da parte do episcopado.
Segundo informa o jornal espanhol Religion Digital, o novo arcebispo da diocese de Santiago de Compostela aproveitou a realização das XXII Jornadas de Teologia, organizadas pelo Instituto Teológico Compostelano (ITC), e sugeriu aos organizadores que fosse dirigido um convite a Torres Queiruga.
Intitulada “Trabalhar juntos para um mundo melhor: Ciência e Fé em debate”, a conferência ocorre já nos dias 6 e 7 de setembro, no auditório do ITC, abrindo com uma intervenção do arcebispo de Santiago, Francisco Prieto, ele próprio um teólogo especializado em Bíblia.
Torres Queiruga apresenta a primeira conferência “Repensar a relação entre teologia e ciência hoje”, e participará numa mesa-redonda com a professora e religiosa Carmen Díaz.
Recorde-se que este teólogo e académico galego – docente da Universidade de Santiago de Compostela e professor emérito do próprio Instituto que agora o convida – foi um dos últimos de uma série de teólogos condenados e penalizados e marginalizados durante os pontificados de João Paulo II e Bento XVI.
Na verdade, em 2012, a Comissão para a Doutrina da Fé do episcopado espanhol tornou pública uma notificação que, sem chegar a considerar Torres Queiruga herege, pretendia arrasar algumas das suas obras, acusando-o de várias “distorções” da doutrina da Igreja sobre a fé. Essas distorções diziam respeito à ressurreição de Jesus Cristo enquanto “acontecimento histórico e transcendente”, à “indedutibilidade da Revelação” e à “unicidade e universalidade da mediação salvífica de Cristo e da Igreja”.
O visado, que não chegou a ser ouvido por quem o condenou, mostrou-se, em declarações publicadas na altura, “triste, desconcertado e escandalizado por um procedimento eclesialmente irregular”.
“Não se trata apenas de uma condenação injusta, mas sobretudo teologicamente infundada e desviante”, considerou, então, Torres Queiruga. “Todo o meu trabalho teológico foi sempre presidido por um cuidado extremo em preservar a fé da Igreja, tentando repensá-la num espírito construtivo, para a tornar bem fundamentada, compreensível e vivível para os homens e mulheres de hoje”, acrescentou o teólogo.
Queiruga viu-lhe vedada a atividade letiva, as conferências que dependessem de anuência episcopal, nomeadamente em Espanha e na América Latina. Mas ao longo dos últimos anos, esse clima de exclusão foi-se alterando, até chegar ao gesto que o recém-empossado arcebispo de Santiago de Compostela acaba de assumir.