
As Testemunhas de Jeová (na foto, uma ação de divulgação em Lisboa) acusam a Associação Espanhola de Vítimas das Testemunhas de Jeová de manchar a honra e reputação da comunidade. Foto: Direitos reservados.
Está a decorrer no Tribunal de 1ª Instância de Torrejón de Ardoz (Madrid), um julgamento inédito na história de Espanha: pela primeira vez, uma comunidade religiosa interpõe uma ação contra um grupo de antigos membros. Trata-se das Testemunhas de Jeová (TJ), que acusam a Associação Espanhola de Vítimas das Testemunhas de Jeová (AEVTJ) de manchar a honra e reputação da comunidade. A associação, por seu lado, reage com a divulgação de novos testemunhos de ex-membros que afirmam ter sido vítimas de abusos sexuais e outros, enquanto pertenciam ao que agora chamam de “seita”.
Com esta ação, as Testemunhas de Jeová pretendem, entre as coisas, que a AEVTJ retire o termo “vítimas” da sua denominação, considerando que a mesma é injusta e mancha a sua honra. Querem ainda que a associação deixe de poder fazer publicações contra as Testemunhas de Jeová na Internet e que retifique publicamente as informações que tem vindo a veicular, solicitando ainda uma compensação financeira, que não foi quantificada.
A associação visa “apoiar todos aqueles que se considerem de algum modo vítimas da organização Testemunhas de Jeová”, prestando-lhes assessoria legal e orientação psicológica, e também alertar para o “comportamento sectário” da mesma. Nesse sentido, tem divulgado alguns testemunhos de ex-membros e exposto casos de marginalização, transtornos mentais e até suicídios decorrentes de “práticas coercivas” dentro da comunidade.
O processo judicial será composto por quatro sessões, tendo a segunda decorrido esta terça-feira, 22 de novembro, dia em que que a edição impressa do jornal El Mundo publicou 35 testemunhos de dissidentes das Testemunhas de Jeová em Espanha, 12 dos quais prestarão depoimentos durante o julgamento. “Eles matam-te em vida”, “têm tribunais parajudiciais”, ou “fui violada durante um ano quando era criança” são algumas das citações destacadas na primeira página do diário.
“São difamações que geram animosidade contra um culto minoritário que não faz mal a ninguém”, afirmou Joan Comas, porta-voz das Testemunhas de Jeová, ao jornal El Mundo (ligação exclusiva a assinantes). “Sofremos vandalismo e ataques de ódio nos salões do nosso reino”, os lugares de oração das TJ. “Respeitamos a liberdade de expressão, mas há um limite para tudo”.
As duas próximas sessões estão agendadas para dias 1 e 15 de dezembro.