
O bispo Rolando Álvarez, aquando da sua primeira detenção, em agosto de 2022. Foto © Infobae.
O Tribunal Interamericano de Direitos Humanos (CIDH, na sigla em espanhol) exige que o governo da Nicarágua “proceda imediatamente à libertação” do bispo de de Matagalpa (Nicarágua), Rolando José Álvarez Lagos, condenado em fevereiro a 26 anos e quatro meses de prisão “por traição à pátria”, depois de ter recusado o exílio nos Estados Unidos da América juntamente com outros 222 presos políticos expulsos do país.
Numa resolução datada de 27 de junho, o CIDH – com sede em San José, na Costa Rica – pede ainda que o governo liderado por Daniel Ortega informe sobre a situação do bispo até à próxima sexta-feira, 7 de julho, e que, enquanto se realizam “os trâmites administrativos necessários para a imediata libertação” do bispo, seja garantido a Álvarez “tratamento digno” com acesso a serviços de saúde, alimentação adequada e permitido o contacto com parentes e advogados.
A situação do bispo de Matagalpa e de outros membros da Igreja Católica na Nicarágua tinha já sido, no ano passado, objeto de análise no Parlamento Europeu, que condenou “energicamente” a “repressão” exercida pelo regime totalitário de Ortega e pediu uma investigação formal por parte da ONU ao Presidente por crimes contra a humanidade.
Já em março deste ano, a ONU decidiu enviar um grupo de três especialistas para investigar a situação dos direitos humanos naquele país. Proposta por nove governos – Equador, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, Paraguai e Peru – a resolução contou com o patrocínio de cerca de meia centena de estados. Os investigadores têm um mandato inicial de um ano, devendo “identificar os responsáveis” por abusos e violações de direitos humanos [ver 7MARGENS].
No passado mês de maio, a escalada repressiva contra a Igreja católica e outras confissões religiosas na Nicarágua subiu de nível e de gravidade: o poder político congelou as contas bancárias das instituições católicas do país e acusou a Igreja de branqueamento de capitais.
Já nesta segunda-feira, 3 de julho, a revista Vida Nueva avançava que mais quatro religiosas foram forçadas a abandonar a Nicarágua, depois de o governo não lhes ter renovado os vistos de residência.
As irmãs, pertencentes à Fraternidade dos Pobres de Jesus Cristo, têm origem brasileira e trabalhavam junto da população carenciada da cidade de Léon, na costa oeste do país. “A ditadura expulsou-as como se fossem delinquentes. Hoje a cidade de Léon está de luto. Faz falta ver as irmãzinhas que tanto bem nos faziam. Ajudavam as pessoas na rua: abandonados, toxicodependentes e alcoólicos; liam-lhes a Bíblia e alimentavam-nos”, escreveu Martha Molina, uma advogada nicaraguense no exílio, na sua conta de Twitter.
De acordo com os meios de comunicação nicaraguenses, terão já sido 84 os religiosos (padres e freiras) forçados a deixar o país desde 2018.