pastora protestante Hao Zhiwei, foto c International Christian Concern

A pastora protestante Hao Zhiwei com o marido, que faleceu em 2018. Foto © International Christian Concern.

 

O recurso contra a decisão que condenou a pastora protestante Hao Zhiwei a oito anos de prisão por “fraude”, na China, foi rejeitado este mês, anunciou o blogue Bitter Winter no dia 27 de dezembro. Zhiwei foi condenada a 11 de fevereiro deste ano pelo Tribunal Distrital de Echeng da cidade de Ezhou, província de Hubei, por ter recebido donativos dos membros de uma comunidade religiosa que não faz parte das “cinco religiões autorizadas” pela lei chinesa.

Na República Popular da China, todas as organizações religiosas que não se integram nas cinco autorizadas são tidas como “falsas” e quem recebe donativos em seu nome é suscetível de ser acusado de cometer o crime de estelionato (fraude). A brutalidade, agora confirmada, da pena imposta a Zhiwei é significativa do grau de repressão a que as comunidades religiosas estão sujeitas naquele país.

As “cinco religiões autorizadas” são o budismo, o taoísmo, o islão, o protestantismo (obrigado a integrar a Igreja das Três Autonomias) e o catolicismo (obrigado a viver debaixo da Associação Católica Patriótica Chinesa.) O Partido Comunista Chinês nomeia os líderes de todas elas e permite-lhes operar legalmente, embora com restrições. O Vaticano tem sido muito criticado por manter desde 2018 um acordo secreto com Pequim sobre a nomeação de bispos e outras questões. Nesse acordo, renovado a 22 de outubro deste ano, o Papa Francisco reconheceu formalmente oito bispos que haviam sido nomeados pela Associação Patriótica Católica Chinesa sem serem indicados pelo Vaticano. Desde 2018, o Papa já nomeou outros seis bispos [ver 7MARGENS]. A Santa Sé e a China não têm relações diplomáticas normais há mais de 70 anos.

 

Uma pastora “com um futuro brilhante”

Sobre o percurso da pastora Hao Zhiwei, o blogue Bitter Winter (em português, Inverno Amargo) –  criado em maio de 2018 em Turim, Itália, para denunciar os atentados à liberdade religiosa e aos direitos humanos na China e que publica regularmente notícias, documentos e testemunhos sobre perseguições contra todas as religiões naquele país – lembra que ela “era considerada uma estrela em ascensão na Igreja das Três Autonomias, a organização protestante unificada controlada pelo Partido Comunista Chinês”. Após se ter formado, aos 29 anos, em Teologia no seminário daquela organização protestante, foi colocada, em 2003, como pastora na cidade de Ezhou, onde era tida como “uma grande pregadora destinada a ter um futuro brilhante”.

O seu erro foi, enquanto subia na hierarquia da Igreja das Três Autonomias, ter começado “a duvidar de que a organização estivesse realmente comprometida com o progresso do cristianismo na China”. Depois de ter percebido que a organização “pretendia apenas controlar os cristãos em nome do Partido Comunista e limitar as suas atividades”, saiu da Igreja das Três Autonomias em 2007 e criou uma igreja doméstica independente, “no que foi seguida pela grande maioria de seus paroquianos”. Em 2018, aproveitando a sua ausência para se recompor da morte do marido, as autoridades locais “ordenaram a demolição do prédio da igreja, com o pretexto deste ficar muito perto de uma fábrica da Wuhan Iron and Steel Corporation, o que era perigoso para a saúde dos fiéis, embora ninguém tivesse levantado objeções enquanto a congregação foi afiliada da Igreja das Três Autonomias”.

Logo após essa ordem, o prédio em que se encontrava a igreja “foi cercado por arame farpado”, mas, de acordo com o Bitter Winter, “os fiéis continuaram a passar pelo arame para irem à igreja” e Zhiwei foi detida a 31 de julho de 2019 sob a acusação de “inspirar a resistência”. Em agosto desse ano, a igreja foi demolida e a 6 de setembro a pastora formalmente presa.

A acusação de fraude que lhe valeu a sentença de oito anos de prisão sustentou-se no facto de a sua igreja ter recolhido o equivalente a 300 mil euros em donativos, quando a receção de doações está reservada em exclusivo às organizações religiosas pertencentes às “cinco religiões autorizadas”. Os membros da congregação fundada por Zhiwei reuniram de novo aquele montante para o entregarem à justiça quando decidiram recorrer da sentença, mas nem esse gesto convenceu os juízes do tribunal de apelação.

 

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