
Hagia Sophia. Istambul. Foto António José Paulino
O Comité do Património Mundial da UNESCO não concorda com a decisão do governo turco de transformar a igreja de Hagia Sophia, em Istambul, e o mosteiro de Chora em mesquitas. Na sua 44ª sessão, de 23 de julho de 2021, o órgão, que representa 21 países, lamentou a decisão da Turquia, apesar dos repetidos apelos para salvaguardar a condição de museu aberto a todos (no país existem 82.603 mesquitas e apenas 438 museus, 91 dos quais na cidade do Bósforo).
A preocupação deve-se à escassa garantia de uso universal dos dois locais, sujeitos à autoridade religiosa islâmica. O Comité pede ao Governo um relatório sobre a manutenção dos dois monumentos até fevereiro de 2022 para permitir uma avaliação mais aprofundada. Segundo as normas da Unesco, o reconhecimento do bem universal exige que os Estados não alterem o estatuto sobre o valor universal do bem sem diálogo prévio, o que não aconteceu. Isso pode significar a retirada do reconhecimento, com efeitos negativos na imagem do país e nas receitas relacionadas com o turismo. Em outubro de 2020, uma missão da Unesco visitou os dois monumentos.
Andrey Azoulay, diretor-geral da Unesco, disse na altura da visita que “Hagia Sophia é uma obra-prima arquitectónica e um testemunho único do encontro entre a Europa e a Ásia ao longo dos séculos”. “O seu estatuto de museu reflecte a universalidade do seu património e torna-o um poderoso símbolo de diálogo”, referiu. Já Ernesto Ottone Ramirez, subdiretor geral de Cultura, acrescentou que “é importante discutir previamente com a Unesco qualquer decisão de modificação que tenha consequências no acesso físico, na estrutura do edifício, nos bens móveis e na gestão do terreno.”