Uigures podem estar a ser vítimas de um Holocausto na China

Uma imagem divulgada nas redes sociais do governo chinês mostra centenas de uigures detidos num campo de educação política em Xinjiang. Foto: © Xinjiang Bureau of Justice, através da HRW.
O alerta foi dado por políticos e representantes de diversos grupos judaicos, na sequência da apreensão de 13 toneladas de cabelo humano no porto de Newark, EUA, que se suspeita ter sido retirado a uigures, na China: os sinais de que esta minoria étnica muçulmana está a ser alvo de perseguição são cada vez mais evidentes, num cenário que é já comparado ao Holocausto.
“A minha regra fundamental é que nada pode ser comparado com o Holocausto”, afirmou Alistair Carmichael, deputado liberal democrata do parlamento britânico, citado pelo Jewish News. “Sei, no entanto, que este relato [da apreensão de cabelo humano que terá sido retirado forçadamente a prisioneiros uigures] tem muitos ecos angustiantes para quem conhece a história desse episódio terrível”, assumiu, alertando que “os acontecimentos em Srebenica e no Ruanda nas últimas décadas devem ensinar-nos que o genocídio ainda pode acontecer e que ninguém está seguro, a menos que todos se protejam”.
Mia Hasenson-Gross, diretora da René Cassin (uma organização judaica de defesa dos direitos humanos), concorda: “O comércio de cabelos humanos retirados à força tem semelhanças arrepiantes e óbvias [com o Holocausto]. Este é mais um exemplo da terrível desumanização sistemática dos muçulmanos uigures pelo Estado chinês”.
De acordo com a responsável da René Cassin, os relatos que têm chegado à organização sobre a situação dos uigures na China incluem referências a internamentos em massa, reeducação, trabalho escravo, esterilização forçada, colheita de órgãos e outros abusos.
“O Partido Comunista Chinês está empenhado no genocídio em Xinjiang [região noroeste da China onde vivem cerca de um milhão de uigures], tentando acabar com toda uma cultura, idioma e modo de vida”, acusa Mia Hasenson-Gross, defendendo que a comunidade internacional tem de reagir. “Chegou a hora de o mundo tomar uma posição contra esta desumanidade. Não pode haver ‘negócios como sempre’ com um governo que abusa dos seus próprios cidadãos a tal escala”.
Ouvida também pelo jornal Jewish News, Edie Friedman, diretora do Conselho Judaico para a Igualdade Racial considera que os relatos “fazem soar os alarmes para aqueles que se preocupam com os direitos humanos e desperta emoções particulares no povo judeu, dadas as semelhanças nazis”. E deixa um apelo: “A comunidade internacional deve pedir uma investigação totalmente independente sobre este episódio.”
No passado dia 6 de julho, dois grupos de ativistas uigures no exílio fizeram chegar ao Tribunal Penal Internacional um conjunto de provas de genocídio e crimes contra a Humanidade cometidos na província chinesa de Xinjiang contra a minoria muçulmana do país.
Segundo o diário britânico The Guardian, os queixosos alegam que milhares de uigures foram deportados ilegalmente do Tajiquistão e do Camboja para Xinjiang, onde terão sido presos, torturados e sujeitos a medidas forçadas de controlo de natalidade.
Também no final de junho, uma investigação da agência noticiosa Associated Press (AP) denunciou a existência de “medidas draconianas” por parte das autoridades de Pequim, visando “reduzir as taxas de natalidade entre uigures e outras minorias, no âmbito de uma ampla campanha para conter a população muçulmana”.
A investigação da AP apurou que as autoridades chinesas obrigam as mulheres uigures a fazer testes de gravidez, forçam a colocação de dispositivos intra-uterinos, submetem-nas a métodos de esterilização e obrigam aquelas que engravidam a abortar.
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