
“O que vemos geralmente é que as mulheres, na Igreja, na maioria freiras, são obrigadas a suportar o peso dos abusos sexuais”, denuncia uma das religiosas. Foto: Pixabay
Tratamento igual para padres e freiras é o que acaba de exigir um fórum de religiosas, maioritariamente ligadas à Igreja Católica, numa tomada de posição sobre o caso, há duas semanas noticiado no 7MARGENS, do padre e da freira indianos que tiveram um filho, mas que viram consequências disciplinares desiguais.
“Se um padre pode continuar no ministério, porque é que a freira não há-de poder?”, perguntam. De facto, o presbítero, depois de um ano de suspensão, pôde continuar a exercer o ministério, embora em outra diocese. Já a religiosa foi pura e simplesmente instada a abandonar a congregação a que pertencia. Quanto ao bebé, foi enviado para um orfanato.
Em carta enviada ao cardeal Oswald Gracias, presidente da Conferência dos Bispos Católicos da Índia, e a outros membros da hierarquia católica, divulgada pela agência UCA News, o fórum Sisters in Solidarity [Irmãs Solidárias] considera que a Igreja tem seguido um “padrão dúplice” ao despedir a freira depois de ela ter engravidado.
Quando violam o voto de celibato, “os padres são simplesmente transferidos para outra diocese”; já quando são as freiras a enfrentar situação semelhante, “são obrigadas a deixar as suas congregações”, observa a carta de 16 de dezembro, intitulada “Apelo ao despertar por uma maior integridade”.
O caso chegou às manchetes dos média só recentemente, depois de alguns líderes leigos católicos terem exigido a demissão do padre em vez de uma mera transferência.
A carta das religiosas alerta para o facto de este caso “levantar muitas questões sobre a postura pró-vida da Igreja, a sua defesa da paternidade responsável e o valor que dá às vocações de homens e mulheres”.
“Uma mulher religiosa que se torna mãe solteira é considerada mais responsável pela sua transgressão sexual porque carrega o fardo físico da sua ação? Por que é que a sua coragem de resistir ao aborto e dar à luz não é respeitada e afirmada?” questiona o fórum.
A organização questiona igualmente as posições pró-vida dos responsáveis católicos, na sequência da entrega da criança para adoção. Apesar das suas declarações pró-vida, a Igreja “não demonstra uma preocupação genuína com os direitos da criança depois do nascimento”.
“Se o fizesse, não usaria a adoção como uma solução fácil e, em vez disso, buscaria maneiras de fornecer um círculo de apoio às religiosas que desejam criar seus bebés apesar das circunstâncias difíceis”, escreveram elas.
A este propósito, a religiosa espiritana Julie George, advogada dos direitos das mulheres e signatária da carta, declarou ao jornalista Saji Thomas, da UCA News:
“O que vemos geralmente é que as mulheres, na Igreja, na maioria freiras, são obrigadas a suportar o peso dos abusos sexuais. Mesmo em casos de sexo por consentimento mútuo, como se acredita ser o caso do padre Kandathinkara, parece haver uma duplicidade de critérios. O padrão deve ser o mesmo. Se um padre pode continuar no ministério, porque é que a freira não há-de poder?”