Um estrado de 5 milhões de pregos

| 25 Jan 2023

maquetes altar palco jmj foto clara raimundo

Desenhos do “palco altar” da JMJ, expostos em conferência de imprensa organizada pela Câmara Municipal de Lisboa. “Qualquer que seja o papel da Igreja neste assunto em concreto, os seus responsáveis em caso algum poderiam ter permitido uma solução deste valor.” Foto © Clara Raimundo/7Margens.

 

Sejamos brutos, porque é preciso, mas justos, porque devemos ser sempre justos: é preciso ser absolutamente cego, insensível, insensato e outras coisas que ultrapassam “bruto” para permitir um estrado de 5 milhões de euros (fora derrapagens, por certo) para servir de altar papal da Jornada Mundial da Juventude, cujas mais valias evangélicas alguém um dia deveria provar (terão notado que eu escrevi evangélicas, não me referia às outras mais valias, obrigadinho pela atenção).

Qualquer que seja o papel da Igreja neste assunto em concreto, os seus responsáveis em caso algum poderiam ter permitido uma solução deste valor. Assim, tornado público como foi, cada um dos euros é um prego a espetar no caixão em que os responsáveis eclesiais insistem em nos enterrar com os seus gestos suicidários.

Evidentemente que é preciso gastar dinheiro na coisa, e esta deve ser digna, ampla, bela, segura, funcional. Quanto? Não sei, mas sei que nunca poderia ascender a 5 milhões mesmo que estes sejam facilmente diluídos no contexto dos custos gerais e que este valor é imediatamente percebido como insultuoso pelas pessoas comuns que todos os dias fazem contas à sua vida quanto mais por aqueles que sofrem. É ver as caixas de comentários e os furibundos nos facebooks. A chatice é que têm razão.

Da Igreja, promotora da aventura da Jornada e sempre meio pendurada no Estado, não se ouviu um pio. Espero que os responsáveis não venham dizer que na distribuição de tarefas isto não é nada com eles, porque não poderia ser mais com eles. Parcimónia, contenção, sobriedade, simplicidade, frugalidade, termos que encontramos no que Francisco (aquele que vem a Lisboa, lembram-se?) nos diz neste tempo de abusos sobre a casa comum, parecem ausentes dos espíritos dos responsáveis.

Da autarquia de Lisboa, esse poço sem fundo conhecido pela trapalhice e incompetência cognitiva de décadas, vêm os responsáveis explicar os 5 milhões argumentando que o palco servirá futuramente para outros eventos de “promotores internacionais” (Moedas dixit), obviamente insinuando espectáculos de grande dimensão. Ora este é o pior argumento que se possa imaginar para a cidade, pois antecipa uma nova aldeia de ruído para a zona, quando Lisboa, vítima de políticas de animação forçada de décadas, do que mais precisa é de uma política de acalmia generalizada. Além disso, o palco (ao ar livre e junto à água) necessitará de manutenção e terá que ser ainda adaptado a futuras funções (ou seja, mais despesa).

A incompetência cognitiva dos autarcas e a sua incultura interiorizada não os deixa aprender. Possivelmente, os negócios também não.

E para os responsáveis da Igreja, qual é a desculpa e a explicação para o seu silêncio? Não encontram nada para nos dizer sobre o assunto?

 

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